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O que aprendemos com o segundo debate à prefeitura de São Paulo

Erundina confiscou a carteirinha de feminista de Marta, Russomanno brigou com o Uber e Olímpio ignorou população LGBT.

Candidatos a postos para o segundo debate à prefeitura de SP. Foto por Artur Igrecias/Divulgação RedeTV!

Apesar de ficarmos torcendo, sabíamos que o segundo debate pela prefeitura de São Paulo não seria tão agitado quanto a sua contraparte carioca, mas pelo menos rendeu bons momentos. Com a participação de Luiza Erundina (PSOL) pela primeira vez, depois de decisão do STF, o debate realizado pela Rede TV nesta sexta-feira (2) trouxe o time completo de candidatos paulistanos com melhores números nas pesquisas — tirando o Major Olímpio (SD), que estava lá só porque seu partido tem cadeiras o suficiente na Câmara.

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Erundina. Todas as demais fotos deste post são prints do YouTube.

Dessa vez, os embates ficaram mais claros. Erundina acusou o prefeito Fernando Haddad, candidato à reeleição, de dourar o impeachment de Dilma, se recusando a chama-lo de "golpe", João Dória (PSDB) falou que Marta Suplicy (PMDB) deixou a cidade "quebrada", Marta tentou responder com o microfone desligado, só faltou rolar sopapo. Outro embate delicioso foi entre Erundina e Marta, no qual basicamente a tia Erunda confiscou a carteirinha de feminista de Marta, citando a votação da senadora pelo impeachment de Dilma, o apoio ao governo Temer a negação do convite para participação da deputada do PSOL nos debates.

Haddad.

É muito interessante que as questões maiores da política nacional — teve jornalista perguntando a Haddad sobre a Lava Jato — permearam fortemente o debate, que costuma tratar de questões mais comezinhas, como os buracos na rua. Aliás, a insistência em debater, constantemente, o "problema" que é a redução da velocidade máxima para veículos nas marginais e vias expressas da cidade, faz parecer que São Paulo já ultrapassou todos os problemas de uma grande megalópole. Nesse quesito, vale menção especial a Dória, que quis minimizar a questão trazendo dados de Associação de Seguradores, falando que a maior parte dos acidentes eram causados pelo uso de celular, mas não debatendo em quais acidentes acontecem mortes.

Russomanno.

Celso Russomanno (PRB), que havia se ferrado na primeira eleição, em 2012, ao divulgar em sua campanha que quem andasse mais de transporte público teria que pagar mais, voltou a se enrolar em questões de transporte. Depois de fazer a hilária afirmação de que não aumentaria o preço do transporte público em SP, voltou-se contra o Uber. Desfilou uma lista longa de cidades e países que ganharam processos de indenização contra o aplicativo, que ele diz operar "ilegalmente" no Brasil e terminou afirmando que quer fazer o Uber contratar seus prestadores de serviço sob o regime da CLT. Aprovado por 70% da população da cidade, o Uber faz um forte lobby entre os candidatos e a população em geral para garantir a sua aceitação, e não se sabe que tipo de impacto as declarações de Russomanno — não necessariamente em dissonância com os críticos do Uber no resto do mundo — pode causar na corrida eleitoral.

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Dória.

As duas últimas perguntas dos eleitores nas ruas parecem ter sido distribuídas cirurgicamente pelo método a princípio aleatório de respostas. Dória, instado a falar sobre a sua política pública de mobilidade para pessoas com deficiência (ele cogitou publicamente extinguir a secretaria da área, que chamou de "penduricalho"), aproveitou para falar sobre como convive com o pai cadeirante por muitos anos e, bem, não propôs nada que não fosse "vamos cumprir a lei atual como ela é". Já Olímpio teve a mais despreparada das respostas. Perguntado sobre o que faria sobre os direitos da população de rua e LGBT, só falou do primeiro grupo (que, obviamente, tratou como se fosse questão de segurança pública) e, ouvidos moucos, ignorou solenemente e ativamente a população LGBT. Um ótimo plano para um candidato de um partido chamado "Solidariedade".

Olímpio.

Se não contou com as tretas e desmaios do Rio de Janeiro, pelo menos o segundo debate paulistano serviu para enxergar com mais transparência os candidatos à Prefeitura da cidade, e isso é mito importante numa campanha eleitoral tão curta quanto a de 2016.

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