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O Governo Grego Pode Ser Mais Amigo do Aurora Dourada do que se Pensava

O escândalo político mais recente que ameaça a democracia grega desde a imposição da austeridade é a divulgação de uma conversa filmada entre o ex-secretário do gabinete do governo, Panagiotis Baltakos, e o porta-voz do Aurora Dourada, Ilias Kasidiaris.

Panagiotis Baltakos no vídeo em questão.

Vai demorar para a Grécia conseguir sair do atoleiro econômico, apesar de todas as coisas que os apresentadores de TV do país vêm dizendo ao público nos últimos meses. E, na verdade, a grana é a menor dor de cabeça deles agora; o verdadeiro problema é que o sistema político grego está fodido em todos os aspectos, mas conseguiu esconder sua cara feia debaixo de uma pilha de dinheiro durante os anos de prosperidade. Tivemos que lidar com essa feiura desde que o dinheiro acabou, e não está sendo nada fácil.

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O escândalo político mais recente que ameaça a democracia grega desde a imposição da austeridade é a divulgação de uma conversa filmada entre o ex-secretário do gabinete do governo, Panagiotis Baltakos, e o porta-voz do Aurora Dourada, Ilias Kasidiaris. O vídeo sugere que a ação penal contra o partido de extrema-direita, por acusações de que ele seria uma “organização criminosa”, foi orquestrada pelo governo numa tentativa de fazer avanços políticos e ganhar votos.

Obviamente, isso levanta questões sobre algumas coisas — por exemplo, a validade do processo de 150 mil páginas, compilado pelas autoridades judiciais depois do assassinato de Pavlos Fyssas, ativista antifascista e rapper, por George Roupakias, membro do Aurora Dourada, ano passado.

Kasidiaris soltou a transcrição do vídeo no parlamento na quarta-feira passada, durante a reunião sobre a retirada da impunidade política de cinco parlamentares do Aurora. Depois da divulgação, o filho de Baltakos invadiu escritórios de parlamentares do Aurora Dourada e tentou atacar três suplentes do partido. A liberação do vídeo no site russo Rutube jogou o sistema político e judicial da Grécia num turbilhão, já que Baltakos — que resignou depois disso — era amplamente visto como o braço direito do primeiro-ministro Antonis Samaras, escolhido a dedo por ele para ajudar a moldar e dirigir a política do governo. E se ele acha que tudo bem inventar acusações criminais, vai saber o que mais ele andou aprontando.

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O chefe do Aurora Dourada, Nikos Mihaloliakos, escoltado do tribunal em Atenas — setembro de 2013. (Foto por Alexandros Katsis.)

Na transcrição, Baltakos aparece se desculpando com Kasidiaris pela maneira como os eventos se desenrolaram durante a investigação em curso. Ele sugere que o investigador não tem evidências contra Kasidiaris — e contra outro parlamentar do Aurora, Ilias Panagiotaros —, por isso que os dois não foram presos. O que significa que ele apoia abertamente a inocência deles, enquanto também sugere que a responsabilidade por eles não terem sido detidos é dos ministros do governo, não das autoridades judiciais. Baltakos então sugere que os oficiais do governo interferiram conscientemente com o processo judicial, numa tentativa de desmantelar o grupo de extrema-direita.

A facilidade e descontração com que o oficial do governo dialoga com um membro do que, para muitos gregos, é a fossa da política — um partido que muitos consideram ser a força política mais violenta da União Europeia hoje — causou uma onda de choque por todo o país, reforçando a sensação de que há algo podre no coração do sistema político grego. No vídeo, Baltakos diz a Kasidiaris que o primeiro-ministro grego, que ele descreve como “burguês”, está convencido de que a acusação criminal ao partido neonazista beneficiaria seu próprio partido, o Nova Democracia.

Ainda de acordo com Baltakos, a juíza da Suprema Corte, Euterpe Goutzamanis — uma cristã devota — foi indicada para o cargo por vir da mesma cidade que o primeiro-ministro. No vídeo, Baltakos diz que Goutzamanis acusa o Aurora Dourada de ser formado por “pagãos, idólatras [e] nazistas”, acrescentando que “isso vai contra o cristianismo”. Os membros do Aurora Dourada foram acusados, Baltakos diz a Kasidiaris, não por terem feito algo de errado, mas por que Goutzamanis armou para eles.

Em 2012, Panagiotis Baltakos expulsou um representante da Comissão Nacional dos Direitos Humanos de seu escritório, afirmando que o governo do Nova Democracia não tinha interesse em direitos humanos e que ele, pessoalmente, não dava a mínima para as responsabilidades internacionais do país.

Infelizmente, algo me diz que mais revelações perturbadoras estão por vir.