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Se você está sofrendo por amor, talvez esteja amando errado

Até a cultura pop já entendeu que o ideal de amor romântico nunca esteve no Tinder.
Cena do filme Medianeras. Crédito: divulgação

Infelizmente, este não é o guia definitivo para se dar bem no amor. É mais sobre o modelo que eu e você seguimos: mesmo com o Tinder aberto gastando dedo pra todo lado não encontramos um amor correspondido ou, quando namoramos, ficamos nos descabelando pela @. Talvez o problema seja o que nos é ensinado: o amor romântico. Antes de tirar minhas próprias conclusões, me perguntei: será que a cultura pop, que tanto consumimos, está tentando dizer algo que ainda não sacamos? Mergulhei em livros e filmes para colher o máximo de referências e tentar entender esse mal que assola tantos corações juvenis.

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O amor romântico pode estar bem próximo. Basicamente, é aquele que alimenta fantasias de que você e seu parceiro são um só, que se completam; onde um é a salvação e a razão de viver do outro; onde quem ama não deseja outra pessoa; quando controle, ciúme e posse parecem adequados ou fofos – o que é uma grande armadilha para acabar caindo em relações abusivas. Essas idealizações só estão fazendo mal pras pessoas, porque em algum momento elas podem perceber que simplesmente nada disso existe como nos é ensinado. Até porque a maioria das pessoas deseja outras pessoas e tem um ego e uma autoestima pra alimentar, cada qual do seu jeito.

"Se apaixonar por cinco fotos do Tinder ou stalkear em todas as redes e deduzir a vida toda da pessoa ou criar uma idealização de quem ela é e depois se frustrar não é bom pra ninguém"

Essa história de se apaixonar por cinco fotos do Tinder ou stalkear em todas as redes e deduzir a vida toda da pessoa ou criar uma idealização de quem ela é e depois se frustrar não é bom pra ninguém. É bom amar, mas amar pessoas reais em relações reais. É coerente amar como a pessoa é assim como você quer ser amado pelo que você é. As redes e aplicativos, apesar de na teoria terem o objetivo de unir pessoas, nem sempre realmente unem. É muito misto de nóia, insegurança e carência confundida com amor. A comédia romântica Ele não está tão a fim de você (2009) aborda como criamos justificativas para mascarar a verdade ou acreditar que o fato da pessoa nos tratar mal é uma prova de que ela gosta, sim, da gente.

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Não estamos sabendo modificar esse modelo semi-carcerário romântico ao que realmente somos e vivemos. Aqui eu não falo para destruirmos o namoro, até porque cada um faz o que quiser. Talvez seja mais uma necessidade de autoconhecimento e uma reflexão sobre as idealizações que criamos em cima de pessoas, e algumas doses intensas de amor próprio antes de entrar ou continuar em um relacionamento. Adicione também uma abertura para aceitar que ninguém completa ninguém, ciúme é insegurança e não é saudável nem fofo – e que cercar seu parceiro numa relação é ruim pros dois.

"Ninguém completa ninguém, ciúme é insegurança e não é saudável nem fofo"

Para chegar em toda essa conversa, comecei me indignando ao assistir o filme Medianeras (2001), que tem toda uma narrativa super realista, e acaba sendo do mesmo jeito que os outros filmes: utópico. Também busquei referências literárias sobre, e aqui posso citar o otimista autor Anthony Giddens em A Transformação da Intimidade - Sexualidade, Amor e Erotismo nas Sociedades Modernas (1993). Ele já falava muito sobre a influência da independência da mulher nas relações amorosas, que dificulta um pouco o ideal de casamento, que antes era uma necessidade sócio-econômica se nós quiséssemos sair da casa dos pais. Já estamos muito mais pra The Lobster (2016) que para Cinderella (1950).

Cena do filme 'The Lobster'. Crédito: divulgação

Aqui no Brasil temos uma psicanalista mais que especialista no assunto: Regina Navarro Lins. Seu último livro, Novas Formas de Amar (2017), fala muito sobre a necessidade de desapego do ideal de amor romântico para termos relações saudáveis. O Aziz Ansari também tem um título relacionado, com um estudo sociológico extenso, Romance Moderno (2015).

Então antes que você saia tuitando que queria ter um amor tal qual Princípe Harry e Meghan, ou diga que acabou a sua esperança no amor quando a Fátima e o Bonner se divorciam, pense um pouco em como você busca a individualidade, tem medo de se apaixonar e vive se protegendo disso, quando ao mesmo tempo pode estar se contradizendo ao desejar uma relação monogâmica estável. É realmente isso que você quer ou simplesmente é uma necessidade que você só repete por que está instalada assim como muitas coisas que a sociedade prega? Se é para estar aberto a desconstruções, talvez essa seja uma necessária até para sua saúde mental. E a do seu coraçãozinho também, que não aguenta mais ser ignorado ou sofrer numa relação ruim só pra ter um namoro.

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