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Foto por visuals/Unsplash
Saúde

Como lidar com a ansiedade e não virar uma fábrica de paranoia na quarentena

Tem gente fazendo de tudo: desde evitar ler as notícias até lista de sites pornô.

Você está enviando um e-mail, regando as plantas, preenchendo uma planilha ou botando roupa pra lavar. De repente e do nada, começa: angústia, coração disparado, mão suando, medo, aperto no peito. Só quem sofre de ansiedade sabe o peso de cada um desses sintomas. Eles vêm com os dois pés na porta, com ou sem gatilhos, e abrem uma fábrica de paranoia provida de uma criatividade impressionante. E agora, para ansiosos ou não, chegou o período de quarentena. Por conta da epidemia de coronavírus no mundo e no Brasil, muitas empresas mandaram seus funcionários trabalharem de casa até segunda ordem. O bom senso pede que a gente não vá para festas, eventos, restaurantes, evite qualquer tipo de aglomeração e não entre na onda babaca de estocar papel higiênico. Vida social já era. OK. É hora de ficar em casa e frear o contágio. Mas como frear o próprio cérebro?

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Sim, as redes sociais têm discutido que poder trabalhar de casa é um baita privilégio, já que trabalhadores informais e comerciantes, por exemplo, não podem simplesmente parar o que estão fazendo e ainda vão enfrentar uma temporada difícil pelas próximas – o que, na real, é responsabilidade do Estado. Por outro lado, o confinamento pode fazer mal para algumas pessoas por motivos diversos.

"Conversei com alguns amigos e muitos falaram para me afastar das notícias", conta a estudante de publicidade Duda Schiavo, 22. "Mas o que tá me deixando ansiosa é não ter controle da minha rotina, não ter a situação clara e não ter a mínima noção de quando isso pode ou não mudar. Quando vai acabar? Qual é a previsão?", questiona.



Muitas vezes, o ansioso não tem um motivo claro para sê-lo. Ou seja: o termo "fábrica de paranoias", usado no primeiro parágrafo, infelizmente, acontece. Para alguns, ter ansiedade é confabular o tempo inteiro sobre as piores e maiores loucuras – muitas vezes sem o menor sentido.

Nos primeiros dias de home office, os sintomas da Duda já deram as caras. "Passei a sentir muita angústia, coração palpitando, uma ânsia super forte, falta de ar", fala. Para evitar as crises, ela tenta adaptar a rotina que levava anteriormente. "Acordar antes, tomar banho, tomar café e trabalhar em um espaço que não me deixe tão 'em casa'", cita.

Não saber o prazo das coisas pode ser igualmente enlouquecedor para um ansioso. Se afastar bruscamente de qualquer resquício de vida social também – mesmo com o fato de muita gente que sofre com transtornos de ansiedade, pânico e depressão ter uma tendência a sair menos de casa.

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"Sou mega sociável e preciso de estímulo e conversas pra não enlouquecer", explica a publicitária Andressa Depieri, 32. Desde 2016 ela trata o transtorno de ansiedade com psiquiatra, terapia e medicamentos – a famosa tríade. "Tive alta, não tomo mais remédios e aciono a psicóloga quando preciso muito." Nesta semana, Andressa começa a fazer home office e já montou seu plano de guerra pra não ser derrubada pela ansiedade. Combinou com o vizinho e avisou também o ex-namorado, que mora a 300 metros de distância e hoje é um grande amigo. "Estou em constante papo com eles pra gente se ajudar, se falar e se ver quando possível. Já estou combinando com os amigos também de fazermos chamadas de vídeo, inclusive no final de semana, pra ninguém se sentir sozinho."

Para a psicóloga e psicanalista Valdeli Vieira, mestre em ciência da saúde pela Unifesp, o primeiro passo é a aceitação. "A quarentena não é uma escolha, é a única opção que temos no momento", pontua. "Costumo dizer que todo momento de crise pode contribuir pra que a gente encontre saídas criativas, pra que a gente encontre novas formas de viver, de se relacionar." Ou não tão novas também. "As pessoas podem resgatar práticas abandonadas, como autocuidado, leitura, desenvolvimento pessoal. E, além disso, muitos psicólogos estão disponibilizando atendimento online. Procurar esses profissionais pode ser um divisor de águas."



A publicitária Andressa escolheu se afastar minimamente do noticiário. "Já decidi que vou escolher umas horas do dia pra não ler notícias e não ficar mais ansiosa, porque a minha ansiedade bate e com ela vem um sentimento de solidão muito pesado". A psicóloga Valdeli bota fé na estratégia e diz que "ficar o tempo todo conectado, em grupos de WhatsApp ou redes sociais pode aumentar a ansiedade".

Nas redes, inclusive, o papo sobre ansiedade e quarentena tem sido amplamente discutido. Muita gente tem publicado lista de livros, filmes e séries pra geral assistir e não sofrer tanto com o distanciamento social. Até lista de sites pornô tem rolado no WhatsApp.

É sempre bom lembrar: se você apresenta sintomas de ansiedade, pânico ou depressão, procure um profissional.

@DeboraLopes

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