O Spotify jamais substituirá o What.cd
“O encerramento do What.cd é a cereja estragada do bolo de bosta de 2016”, declarou um magoado usuário. Crédito: Drew de F Fawkes/Flickr

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O Spotify jamais substituirá o What.cd

“O encerramento do What.cd é a cereja estragada do bolo de bosta de 2016”, declarou um magoado usuário.

E foi assim que acabou.

O site What.cd, uma comunidade de música online que operava nas sombras da cena pirateira de torrents privados desde outubro de 2007, saiu do ar na última quinta-feira e deixou seus cerca de 150.000 membros ativos tristonhos velando o site pelas redes sociais.

"O que mais sentirei falta é a maior, mais completa e mais cuidadosamente selecionada biblioteca musical já existente", comentou um dos membros, que, como outros aqui citados, solicitou anonimato para poder falar livremente sobre o tempo que passou no site.

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Por mais que a biblioteca do What.cd batesse na casa de um milhão de "lançamentos únicos", o que fazia seus fieis retornarem nove anos de existência era a absurda variedade de música disponível a um download de BitTorrent de distância.

"Digamos que eu tinha uma paixão por Disco nigeriana", disse outro membro. "Mais especificamente os materiais gravados entre 75 e 79. Eu poderia ir até lá baixar uma coleção feita por algum usuário com lançamentos da época. Estava tudo ali, categorizado e organizado por tipo de lançamento e formato de arquivo."

A música no What.cd muitas vezes era disponibilizada em vários formatos, incluindo vários tipos de MP3 e arquivos em FLAC. "Os interesses eram vários nichos e, como estes interesses eram expressados por meio das coleções ou recomendações nos fóruns, isso era um dos grandes trunfos do site", afirma o membro fã de Disco nigeriana.

Para muitos dos membros do site com quem conversei, ter acesso a uma vasta biblioteca musical que poderia ser baixada instantânea e gratuitamente era apenas um benefício extra de fazer parte do clubinho exclusivo de entusiastas da música à base de convites – que em alguns casos exigia a uma entrevista para que se liberasse a entrada.

"O que mais vai me fazer falta é o espírito de comunidade", comentou um terceiro membro, chamado Andrew. "Esse espírito era facilitado pelo staff dedicado, muitos dos quais investiram muita mão-de-obra e esforço na manutenção do site bem além do que eu jamais poderia compreender. No final, eles possibilitavam tudo aquilo."

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"Todo mundo manjava muito, quase todos eram gente boa e prestativos", disse outro membro. "Nunca será replicado. Era, sinceramente, meu site favorito na internet."

"É um golpe cultura duro à nossa geração", comentou um quinto membro.

Para compreender a importância do What.cd em certos cantos da internet, é preciso voltar à 2007, bem antes de serviços como Spotify e Apple Music possibilitassem que o mundo ouvisse sem limites "Royals", "Hotline Bling" ou "Black Beatles" em seus smartphones ou computadores. Naquela época, enchíamos nossos iPods com música baixada no iTunes – a única fonte para música digital legal. Mas sites como o What.cd ajudavam usuários mais manjadores da internet a evitarem programas suspeitos como o LimeWire, em que arquivos de baixa qualidade e vírus estavam por todos os cantos.

"O What.cd veio antes do Spotify e praticamente era nosso Spotify – só não sabíamos como chamá-lo", comentou um sexto membro, deixando claro ainda que o que destacava o site dos outros era o esforço de sua comunidade em contextualizar a vasta biblioteca ao coletar capas, agrupar diferentes versões dos mesmos discos e ajudar outros membros a identificarem artistas semelhantes.

"Existem ainda alguns trackers privados em que usuário pode pegar novos lançamentos", disse. "Mas que de forma alguma se comparam aos metadados gerados pela inacreditável comunidade What.cd".

Este banco de dados – que de acordo com um dos administradores do site "se foi" – era "único", comentou um sétimo membro.

"O encerramento do What.cd é a cereja estragada do bolo de bosta de 2016", declarou. "Sentirei muito sua falta."

Tradução: Thiago "Índio" Silva