Meio Ambiente

Fundação Cacique Cobra Coral garante que Carnaval vai dar bom no Rio

Já em São Paulo vai ser uma merda mesmo. Segundo porta-voz da entidade, futuro climático do mundo é ‘deprimente’.
Fundação Cacique Cobra Coral

Depois de enviar uma mensagem que brinca com a queda de temperaturas prevista para o Centro-Sul do Brasil em pleno Carnaval (que promete até geadas), Osmar Santos, porta-voz da Fundação Cacique Cobra Coral explica: “Não fazemos previsões. Nosso foco é em alterar o clima pontualmente”. Segundo Santos, a melhor cidade brasileira para se curtir o Carnaval é o Rio de Janeiro. “Apesar das previsões, nós fomos contratados pela iniciativa privada local – não posso informar quem, temos um contrato de confidencialidade – para garantir o Carnaval. