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Minecraft - Um Jogo em que Você Pode Construir uma Piroca Gigante

Tudo no Minecraft é feito de pequenos cubos, e esses cubos podem ser removidos e recolocados pelo jogador, permitindo que você construa qualquer coisa.

Markus "Notch" Persson, criador do Minecraft, desenhado fazendo cooper nas ruas de Estocolmo

Suspeito que o Minecraft assustou a indústria de videogames pra caralho. Ou seja, a indústria de videogames tradicional, que continua empenhada em colocar supersoldados e coelhos caratecas olhudos com nomes como Noodles MacGee na capinha das caixas de DVD. Isso porque antigamente, se você queria um sucesso de vendas, tinha que seguir as regras. Armar uma cuidadosa campanha promocional pra falar sobre a mecânica do jogo, o inimigo de inteligência artificial e sobre a decisão de fazer o ajudante do personagem principal com uma serra elétrica neon no lugar da cabeça. Aí você escolhia um nerd sensível e meio bonitinho pra falar da sua visão de um jogo onde a maioria do elenco de apoio parecesse ferramentas de uma oficina de moto de caipira americano. E quando o dia do lançamento finalmente chegasse, você contratava a Kelly Brook para ficar na frente do palácio de Westminster usando uma calça com o seu logo, e mandava uma caixa cheia de brindes e uma camiseta pra todo mundo da imprensa. Bons tempos aqueles. Sinto saudade. Principalmente dos brindes, que estão ficando cada vez mais caros hoje em dia. O Minecraft não fez nada disso. Nada de Noodles Macgee, cabeças de serra elétrica e explicações sobre a mecânica do jogo. Nada de Kelly Brook nem camiseta promocional. O jogo nem vem numa caixa. Você baixa direto do site do desenvolvedor, e o desenvolvedor — um pacato sueco chamado Markus "Notch" Persson, que agora tem mais dinheiro que o programa espacial — lucra quase 100% do que você pagar. Ele nem liga muito se você piratear o jogo. Por que, né? O cara já mora numa cúpula geodésica, feita de urânio, enterrada numa cratera da lua. Que ele comprou. Então, por que o Minecraft fez tanto sucesso? Em grande parte por causa da estratégia do negócio. Notch não esperou nem terminar o jogo para lançá-lo. Aliás, ninguém liga mais pra isso, né? Ao invés disso ele permitiu que os jogadores comprassem uma versão alfa, e depois a beta, onde o projeto ainda estava sendo desenvolvido. Boa jogada: assim ele construiu uma comunidade, financiou o desenvolvimento e começou a difundir a coisa toda com uma simples conta no Paypal. A outra razão, no entanto, é que o Minecraft é genuinamente meio que especial. É um lugar mais que um jogo, para iniciantes: uma gigantesca caixa de areia processualmente gerada cheia de montanhas e árvores, oceanos e poços de lava borbulhante, e é tudo seu, para dar a forma que você quiser.

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Um trailer feito por um fã (eca) do Minecraft

Tudo no Minecraft é feito de pequenos cubos, e esses cubos podem ser removidos e recolocados pelo jogador, permitindo que você construa qualquer coisa, de uma simples caverna até um modelo em escala do sistema de metrô de Moscou. Minecrafté como morar num Lego, com toda a maravilhosa liberdade sem propósito que uma coisa dessas significa. Claro, se você realmente quiser, dá pra subir de nível, abater porcos, e ter um final de jogo envolvendo um dragão gigante. Se isso te apetece, dá pra jogar uma versão do Minecraft onde você precisa comer para continuar vivo, e tem zumbis e outros bichos estranhos que se esgueiram durante a noite e explodem bem na sua cara. Para muitos jogadores, no entanto, o que importa no Minecraft não é qualquer tipo de estrutura ou desafio além da estrutura e do desafio que você mesmo inventar. Em outras palavras, o que importa é construir um pinto do tamanho da Grand Central Station onde você pode correr pra cima e pra baixo. E acontece que um número surpreendente de pessoas realmente quer construir um pinto do tamanho da Grand Central Station e correr pra cima e pra baixo nele. Elas querem subverter a ordem de um enorme mundo de jogo vazio, cavando buracos, acidentalmente tacando fogo nelas mesmas, ou se afogando numa correnteza imprevisível de água azul em bloquinhos. Elas não só jogam esse game sem objetivos óbvios e absolutamente sem tutorial, como elas contam pros amigos, e todos eles descolam um servidor e constroem cheios de alegria um pinto gigante colaborativo. Dê uma olhada online, as profundezas do amor pelo Minecraft são perturbadoras. Os Minecrafters do YouTube ficaram famosos por conversar através de vídeos enquanto jogam. Minecrafters da Wiki escarafuncharam cada umas das possibilidades oferecidas pelo sistema de criação do jogo. Notch não construiu apenas um público. Às vezes parece que ele criou um exército: centenas de milhares de arquitetos e paisagistas virtuais que fogem desse mundo pra tomar posse de outro, onde os oceanos são feitos de pixels e o horizonte de milhares de caixas engraçadinhas.

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Markus "Notch" Persson, preso entre a realidade e o Minecraft

E além de tudo, o próprio Notch tem sido maravilhosamente razoável: difuso e europeu diante da sua fama e fortuna repentinas, se recusando a pousar no centro de Estocolmo com um Boeing 747 de ouro amarrado em cada pé, e ansioso pra mencionar que o Minecraft foi inspirado em Infiniminer e Dwarf Fortress ( não tão sexy quanto parece, aliás). E apesar disso, ele chacoalhou a indústria dos videogames até o cérebro balançar, sugerindo silenciosamente que a maioria dos games atuais pode estar fazendo tudo errado, e pavimentando o caminho para milhares de outros indies que agora estão obcecados em criar seu próprio Minecraft. Às vezes, até parece que ele fez tudo isso por acidente. Ilustração por Cei Willis

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