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Para Onde Vai o Movimento Black Lives Matter Agora?

Depois de uma pausa temporária nos protestos por conta do assassinato trágico de dois policiais mês passado, será que a multidão pró-reforma realmente forçará mudanças no sistema judicial?
Todas as fotos são do Jason Bergman.

Este ano, o Dia de Martin Luther King Jr. foi particularmente triste. Fora a expectativa pelo lançamento de Selma, um filme sobre seu protesto mais famoso pelo direito ao voto no Alabama, a comemoração do herói dos direitos civis mais amado dos EUA veio num momento tenso do diálogo sobre as relações de raça no país, para dizer o mínimo.

Estão não foi surpresa que os manifestantes que lutam pela reforma na polícia usassem esse momento como uma chance de reviver – mesmo que timidamente – o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) nas ruas de Nova York e outras cidades do país.

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Numa marcha de três horas por 60 quarteirões, mais de mil manifestantes foram do Harlem até as Nações Unidas em Manhattan, parando o trânsito na Lexington Avenue enquanto eram seguidos por uma cavalgada de homens de azul. A procissão bem organizada era guiada por um alto-falante que tocava "We Shall Overcome", "Ain't No Stoppin' Us Now" e a mais recente "Glory", culminando num protesto onde as pessoas se deitaram como mortas na frente da Bloomingdale's em Midtown.

A marcha foi a demonstração mais substancial de ativismo contra a brutalidade policial desde que o prefeito, Bill de Blasio, pediu uma pausa temporária nos protestos depois do assassinato trágico dos policiais Rafael Ramos e Wenjian Liu, no Brooklyn mês passado. Mas a multidão pró-reforma realmente forçou mudanças no sistema judicial?

"Sempre teremos pedras no caminho, mas isso definitivamente não é fogo de palha", me disse Zephyr Teachout, professora da Fordham Law e ex-candidata democrata a governadora de Nova York, na segunda-feira. "O que acho emocionante é que vemos uma nova liderança aqui. E essas pessoas têm uma mensagem inteligente, atenciosa e séria."

Essas "pedras no caminho" – um contraprotesto da NYPD, as mortes de Ramos e Liu e a subsequente desaceleração da polícia, onde as prisões despencaram – eram evidentes na segunda; a marcha "Dream 4 Justice", como foi batizada, foi relativamente mansa. Ainda assim, uma multidão significativa de pessoas de todas as idades apareceu – o suficiente para se pensar que esse movimento de base tem impulso residual suficiente para continuar por um tempo. E os prazos finais que se aproximam para a decisão do grande júri na morte acidental de Akai Gurley e para a liberação dos procedimentos do grande júri no caso Eric Garner, fornecem as bases para essa longevidade.

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Mas para isso, é preciso ver se essa multidão vai ouvir vozes como a do vereador Jumaane Williams, o copatrocinador da Community Safety Act, que disse: "Se você está comemorando conosco hoje, você deve lutar conosco amanhã".

"Estamos de volta em grande número, mas, na verdade, há mais números do que vocês podem ver, por toda a Cidade de Nova York, camuflados mas esperando por mudança", disse Sudan Abdus-Salaam, um participante de 50 anos, na frente da marcha. "Não queremos pessoas morrendo nem policiais morrendo, é por isso que precisamos parar a negatividade que temos visto. Acho que os legisladores estão vendo isso e prestando um pouco mais de atenção."

Ainda este mês, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, vai decidir se veta ou não uma lei que transfere a responsabilidade de disciplinar oficiais da polícia de comissários locais para arbitrários independentes. Ele também terá que responder ao pedido do procurador-geral Eric Schneiderman para ser o procurador especial em casos como o do oficial Daniel Pantaleo, o policial que sufocou Eric Garner com um mata-leão em julho. A Câmara Municipal logo deve votar o Right to Know Act e uma proibição do mata-leão, ambas propostas que enfrentam oposição do NYPD e do prefeito de Blasio.

Nas ruas, Joseph Guzman não estava tão otimista. "Eles estão lutando por indiciamentos aqui, mas isso não importa", ele me disse, "porque quando chega ao tribunal, você percebe que o sistema todo é manipulado".

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E Guzman deve saber do que está falando.

Em novembro de 2006, ele foi à despedida de solteiro de seu melhor amigo, Sean Bell, num clube no Queens. Quando eles voltavam para casa, uma equipe à paisana do NYPD disparou 50 vezes (um dos policiais até recarregou a arma) contra o carro onde estavam Guzman, Bell e seu amigo Trent Benefield. Os policiais aparentemente acharam que eles estavam armados – não estavam, mesmo Bell estando legalmente bêbado e tendo avançado na direção da van da polícia – e mataram Bell, que se casaria no dia seguinte. Guzman e Benefield ficaram seriamente feridos.

O assassinato de Bell iniciou protestos barulhentos pela cidade – incluindo um onde o próprio Guzman foi preso. Três dos cinco detetives responsáveis por matar seu melhor amigo foram indiciados, mas depois absolvidos de todas as acusações. Todos eles foram demitidos ou obrigados a renunciar mais tarde. Guzman, que ainda tem quatro balas alojadas no corpo, fez um acordo de $3 milhões.

Naquela tarde fria de segunda-feira, Guzman subiu uma colina ao meu lado, se cansando na ladeira íngreme (ele teve que usar bengala e um suporte na perna por um tempo depois do tiroteio). Perguntei se ele sentia alguma diferença nesse novo impulso por reformas na polícia, mas ele parecia exasperado com a coisa toda.

"Nada mudou", ele disse, balançando a cabeça.

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