Trocamos uma ideia com os caras do "Quanto Custa o Outfit"
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Trocamos uma ideia com os caras do "Quanto Custa o Outfit"

Vale tudo por audiência? Com 3 mil dól dá pra compor o look básico? Qualé a deles?

O episódio 2 do quadro “Quanto Custa o Outfit?” está no ar nas redes e anda causando todo tipo de reação, de novo. Depois das diversas questões que colocamos na roda na abordagem anterior sobre o assunto — consumismo, cultura street etc. —, fica evidente que a Hyped Content Br quer mais é que se foda quem se sentiu contrariado, e vai continuar rolando a série.

Os responsáveis pelo feito são os donos do canal no YouTube, Fellipe Escudero e Caio Kokubo. O Fellipe tem 27 anos e é advogado. O Caio, que tem 28, é videomaker. Eles criaram o canal com o intuito de documentar a cena do street wear, mas também com o objetivo de se posicionar no mercado de produção de conteúdo trends. Fellipe e Caio começaram a andar de skate na adolescência e foi assim que se interessaram pelo street wear.

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Quando saiu o segundo vídeo muita gente se surpreendeu porque eles não têm receio de serem apontados como elitistas, tiram é onda e mergulham de cabeça na oportunidade viral. Dessa vez, procurei a dupla na mais pura curiosidade. Qualé a desses caras, afinal?

VICE: O que é ter estilo ou ser hype, na opinião de vocês?
Fellipe Escudero: Ter estilo é saber se vestir independentemente de quanto custam as peças que você está usando. Com a repercussão do vídeo "Quanto Custa o Outfit", as pessoas associaram o hype à ostentação, o que não é a ótica correta para se observar esse movimento. A cena é composta por pessoas que cultuam o design de moda, a exclusividade das peças e a história por trás delas.

Na nossa opinião, de nada importa estar vestindo as roupas mais caras do mundo se você não tem a atitude e a confiança para vesti-las. E ainda, se você for um esnobe por isso, o consideraríamos ainda menos. Respeitamos aqueles que entendem sobre as peças, e que consomem por amor ao estilo de vida, e não para chamar atenção ou se afirmarem como riquinhos.

No segundo capítulo do “Quanto Vale o Outfit?” se destaca o garotinho que aparece no final. Ele, inclusive, tem sido bem zoado nas redes…
Sim, ele é muito engraçado (risos). Este garotinho é super conhecido na cena, não há uma pessoa que não saiba quem ele é, a diferença é que sua fama tomou proporção nacional. Já conhecemos ele há um tempo, e sempre achei que ele não tinha o reconhecimento que merecia. Como produtores de conteúdo, sabíamos que dado o seu estereótipo e o fato dele ser muito jovem, isso sem dúvida chamaria atenção das pessoas e ampliaria o alcance de nossos vídeos. Sem contar que conhecemos ele e sabíamos que ele queria ficar famoso, ele é muito maduro para idade que tem.

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O grande problema é que no Brasil as pessoas têm aversão a tudo que fica famoso, "enquanto está na margem eu gosto, mas agora virou modinha." O brasileiro faz muito isso, é uma certa soberba de se achar gringo demais pro Brasil. No exterior, a cena do street wear já é febre, você encontra com facilidade no YouTube e Instagram crianças vestidas dos pés à cabeça com peças das marcas de street wear e high fashion. Aí que está a diferença entre nós e as pessoas que usam este argumento. Nós, de fato, amamos o street wear, continuaremos consumindo o que nos agrada e trazendo conteúdo para nossos inscritos. A Supreme vai continuar sendo exclusividade e sua demanda não vai diminuir. O que fizemos com o nosso vídeo foi justamente o contrário, nós despertamos o interesse das pessoas nos produtos, assim buscamos chamar a atenção das grandes marcas como Nike e Adidas para que tragam os lançamentos para o Brasil, que por sinal são muito escassos.

Com todas as críticas negativas e polêmicas geradas na internet com o primeiro episódio do quadro, por que decidiram prosseguir com ele?
Não nos importamos com as críticas negativas. O primeiro vídeo, quando viralizou, foi completamente descontextualizado, de propósito, para que olhassem as pessoas como riquinhos ou pessoas fúteis. Nós não fazíamos ideia de que isso também seria bom pra nós em termos de produção de conteúdo. Com toda a repercussão do primeiro vídeo, decidimos gravar a segunda parte para aproveitar a audiência, assim cresceríamos o nosso canal.

