Música

Rica Pancita julga os sambas-enredo do Carnaval de SP 2020

Alô comunidade. A hora é essaaaaaaaa.
sambas enredo 2020
Fantasias da Tom Maior, montagem sobre fotos de Pedro Pinheiro. 

Chegou o momento de estar analisando os sambas-enredo das escolas de São Paulo para o Carnaval de 2020, quesito que em 2019 foi tratado como café-com-leite, já que todo mundo ganhou 10 na apuração. Que bom, quer dizer que os jurados estavam se divertindo muito. Ou quer dizer que estavam com preguiça pra justificar nota, mas acho mais que estavam se divertindo mesmo. Mas aqui comigo é na seriedade, arrepio a canetada mesmo.

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No geral os sambas estão bons sim. Os enredos nem tanto. SP ainda tá exagerando nos enredo CEP, ou em enredos muuuito abertos, tem que se ligar nisso aí. De resto, competição faz parte mas Carnaval é daora e escolas de samba são importantissíssimas para a cultura da cidade. VALORIZE A ESCOLA DE SAMBA DO SEU BAIRRO. CARALHO.

É isso galera, vamos às notinhas. Segui a ordem dos desfiles, pra você já deixar aberto no dia pra não se perder.

Valeu.

Barroca Zona Sul

Enredo: “Benguela… a Barroca Clama a Ti, Tereza.” Será sobre Tereza de Benguela, líder negra, do Quilombo do Quariterê, que era lá pros lados de Cuiabá. No meu preguiçoso método “joga no Google” eu não consegui achar muito da sinopse, mas pela letra do samba eu imagino que vá pegar o gancho para tratar de temas como feminismo, negritude e desigualdade social na atualidade. Se for por aí, então é uma sacada legal. Se não for, eles tem 2 meses pra refazer tudo pra que vire exatamente isso que eu falei agora. Nota: 9.9

Samba: Melodia boa, meio basicona, mas sem inventar nenhuma graça, o que na maioria das vezes é até melhor. Bateria redondinha, com bossas também simples mas boas. A letra trata legal do (o que imagino que seja) o enredo, com algumas trucagens como rimar “AUE AUE” com “Quariterê”. Mas ok também. Nota: 9.8

Tom Maior

Enredo: “É Coisa de Preto” vai falar de negritude e importância do povo negro na construção desse Brasilzão de meu Deus. Para isso vai trazer personagens históricos importantes e tal. Que é legal, isso é. Mas também fica aquilo de ficar aberto demais, quantas dessas personalidades já foram temas de enredo antes? Ia preferir se fizessem um corte mais específico nesse tema aí. Nota: 9.8

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Samba: Com a sinopse abertona fica uma letra que fala de tudo no geral e nada no específico. Ok ok, mas encaixaria em outros enredos também. Basta querer. A melodia no geral é boa, passa legal. A parte pergunta-resposta do “a negra inspiração… é poesia” nessa primeira audição eu não achei que encaixou tão legal assim. Nota: 9.8

Dragões da Real

Enredo: “A Revolução do Riso: A arte de subverter o mundo pelo divino poder da alegria.” É isso. Aí veja bem… sei lá. Cês tá rindo do quê, tiu? Humor é FUGA. Vai ficar nessa de “subversão” vai acabar chamando o Marcelo Tas de terninho pra desfilar. Mas enfim voltando ao que o carnavalesco Quintaes parece que quer tratar aqui e falar dos comediantes e palhaços e tal. Qual deles? Qualquer um. A sinopse começou no Dionísio e terminou no Ziraldo. O clipe oficial tem EMOJIS. Diretoria = Jim Carrey. A princípio é um cenário que me preocupa. Nota: 9.8

Samba: Gostei das marcações da bateria, destacou legal umas hora. Letra e melodia aí veja bem… sei lá. Felizmente o leitor & rapper Panzon veio me lembrar que o “qua quará qua quá” é da música da Elis Regina, que eu nem lembrava e só tava “mas que porra é essa”. O “vem comigo gargalhar/eu não quero mais sofrer” achei meio fraco mesmo, e de resto fica parecendo que o enredo é sobre os Doutores da Alegria, fazendo com que o cenário me preocupe mais ainda. Nota: 9.7

Mancha Verde

Enredo: “Pai! Perdoai, eles não sabem o que fazem!" A atual campeã vem, LOGO DEPOIS DA DRAGÕES, com uma “reflexão sobre a humanidade e os atos condenáveis dos homens ao longo da história”, relacionando com o calvário de Jesus. Bom, falaram que em 2019 a Gaviões MATOU Jesus lá na avenida mesmo, vamos ver se a Mancha vai dar um tratamento que seja melhor visto por parte da sociedade. De resto, há potencial aqui mas depende também. Nota: 9.8

