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O Dia em que Eu Resolvi Comprar uma Máscara de Gás

Os Black Blocs do Rio de Janeiro não querem sair da rua, e a polícia tem novos brinquedinhos além dos gases de pimenta e lacrimogêneo.

A frustrada tentativa de ocupar a Câmara Municipal há umas duas semanas deixou a galera com gostinho de quero mais. Assim, na sexta-feira passada, quando Chiquinho Brasão foi eleito presidente da CPI dos ônibus, a chapa esquentou. De maneira surreal, o presidente Brasão e o relator Professor Uoston foram alguns dos vereadores que votaram contra a CPI. A pizza já tava no forno, mas a galera não deixou ela assar. Em apoio à ocupação, esta segunda-feira, um ato foi convocado, com concentração na candelária e destino ao Tribunal de Justiça, a ALERJ e finalmente à câmara, repetindo a trajetória da manifestação anterior.

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Acabei me atrasando para sair de casa e fui direto para a câmara municipal, aonde tinha uma galera acampada nas escadarias, dando suporte ao pessoal ilhado lá dentro, mas comunicável através das grades dos portões de ferro. Estava rolando um funk do lado de fora, e o “Rap do Silva” ganhava uma nova versão com o refrão “Era só mais um Amarildo, cuja estrela não brilha”. Não demorou muito para que uns mil Black Blocs chegarem e ocuparem as escadarias.

As escadarias estavam repletas de cartazes e pixações com várias reivindicações e denúncias. Como esse daqui, sobre o assassinato do boliviano Bryan em São Paulo. Como dizia o Rho$$i, num som antigão do Pavilhão 9, “de São Paulo ao Rio são só seis horas, aliado não demora!”.

Como tem sido praxe nas últimas manifestações o “Comandante Gente Boa” (que antes atuava como P2, como comprovam fotos na internet) e sua tropa ALFA, BRAVO e CHARLIE acompanhavam os Black Blocs desde a Candelária e começaram a revistar um monte de gente aleatoriamente. Essas revistas sempre acabam causando bastante tumulto e indignação, que podem levar à exaltação de alguns manifestantes, que costuma funcionar como o estopim que eles precisam para descer a mão na galera.

Eis que chega a notícia de que o Palácio Guanabara tinha acabado de ser ocupado por professores em greve que estavam numa reunião com o vice-governador Pezão. A galera se organizou para ir lá dar uma moral pros “tios”.

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A tática adotada pelo Black Bloc em suas grandes caminhadas pela cidade (na JMJ, a galera chegou a andar uma meia maratona), é se adiantar à polícia e organizar o fechamento das ruas eles mesmos, sempre pela contramão. Volta e meia um ou outro cidadão comum fica apavorado e tenta voltar na contra mão como esse aí.

Alguns taxistas também costumam ficam bem putos, mas a galera caga. No Rio de Janeiro, eles ocupam a segunda posição dos personagens mais filhas das putas do trânsito, um degrau abaixo dos motoristas de ônibus e um acima dos ciclistas que andam pela calçada.

Porém, no geral, a galera apoia, piscando a luz e buzinando. A ideia dessa tática é usar os carros como um escudo humano para evitar a repressão nos deslocamentos dos BBs. O melhor de tudo é que essa tática vai contra todos os manuais de manifestações que já li na vida, que sempre começam com a informação prévia do trajeto à polícia, Prefeitura e Corpo de Bombeiros, o que muitas vezes leva ao veto da manifestação, que deveria ser um direito constitucional.

A galera foi dando vários piques de corrida, com o objetivo de deixar a polícia sempre para trás, e em meia hora chegaram ao Palácio, que estava gradeado e protegido por alguns PMs comuns.

Liderando os PMs, estava um oficial todo pomposo e arrogante, que ficava desfilando de um lado pro outro tipo um Kim Jong-il afetado.

Esse PM Marques O- aí também tá em todas, sempre arrogante e provocador. Procure por ele nos vídeos e fotos das matérias anteriores.

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Os Professores estavam trancados numa das alas do palácio, numa negociação tensa. Do lado de cá, a galera ainda estava relax, numa pegada mais performática, preparando o terreno com pixações e bandeiras queimadas.

Então, temendo uma invasão – afinal, a PM estava em número muito menor – apagaram as luzes do Palácio e começaram a remover à força os professores que estavam lá dentro, e não tinham nem disposição nem os meios de resistir. Do lado de cá da grade as coisas eram diferentes e logo começaram a chover cabeções de nego e foguetinhos para cima da polícia. O clone do Kim Jong-Il chegou bem perto da grade com um sorriso nervoso, apontando para alguns manifestantes, foi quando ele tomou uma pedrada na cabeça e um fio vermelho escorreu bonito da sua testa. Só consegui clicar depois que dois outros PMs o levaram para trás do escudo.

Quem assumiu depois foi esse cara aí com pinta de miliciano, que estava à paisana no inicio da treta e correu para pegar um colete e uma escopeta calibre doze.

Do lado de cá, a galera derrubava as grades com voadoras, ou as puxava, e os PMs respondiam com gás de pimenta.

Numa dessas, eu me fudi, porque um PM pulou para o lado de cá e só quem ficou para ver foi um bando de fotógrafos idiotas como eu que tomou um jato de acarajé na fuça.

Então, a Choque chegou e colocou a galera pra correr atirando gás lacrimogêneo praticamente de uma ponta a outra do palácio. Embora em menor número do que nas outras manifestações no Palácio, eles estavam usando armas novas, que atiravam longe pacas.

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Quem sempre se fode nessas é a Sociedade Viva Cazuza, que trata crianças aidéticas, e sempre toma um monte de gás lacrimogêneo na fuça.

A galera fugiu para as ruas adjacentes, onde fechou ruas e ateou fogo em barricadas. Como sempre, aparece um monte de “dimenores” para ajudar.

Essa mina aí me ajudou a lavar a porra do gás pimenta da cara. Muchas gracias!

Um fotógrafo se machucou feio com um estilhaço de bomba e torceu o pé duas vezes tentando correr. Ele foi ajudado por socorristas voluntários até a ambulância dos bombeiros chegar.

Nesse meio tempo, os professores haviam sido expulsos, e, após duas tentativas frustradas de reocupação, o Black Bloc retornou para a Câmara Municipal, deixando sua assinatura pelo caminho.

Já em casa, fotografei esse interessante artefato mais ou menos do tamanho de um isqueiro Bic que acertou o pé de um amigo após ricochetear na perna de outro. Nos lembrou daquela bombinha do Super Mario.

Resumindo, no episódio de hoje, aprendemos que a PMERJ pode até estar um tiquinho assim menos ostensiva nos últimos protestos. Mas a compra de armamentos não para e a cada manifestação eles exibem novos brinquedinhos que atiram diferentes projeteis cada vez mais longe. Além de gás lacrimogêneo e gás pimenta, que eu tive o desprazer de atestar ser muito mais forte do que o de antes. Além de todo esse aparato bélico os soldados da Choque também estavam equipados com um dispositivo no qual eles conseguiam falar através da máscara com voz de robô, estilo Darth Vader.

Aliás, a propósito, cadê o Amarildo!?

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Anteriormente: 

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro Virou Playground do Black Bloc