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Desenhe seu Próprio Presídio em Prison Architect

Em Prison Architect, seu papel é construir e gerenciar um presídio, contratar e gerenciar funcionários. Pode não soar um trabalho tão difícil, mas, na verdade, é mais complicado do que isso.

Toda mãe que se preza já deve ter se perguntado, sinceramente, em algum momento de sua jornada através da maternidade: "Meu Deus do céu, onde foi que eu errei?". A minha já teve um desses momentos comigo – e não porque me envolvi com algum esquema pesado e ilegal ou algo parecido, eu era um adolescente ordeiro e relativamente sem graça. Esse momento mágico em nossa relação envolveu vídeo games. Estava eu numa tarde normal, em um dia de semana qualquer, quando pensei comigo mesmo: "Que belo dia ensolarado e bonito, porque não aproveitá-lo jogando um bom jogo eletrônico?" e carreguei no meu PC um dos meus jogos preferidos à época, talvez até hoje em dia, Settlers 2.

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É possível ter uma boa noção do jogo no trailer oficial dos desenvolvedores Introversion Software.

Settlers é uma série de jogos de estratégia em tempo real, mas nada parecido com Starcraft – eles são jogos lentos, especialmente o 2. Você manda seus pequenos servos começarem as construções e um fluxo de materiais começa a ir até a fundação destas para começar o trabalho. É uma experiência bem terapêutica na verdade, ficar vendo os servos trabalhando, quase como ficar olhando para um aquário e meditando. Acontece que aquele dia eu queria algo a mais, eu queria estar jogando esse jogo mas, ao mesmo tempo, eu queria mais ação. Nessa hora eu tive a seguinte ideia: já que esse jogo é lento e não precisa tanto de minha atenção assim, por que não levar e experiência dos jogos para o próximo nível? Foi aí que eu coloquei meu CD pirata de Tony Hawk Pro Skater no meu Playstation e fui à loucura. Lá estava eu sentado na frente do computador, olhando para a tela da televisão, jogando dois jogos ao mesmo tempo. Foi bem nessa hora que minha pobre mãezinha abriu a porta do quarto e me pegou jogando um jogo no videogame e outro no computador – AO MESMO TEMPO. Eu lembro de ter falado "Calma mãe, eu posso explicar!" e me senti como se ela tivesse visto eu me masturbar com um pornô bem proibidão. Nunca esquecerei sua cara de preocupação. Acho que agora chegou finalmente a hora de me explicar, é o seguinte mãe.

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Essa é a minha quarta tentativa de fazer uma prisão decente com celas, chuveiros, escritório do diretor da prisão, cozinha, refeitório e um pátio pra galera tomar banho de sol.

No segundo dia, a tigrada chega em seu novo presídio. Esses são meus fiéis guardinhas levando eles para seus aposentos.

Um jogo de estratégia realmente bom precisa de um equilíbrio cuidadoso no tempo que o jogador gasta entre planejamento e problemas mais urgentes, entre construção e ação. Settlers 2 é um puta jogo, mas é lento, você leva em média, em um mapa normal, uns 40 minutos até conseguir de fato entrar em guerra com seu inimigo, e pelo menos mais uma hora para conseguir derrotá-lo. Entre as escolhas, você fica um bom tempo paradão. Um jogo de estratégia em que seu objetivo não é vencer um inimigo pode inserir essa urgência de outra forma, como, por exemplo, os desastres do Sim City, onde está indo tudo bem até metade de sua cidade pegar fogo ou uma nave alienígena chegar fodendo a porra toda. Esses desastres dão uma sensação de urgência em que você deve parar de planejar e construir, e começar a reagir com os problemas mais imediatos. Prison Architect está cheio disso: ele mantém você sempre com essa noção de urgência que, se bem dosada, pode criar uma experiência de jogo muito boa.

Todos os prisioneiros tem listados seus crimes, quantos anos cumpriu e quantos anos ainda terá de cumprir.

Em Prison Architect, um jogo ainda em estágio Alpha, seu papel é construir e gerenciar um presídio, mas não somente isso. Assim como no clássico Roller Coaster Tycoon, parte de seu trabalho é contratar e gerenciar funcionários: em um presídio novo você começa com trabalhadores que são os bonequinhos que fazem as construções e transportam todo tipo de parafernália pelo mapa de acordo com suas ordens. Além dos construtores, você precisa contratar guardas, cozinheiros, faxineiros, burocratas, médicos, psicólogos, etc, etc. Conforme o jogo vai avançando, toda a complexa estrutura funcional do xilindró fica em suas mãos. Pode não soar um trabalho tão difícil, mas, na verdade é bem mais complicado do que isso.

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Olha que simpáticos meus cozinheiros fazendo uma gororoba firmeza pros detentos.

Depois de umas três tentativas, consegui fazer um presídio razoável, com celas individuais para meus novos hóspedes e uma cozinha e refeitório funcionais, além de um pátio pra tigrada poder tomar seu banho de sol. Foi uma bela surpresa quando, assim que meus prisioneiros foram comer a primeira refeição, um bandido mais sangue ruim começou a correr tentando fugir do xadrez. Logo, um dos meus guardinhas foi atrás dele, que, prontamente, começou a espancar o polícia, enquanto ele por sua vez dava com o cassetete na cabeça do delinquente. Infelizmente, eu ainda não havia feito uma solitária, senão a opção padrão era jogar o vagabundo lá dentro. Foi só na segunda rebelião, que não demorou tanto assim para acontecer, que eu já estava pronto com uma solitária com o nome dos infratores. Vale notar que, nessa hora, meu presídio ainda tinha pouco mais do que 10 detentos.

Da primeira rebelião ninguém esquece, nem do primeiro confinamento na solitária! Veja como esse pobre prisioneiro, depois de uma bela coça com os guardas, estava sangrando em sua cela e depois ainda continuou sangrando na solitária, onde não tem sequer uma cama. Para ter atendimento médico na penitenciária, você precisa investir bastante tempo e dinheiro em pesquisa.

O jogo é cheio de opções de como controlar seu presídio, até ao ponto de você alterar a rotina diária dos detentos, como a hora em que eles vão dormir, ficam na cela, comem, tomam banho, vão ao pátio, etc. Ao liberar missões, você recebe metas, que, quando cumpridas, aumentam o orçamento disponível para fazer melhorias no presídio, contratar mais mão de obra, etc. Com toda a preocupação com infraestrutura, microgerenciamento e segurança, foi difícil não imaginar como seria uma versão de Prison Architect adaptada para a realidade brasileira. Com certeza, não seria necessário fazer celas individuais, ou o refeitório, ou mais da metade das construções e estruturas que o jogo pede para você fazer. Seria um jogo consideravelmente mais fácil e exponencialmente mais triste também, pensando bem, pode esquecer que eu pensei nisso. Que jogo horroroso seria esse.

Siga o Pedro Moreira no Twitter: @pedrograca