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Samba: Primeiramente parece que ninguém lá se ligou que o “"A Mancha é a voz dos filhos teus" no refrão está soando como "A Mancha é a voz dos FILISTEUS". E isso na gravação. No dia então vai ser aquele corão bonito da comunidade gritando “filisteus”. Mas tirando esse detalhe (bem canetável) a letra tá passando bem a ideia de busca de redenção, que deve estar fazendo parte desse enredo aí. A melodia tá um destaque legal aqui também, achei acima da média. Já a bateria achei muito tímida nas bossas. Podia fazer um tchans a mais pra gravação. Nota: 9.8

Acadêmicos do Tatuapé

Enredo: “O ponteio da viola encanta… Sou fruto da terra, raiz desse chão… Canto Atibaia do meu coração.” Canta Atibaia? Atibaia??? Porra, ATIBAIA????? Com todo respeito aos 142 mil habitantes de Atibaia, mas veja bem, vai ter que preencher mais de 1 hora de desfile falando de Pedra Grande, morango, teleférico e hotel fazenda. Nota: 9.7

Samba: A gravação começa com a Leci Brandão cantando “levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima”, trecho do hino de Atibaia. E a letra é sobre vida caipira, trem, viola, mais viola, violeiro, ARRAIÁ, romaria, entre outras coisas que serviria pra 2/3 da Grande São Paulo. Pelo menos fala de algo que pode ser morango (“um doce sabor no meu paladar”), mas aí podia ser as bananinha de Paraibuna também, ou o melzinho de Apiaí. E incrivelmente, mesmo assim, o samba é BOM. Empolga. O Celsinho Mody tá bem demais. É revoltante isso. Nota: 9.9

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Império da Casa Verde

Enredo: “Marhaba Lubnãn.” Não faço a menor ideia do que seja isso, mas o enredo é sobre o Líbano. E basicamente é isso. A sinopse é mó textinho CVC Turismo, contando a história do país, cita a comunidade libanesa no Brasil, e não menciona o Guga Chacra. Enredo CEP, puro e simplesmente. Nota: 9.7

Samba: Uma das melhores baterias do CD, tranquilo. Aí já deixa todo o resto mais fácil. O refrão é bom de pegar, mas no geral a letra é uma bobagem que nem tem muito o que falar. “Nação milenar” / “Guerreiros ao mar” / “Tantas emoções ao lutar” / “Por te amar”. Mas, reforço, a bateria leva nas costas. Nota: 9.8

X-9 Paulistana

Enredo: “Batuques para um rei coroado.” O tema são os batuques. Todos os batuques criados e desenvolvidos no Brasil. O tema é bom, mas esteticamente imagino que vão mostrar as diversas festas que tem nessa terra, que aí não sei o quanto vai ser capaz de surpreender. Nota: 9.9

Samba: Samba com melodia legal. A letra vai jogando loucamente tudo que é ritmo e instrumento musical, vai que vai. Mas o refrão eu já não gostei tanto assim (“Começa aaaaa peeeleeejaaaa”). A bateria vai muito bem fazendo umas variaçõezinhas pra mostrar os batuques. Parece que jogaram a responsabilidade toda neles, então boa sorte aí a diretoria de bateria. Nota: 9.8

Pérola Negra

Enredo: “Bartali Tcherain - A estrela cigana, brilha na Pérola Negra.” A história do povo romani, famoso cigano. Basicamente é isso, a sinopse foi só pra explicar a história migratória deles, começando na Índia, indo pra Europa, se fudendo muito na Europa, e aí chegando no Brasil, além de influenciar na cultura, como na banda chata Gogol Bordello, e na novela Explode Coração, que popularizou a típica cantiga cigana “Estoy Enamorado”, na voz e Donato & Estéfano. Também falam que Juscelino Kubitschek é o único romani a ser presidente, porque a mãe dele é de origem cigana. Outros ciganos de grande importância para o país são Benito di Paula e Dedé Santana. Nota: 9.8

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Samba: A letra trabalhou bem o enredo, mas não tem um trecho que atraia mesmo quem tá de fora (no caso, eu). Aquele final da primeira parte (“Paixão que fez raiiiizzzz… em Andaluzia”) eu sou sempre contra essas trucagem pra encaixar na melodia, mas aí é de gosto. Bateria retinha, bem tímida nas bossas. Nota: 9.8

Colorado do Brás

Enredo: “Que Rei Sou Eu?” é sobre o Dom Sebastião. O real e o mitológico, o rei jovem que sumiu no Alcácer-Quibir e aí os portuga tão esperando voltar até hoje, os cara que apareceram falando ser Dom Sebastião que uma galera acreditou, ou do touro negro do Maranhão, que não falou que é o rei Sebastião, mas é sim, e que vive em um castelo embaixo das dunas. Gostei do texto bem-humorado da sinopse, parece que ao menos na cabeça do carnavalesco (Leonardo Catta Preta) o enredo tá desenvolvido bonitinho. Nota: 9.9

