Tecnologia

Apple, Google, Microsoft, Dell e Tesla acusadas de lucrar com trabalho infantil em minas de cobalto

Pela primeira vez as grandes companhias de tecnologia estão sendo processados por sua suposta dependência de cobalto minerado por crianças.
Boys mining cobalt in Congo that will be used in electronics sold by Apple, Google, Dell, Tesla, and Microsoft.
Per-Anders Pettersson / Colaborador.

No primeiro caso do tipo, Apple, Google, Microsoft, Dell e Tesla estão sendo processados em nome de 14 famílias congolesas cujos filhos morreram ou ficaram feridos enquanto mineravam cobalto ilegalmente para eletrônicos feitos por essas companhias.

Aberto no Tribunal Distrital dos EUA pelo Distrito de Colúmbia pela organização de direitos humanos International Rights Advocates, a ação coletiva federal alega que as companhias “ajudaram e incentivaram” um sistema de trabalho infantil forçado, e tinham “conhecimento específico” das condições em que essas crianças estavam trabalhando mas não agiram para proteger suas margens de lucro.

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“Apple, Alphabet, Dell, Microsoft e Tesla têm políticas específicas alegando proibir trabalho infantil em sua cadeia de fornecimento”, diz a queixa da International Rights Advocates. “O fracasso delas para realmente implementar essas políticas para impedir o trabalho infantil em minas de cobalto é um ato internacional para evitar o fim da extração de cobalto barato.”

Cobalto é um componente importante de baterias de íons de lítio usadas em muitos eletrônicos modernos. No processo, as famílias argumentam que suas crianças estavam trabalhando ilegalmente em minas de cobalto propriedade da Glencore, a maior produtora de cobalto do mundo. A Glencore então fornecia cobalto para a Umicore, uma empresa de mineração e venda de metais belga. A Umicore fornecia cobalto para as baterias de íons de lítio para Apple, Google, Tesla e Dell. Também envolvida está a Zhejiang Huayou Cobalt, uma produtora de cobalto chinesa, que trabalha com a Apple, Dell e Microsoft.

Agora, a relação entre cobalto, a República Democrática do Congo e trabalho infantil é um território bem trilhado. Ano passado, a República Democrática do Congo produziu entre 60 e 70% do cobalto usado no mundo – um terço disso veio de minas “artesanais” ou de subsistência, feito de maneira independente fora do emprego formal com uma companhia mineradora.

Cobalto é um mineral essencial para eletrônicos modernos – necessário para as baterias de lítio que alimentam smartfones, computadores pessoais e veículos elétricos. Enquanto essas baterias podem alimentar tecnologias renováveis necessárias para evitar o apocalipse climático, fabricá-las apresenta seus próprios problemas: mineração de cobalto é feita com grandes custos para os mineiros, suas comunidades e seus ecossistemas.

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Na queixa, as famílias congolesas dão detalhes vívidos explicando como pobreza abjeta as tornou desesperadas o suficiente para trabalhar nas minas, recebendo US$ 2 por dia em condições de trabalho pesadas e perigosas.

Em um caso, uma criança foi trabalhar numa mina propriedade da Glencore depois que a família não conseguiu mais pagar sua mensalidade da escola. Um túnel desmoronou sobre ele e seu corpo nunca foi recuperado, segundo o processo. Outro garoto, que também trabalhava numa mina da Glencore, caiu numa mina, mas depois de ser arrastado de lá por outros mineiros, foi deixado sozinho até que seus pais o encontraram. O acidente o deixou paralisado do peito para baixo. Outros contaram como desmoronamentos de túneis mataram seus filhos, quebraram suas colunas ou mutilaram seus membros. Ninguém foi compensado pelas mortes ou ferimentos, diz o processo.

O processo deixa claro que essas companhias fizeram negócio com as firmas de mineração apesar de saberem sobre o trabalho infantil na cadeia de fornecimento e está pedindo indenização pelo trabalho forçado, mas também pelo “enriquecimento injusto, supervisão negligente e inflição intencional de stress emocional”.

A Apple e outras companhias nos anos recentes têm tomado passos para não trabalhar com minas que usam trabalho infantil, mas repórteres e ONGs internacionais já mostraram que a cadeia de fornecimento global é tão complicada que é difícil ter certeza de quem exatamente está fazendo a mineração.

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