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Qual foi a repercussão do primeiro vídeo da série entre o próprio pessoal do hype?
A cena do street wear no Brasil é muito mais forte em São Paulo. Sofremos críticas do pessoal do segmento, mas recebemos muito mais apoio. Os pequenos influenciadores digitais do segmento criticaram mais porque nunca conseguiram chegar no alcance que tivemos do que por qualquer motivo. Eles se defendem também atrás do argumento de que isso tornaria ainda mais difícil o acesso às peças. É muita falta de visão, nosso trabalho tem uma finalidade muito maior, chamar atenção das grandes marcas e fomentar esse mercado no Brasil, assim teríamos mais acesso às peças, em termos de quantidade e valores. Quanto à abordagem para gravar o vídeo "Quanto Custa o Outfit Ep. 2 ", pelo contrário, postamos no Instagram que gravaríamos o segundo episódio e tivemos dificuldade para selecionar os participantes, dada a absurda quantidade de voluntários.

Vocês deixaram claro que a ideia era aproveitar a audiência. A pergunta é: vale tudo por audiência, até mesmo ajudar a bombar a cultura do consumismo?
Eu não diria que vale tudo pela audiência. Apesar de polêmico, o formato do quadro é algo já praticado há anos na Europa, que a princípio também causou bastante hating, mas que já foi superado. Sem dúvida isso encoraja novos entusiastas, não diria que influencia a cultura do consumismo, mas sim de se introduzirem no universo do street wear.

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"O hype estimula o empreendedorismo em crianças e adultos, o que na minha opinião é maravilhoso, pois estamos programando a mente das pessoas para quererem vencer e conquistar suas coisas." (Fellipe Escudero, Hyped Content Br)

E o lance da ostentação num país com histórico de desigualdades, pobreza e fome? Qual o posicionamento do canal diante disso?
Essa é a questão mais polemizada. De fato, vivemos em um país de desigualdades sociais e as peças mostradas nos vídeos são caríssimas. Mas o que as pessoas não sabem é que a maioria das pessoas que aparecem no vídeo praticam o resell, até mesmo o Gian, o garotinho de jaqueta laranja. Eu mesmo sou advogado, pratico resell e produzo conteúdo para o YouTube, essa foi uma forma de me reinventar na crise, o que me permitiu continuar com o meu lifestyle. O que chamam aqui de ostentação, é conhecido como flexin' pelos gringos, e querendo ou não, o flexin' faz parte desse cenário. Ninguém compra peças de roupa somente para deixá-las guardadas nos armários.

Muitos que aparecem no vídeo são adultos, e todos trabalham, empresários, autônomos, estilistas e resellers. A culpa da desigualdade social não é nossa, pelo contrário, existem muitos rapazes de origem humilde incluídos na cena que conseguem auferir renda neste ramo, como o rapaz que aparece mostrando o bilhete único no vídeo do “Quanto Custa o Outfit Ep. 2”.

O cara que é bancado pela família, e não compra as coisas com o produto de suas próprias conquistas, merece respeito na cena do hype?
Mesmo sendo autônomo e comprando minhas peças, não vejo problema nisso, até porque a cena é repleta de crianças e adolescentes. O que as pessoas têm dificuldades de entender é que a partir do momento que você adquire uma peça, você tem a possibilidade de vendê-la ou mesmo trocá-la por outra, e ainda assim auferir lucro, o que permite até as crianças a ganharem uns trocados.

O hype estimula o empreendedorismo em crianças e adultos, o que na minha opinião é maravilhoso, pois estamos programando a mente das pessoas para quererem vencer e conquistar suas coisas. Por outro lado, existem também aqueles que compram os produtos bancados pelos pais e se orgulham disso, são esnobes e se acham melhores por terem as peças, esses sem dúvida não merecem o respeito.

Quais são os planos do canal para este ano?
Nosso canal é muito novo, começamos no início de janeiro. Agora que conseguimos aumentar nosso público e marcamos nosso nome no cenário, vamos continuar com os quadros já existentes no canal, gravando a coleção de Hypebeasts, entrevistando pessoas influentes do seguimento, entre novos projetos que vêm batendo à nossa porta. Nosso projeto vai muito além de um canal no YouTube, nossa página @hypedcontentbr é a única interativa do segmento. As pessoas se divertem com nosso Instagram, estamos a todo tempo respondendo os seguidores e pedindo suas opiniões.

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