Samba: Primeiramente parabéns aos compositores que conseguiu enfiar TUDO do enredo na letra. Num cortou nada (e podia cortar). A bateria faz a sua parte, podia ter mais #ousadia, mas tudo bem também. Só estranhei a subida no “mas, a realidade é que sempre estive aqui”, achei muito do nada. De resto, show. Nota: 9.9

Gaviões da Fiel

Enredo: “Um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como e explode não sei porquê…” Enredão com assinatura Paulo Barros. Ou seja, tanto faz o enredo, importante é os carro bonitão, as fantasias brilhando. A princípio é sobre: o amor. O amor. Que mexe com a minha cabeça e me deixa assiiimmmm. É isso. Vou até deixar o link pro texto da sinopse, pra você ver que é meio sobre qualquer coisa, eu nem gastei tempo tentando desvendar. Mas os carros vão tar lindos. Nota: 9.8

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Samba: Um samba sobre o amor. Pronto, explicado. Letra mini, bem simplinha, que é o que importa mesmo é o refrão pois é o que vai puxar o canto da arquibancada. E arquibancada eles tem. Bateria reta igual a Av. Rudge. Nota: 9.8

Mocidade Alegre

Enredo: “Do Canto das Yabás, Renasce uma nova Morada” vai tratar especificamente das Orixás. Só as orixás femininas. Achei legal o recorte pra juntar feminilidade e religiosidade num enredo afro. Só vitória. Nota: 9.9

Samba: Samba pra cima, melodia muito boa, bateria perfeita. Bateria perfeita, nos desenhos, nas bossas, tudinho. Letra eu nem falo nada, que enredo afro os compositores tiram de letra. Nota: 10

Águia de Ouro

Enredo: “O poder do saber - Se saber é poder… Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Porra… “poder do saber” é foda. A essas altura, 2020… O poder do saber. E ainda acabei de ler a sinopse, bagulho de velho sábio leva a sabedoria nas páginas antigas do livro bla bla bla. Ah não. Num aceito não. Nota: 9.6

Samba: Enredo clichê num tem muito como resolver além de samba clichê com letra clichê. Eis o perigo, etc. Nem tem do que reclamar, fizeram o melhor que dava. “Brincar de Deus, recriar a vida”. “Ao mestre, meu respeito e carinho”. Ainda tentam subir o tom pra ver se empolga, mas num tem jeito não. A bateria também faz a parte dela bonitinho. Nota: 9.7

Unidos de Vila Maria

Enredo: Olha isso…… “A grandeza da China e suas mentes sábias e brilhantes, remetem ao mundo os seus encantos. O sonho de um povo embala o samba e faz a Vila sonhar”. Vê se eu posso com um negócio desse. Um título desse pra falar da China. Não basta ser enredo CEP, como é enredo CEP que a Império Serrano fez agora em 2018 (do histórico desfile que acabou ANTES do tempo mínimo obrigatório). Meu Deus gente, tanto país aí que dá pra falar na falta de assunto melhor. China. Inclusive nesse aí de 2018 eu lembro do comentarista da Super Rádio Tupi mandando “ué, mas não vão tratar do comunismo não?”, e pela sinopse aqui da Vila parece que vão dar um pulão também da muralha pra polo tecnológico. Mao deixa quieto. Nota: 9.6

Samba: O samba em si cumpre a sua função, que é tratar de um enredo que não me interessa em nada e que acho zero criativo. Primeiramente a letra é uma explosão de clichês. É impressionante, uma atrás da outra. “Dragão milenar”, “grandes impérios”, “pátria guerreira”… “faz encantar!”. Pelamor. Segundamente urge alguém ensinar o Wander Pires a pronunciar xiè xiè corretamente, porque ele tá falando “gê gê” e eu passei dias sem ler a letra pensando “mas que que é GG?”, pensei que tinham metido gíria gamer na letra. Terceiramente achei as últimas bossas da bateria meio confusas, era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, aquelas rufadas de caixa com a marcação num rolaram legal. O destaque mesmo fica com o URRO DA VILA MARIA. E por ter o passe do Wander, eles adquirem o direito de ser a única faixa com “vaaaaAAAaaaaAleu” no final. Mas, puts… Nota: 9.7

Rosas de Ouro

Enredo: “Tempos Modernos”, sobre a quarta revolução industrial. Tecnologia, big data, skynet, capitalismo muito doido. Pela sinopse vão dar um passadão nas outras revoluções industriais também, pra dar mais assunto. Inclusive o texto da sinopse é bizarro demais, criaram o “Jed, the humanoid” brasileirucho que começa a fazer essas reflexões quando tá a beiradinha da MORTE. Legal a ideia. Espero que botem o Robozão na avenida também. Nota: 9.8

Samba: O samba tá bonzinho, agrada bem. A letra tem o clichê supremo dos papo de olhar de uma criança, presente em 10 entre 10 sambas-enredo sobre o futuro. Tem umas doidera tipo “dona ciência, por favor não leve a mal / chegou a hora de rasgar o manual”, que sei lá que que esse povo vai apresentar no dia. Bateria vai no simples, mas divertido. Nota: 9.8