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​5º Ato Contra Tarifa no RJ Termina com Cassetadas e Detidos

Muita polícia e muita treta marcaram o 5º ato carioca que contou com um pouco mais de 100 manifestantes.
Todas as fotos são do Matias Maxx.

Aquele corinho "Amanhã será maior" não tem virado muito em 2015 — pelo menos não no Rio de Janeiro. A cada semana, o ato contra o aumento das tarifas tem minguado. Na sexta passada, na concentração do 5º ato, pouco mais de 150 pessoas compareceram, além dos muitos e muitos policiais de sempre. Mas isso não abalou a confiança dos grupos que estavam ali, que ficavam aos berros e com os megafones disputando a atenção de quem passava por lá.

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Às 18h30, tomaram a Av. Presidente Vargas. Rapidamente, a Choque se adiantou ao protesto, preparando uma linha à sua frente e aos lados. A galera ficou um tempo parada decidindo o que fazer.

Então, o grupo que levava uma das faixas conseguiu sorrateiramente dar um olé na polícia e ultrapassar a sua comissão de frente. Um oficial sem identificação, que vou chamar carinhosamente de "gordinho de óculos" (embora ele deva se considerar "forte", e não "gordo"), ficou nervosão e comandou um pequeno grupo de policiais pra dar uma corrida, ultrapassar o povo da faixa e fazer uma nova linha de frente; enquanto isso, sentava o esporro nos manifestantes dizendo que isso não era permitido para a segurança deles.

Então, o ato seguiu, novamente envelopado, com apenas um ou outro louco carregando cartazes à frente, além da imprensa. Parecia que eu tava clicando o "Putsch da Cervejaria" de Munique.

O lance foi envelopar o ato e colocar motos da Choque abrindo o caminho.

Sério, olha que engraçada essa comissão de frente com as bandeiras pretas: tem até coreógrafo. Isso me deu impressão de que eles estavam fechando com o ato, e não querendo fechar o ato.

Pelo caminho, vários cartazes pedem a liberdade dos ativistas presos.

Um monte de carro de polícia… e nenhuma ambulância. Socorristas, quando presentes nesses atos, são sempre voluntários.

Não creio que esse fuzil dispare armamento não letal, mas vai saber.

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A estação de metrô e trens da Central do Brasil estava com a segurança reforçada. Quando o ato se aproximou da Central, a turminha da faixa preta tentou novamente dar um olé no Choque e se adiantar, mas foi bloqueada rapidinho.

Aí o que aconteceu a seguir foi surreal e poderia ser cômico – se não fosse trágico. A PM apertou o cerco em volta dos manifestantes, não os deixando avançar mais. Um grupo tentou abrir caminho, mas a polícia não deixou.

A galera ficou parada ali uns dez minutos. Até que descobriram uma brecha no cerco lá atrás, por onde os manifestantes foram saindo, contornando o bloqueio da polícia e correndo em direção à estação.

Os PMs ficaram um tempo sem saber o que fazer. Consegui ouvir o gordinho de óculos ordenar: "A vanguarda vai, o resto fica!". Segui a galera, que correu pra dentro da estação seguida pela tal "vanguarda". Quem ficou pra trás, começou a levar cassetada da polícia.

A estação estava lotada de policiais e populares: lá se reprisou aquela situação ridícula em que policiais e mídias ficam caçando manifestantes. Notando que populares entraram correndo e chorando na estação, resolvi ir ver o que estava rolando lá fora. Fiquei sabendo que dois caras foram detidos, um deles com a cabeça toda ensanguentada. Outros dois manifestantes jaziam deitados na rua e na calçada. Este moleque levou uma cassetada na nuca, pelas costas, e desmaiou na hora:

Este daqui levou uma banda e várias cassetadas, fraturando a perna:

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Grupos cercavam os dois feridos, enquanto a polícia observava de longe. Nesse dia, não havia socorristas voluntários; e, mesmo com dezenas de pessoas ligando, a ambulância demorou quarenta minutos pra chegar. O sujeito de perna quebrada já tinha conseguido uma carona pra levá-lo de lá, mas o outro tava tão na merda que o pessoal tinha medo de movê-lo dali.

