​A Amazon não quer acabar com balconistas, e sim fazer algo ainda maior
Pode chamar de "vigilância integrada do consumidor". Crédito: Amazon/YouTube

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Tecnologia

​A Amazon não quer acabar com balconistas, e sim fazer algo ainda maior

Pode chamar de "vigilância integrada do consumidor".

Nesta segunda-feira, a Amazon anunciou que inaugurará em 2017 um mercadinho em Seattle, nos EUA, com uma tecnologia que evitaria filas ecaixas: o "pagou, passou", uma espécie de compra ultra-rápida em que o consumidor apenas usaria seu smartphone para se comunicar com os sensores da loja. Pouco depois, o The Wall Street Journal deu a notícia de que a empresa planeja lançar dois mil estabelecimentos semelhantes pelo país de Donald Trump.

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É uma puta notícia e que rendeu muitas críticas, sobretudo entre aqueles que lamentam a possibilidade de automação do serviço de caixa. Não é uma preocupação gratuita. A Amazon provavelmente não contratará com profissionais para essa função em suas lojas, apesar de que, ao que parece, haverá pessoas responsáveis por, digamos, preencher prateleiras, como sugere um vídeo promocional.

Mas as críticas se perdem porque o que importa aqui não é a automação nem a economia com salários, e sim a criação de um sistema fechado de vigilância integrada do consumidor.

Um tanto de automação (no caso, comportamento computadorizado automático) integra o sistema de lojas Amazon Go, mas o que a empresa está fazendo está a milhas de distância de substituir o barista da sua vizinhança por uma versão mecânica do mesmo. Eis o conceito de automação com o qual estamos acostumados: substituir capital variável por capital fixo que sai mais barato no longo prazo do que alguém recebendo por hora.

Menor custo com remuneração pode ser um dos benefícios do plano da Amazon, mas não sua razão de ser, que é aproximar de vez as informações de consumidores online e offline.

O você que a Amazon online vê agora é aquele que compra um pacotaço de qualquer coisa imbecil às quatro da manhã, o você que coloca coisas caras que nunca irá comprar no carrinho e o você que um dia compra, inexplicavelmente, uma quantidade enorme de caixas de papelão – você vai se mudar, mas a Amazon não faz ideia.

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Mas o você que a Amazon não vê e deseja tão desesperadamente é aquele que compra um hambúrguer barato no almoço toda quarta-feira, o você que compra um pacote de salgadinhos à meia-noite, que compra contraceptivos na sexta e por aí vai – todas aquelas coisinhas bestas e insignificantes que no final das contas compõem nosso cotidiano.

A Amazon está sendo discreta quanto à tecnologia que será usada na loja e, por conseguinte, quanto às informações que coletarão. Uma patente descoberta pela Recode no ano passado parece confirmar a visão computadorizada da tecnologia da loja, o que sugere o uso de câmeras, mas um porta-voz da empresa confirmou ao Motherboard via email que reconhecimento facial, presente na patente, não será usado na loja da Amazon Go. Independentemente disso, está claro que eles saberão muito bem o que você está comprando.

Qualquer um pode meter uma máquina no lugar de um operador de caixa. Isso é fácil e muitos lugares já o fizeram com o tal autoatendimento. Mas o que só a Amazon pode e quer fazer com as lojas Amazon Go é criar um ciclo de informações movido por dados altamente eficazes em torno de compras físicas e online.

Isso beneficiará a empresa pelos mesmos motivos que tais dados o fazem agora: melhorando seu marketing, recomendações e promoções, mantendo o bom funcionamento de sua cadeia de suprimentos. Tudo isso se resume a conhecer você. Com a diferença de que você não precisará falar com um caixa.

Tradução: Thiago "Índio" Silva