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O Lucas DCan quer mudar o seu jeito de ouvir R&B

O carioca, que tem como inspirações The Weeknd e Tory Lanez, quer fazer o público brasileiro entender o R&B como um gênero e uma cena autônoma.
Foto da página do Dcan no Facebook

No começo dos anos 2010, Lucas DCan ainda morava no Rio de Janeiro, tocava um violão e procurava inspiração caçando som na internet. A primeira vez que ele ouviu The Weeknd foi um momento que definiria toda a carreira do carioca dali pra frente. “Eu nunca tinha escutado nada parecido na época”, ele me contou numa entrevista em abril. “Não sabia muito bem como chegar naquela sonoridade.”

Essa situação só mudou alguns anos depois, quando DCan foi a São Paulo gravar com o Pollo e conheceu o produtor do trio, Renan Samam. A partir daí, ele sacou que o R&B gringo era o som que o inspirava e começou a trabalhar nos singles que lançou de 2014 pra cá, como “O Efeito” e “Bebi e Não Quero Saber o que Eu Fiz”. Hoje, ele diz se inspirar em todo mundo que é chegado no gênero lá fora, de Tory Lanez a Sabrina Claudio.

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DCan, junto a alguns contemporâneos, é parte de uma geração que decidiu resgatar referências do R&B gringo e brasileiro para chegar à nossa própria identidade do gênero, o R&B chavoso. Mesmo sendo mais ligado às raízes norte-americanas do gênero, ele também contribui pra mistura do R&B com outros sons, como a MPB e o pagode com a "ResenhaDaBlakk", projeto acústico do seu coletivo Blakkstar.

Leia a entrevista com DCan abaixo, em que ele explica a vontade de fazer o público brasileiro entender o R&B de outra maneira — como um gênero independente e autônomo.

Noisey: Você tem lançado alguns singles do começo do ano pra cá, além de alguns que você lançou no ano passado. Está nos seus planos lançar um disco completo?
Lucas DCan: Na verdade, o que eu lancei foram sons que eu já tinha prontos há um tempinho. E não, eu não tenho muita vontade de lançar um álbum, pelo menos por enquanto. Acho que um álbum precisa de um propósito, não são só dez músicas que você curte e jogou ali.

Rolou também um acústico, com o Kiaz e o Nith. Como rolou a ideia?
O acústico era uma ideia que a gente da Blakkstar sempre cogitou, mas nunca tinha ido pra frente. Daí, um dia, numa sessão lá na Blakk mesmo no nosso estúdio, saiu esse som "Não Tem Mais Nós Dois". Resolvi criar o projeto e a galera abraçou. Escolhemos o nome "ResenhaDaBlakk" por votação, eu montei a logística e duas semanas depois tava pronto.

Considerando toda a "polêmica" em torno dos acústicos no rap nacional hoje, como você acha que o som de vocês foi recebido?
O que a gente faz é diferente do que tá aí, principalmente quanto à sonoridade. Mesmo sendo acústico, não é o acústico que o pessoal tá acostumado. Eu quase não tenho influência nacional no meu som, o Kiaz ele já vem mais do pagode, o Nith da MPB, fora o nosso gênero que é o R&B mesmo, então acaba sendo bem único.

Em questão de público, você acha que o R&B já tem seu próprio público ou ele ainda está muito ligado ao público do rap?
Acho que as pessoas não sabem ainda o que a gente faz, porque não tem nenhuma plataforma grande mesmo pra chegar e falar, “esse pessoal aqui faz isso, esse é um gênero” e tal, ensinar mesmo. Então geral descobre muito o que são as coisas por conta própria e geralmente é o pessoal do rap que tem esse senso de querer ouvir coisa nova. Eu acho que ainda dependemos muito do crescimento do público do rap pra cena andar mais.

Por que você acha que o R&B brasileiro nunca "vingou" de fato? E acha que isso está mudando agora?
Acho que não vingou ainda porque certas coisas demoram, né? Não é um gênero naturalmente nosso, que você cresce ouvindo, ou que tem várias gerações de artistas fazendo. Então eu acho que a gente ainda vive uma situação em que o pessoal está começando a conhecer de verdade o nosso som, a gente está começando a ter espaço pra falar sobre ele. Isso ai já mostra que tem alguma coisa diferente, e a tendência é continuar crescendo, pra rolar mesmo uma cena, tipo a do rap por exemplo.

Por não existir muita história do R&B no Brasil, você sente que está carregando algum tipo de tradição à frente no som que faz?
Acho que sim. As pessoas estão começando a perceber que isso é outro tipo de som, e a entender e tratar isso dessa forma. Todo mundo que produz essa estética sonora tem meio que parte nesse processo de criar um cenário ou contribuir pra isso.

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