É claro que, a essa altura, já tinha bem menos gente ali. As bandeirinhas de partidos, como sempre, foram as primeiras a desaparecer. Aí eu acompanhei umas vinte cabeças que se dirigiram ao Hospital Souza Aguiar, pra onde foram levados os feridos, inclusive o que foi detido.

O pessoal foi caminhando pela faixa de pedestres e pelas calçadas. E, mesmo assim, fomos seguidos pelo Choque.

O sinal fechou e eles nos alcançaram na calçadinha entre duas pistas da Avenida Presidente Vargas; então, começaram a revistar todo mundo que tinha mochila: ou seja, a imprensa – eu inclusive. "Vocês não querem tanto filmar o meio aqui? Então, vem pra cá". Como sempre, eles te puxam com o auxílio do cassetete, torcendo pra você se emputecer e dar-lhes uma justificativa para te dar porrada de verdade.

Parece que um dos primeiros a ser abordado estava com uma lata de spray na mochila e, provavelmente por conta disso, conseguiu fugir do cercadinho, abandonando a mochila. "Porra! O cara tava achando que a gente ia levá-lo por causa de uma latinha???", disse um dos PMs antes de entregar a mochila pra advogada do DDH-OAB que nos acompanhava. A gente seguiu nosso caminho, e a PM continuou nos seguindo, dessa vez de motos. A gente ficou brincando que era nossa escolta particular, uma vez que normalmente não é muito prudente sair andando com uma câmera no pescoço nessa área da cidade nesse horário. Será que, se aparecesse um ladrão chapado o suficiente pra tentar nos roubar, eles iam perder a chance de pagar de herói??? Ou iam deixar rolar e foda-se? Vai saber…

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No hospital, já tinha um grupinho de manifestantes, fora um monte de policiais, alguns outros pacientes e um grupo de mendigos que mora ali mesmo – e um deles ficou xingando a polícia pra caralho. Foi bem engraçado.

Não parava de chegar polícia, inclusive de Kombi.

Demorou muito, mas o primeiro a ser liberado foi o rapaz da porrada da nuca. Ainda meio desorientado.

Passou mais uma meia hora até o cara da perna fraturada sair. Vários oficiais da PM entravam e saíam do hospital sem parar. Segundo informações, eles estariam interrogando o outro ferido, o que é uma pratica ilegal. A advogada que nos acompanhavam tentou entrar, mas foi barrada, uma vez que apenas pacientes menores de idade têm direito a acompanhante. O mesmo funcionário que negava o acesso à advogada ficava querendo expulsar os fotógrafos. Não dava pra saber se ele era apenas um pau mandado "fazendo o seu trabalho" ou ele queria esconder alguma coisa.

A confusão no ato se deu precisamente às 18h20. Chegamos no hospital uma hora depois, mas apenas às 23h15 o último paciente foi liberado; como ele havia sido detido e tinha de ser conduzido à delegacia, armaram a maior presepada pra ele entrar no carro. Deu pra ver que ele tava bem machucado e com cara de poucos amigos.

Outro rapaz havia sido detido mais cedo, conduzido à 17ª DP e liberado. Esse daqui ainda teve de passear: primeiro, ele foi encaminhado à 17ª; depois, à 21ª; em seguida, reconduzido pra 17ª; e, por fim, levado à 22ª, onde finalmente conseguiu prestar depoimento. A acusação era de desacato: segundo testemunho do policial, ele havia se recusado a largar uma faixa, e por isso foi covardemente espancado. Ainda existem policiais civis prudentes nesta cidade: o delegado considerou como fato atípico, que é uma conduta que não representa crime (afinal, não é crime segurar faixas). Eram 3h30 quando o manifestante foi finalmente liberado com cinco pontos na cabeça.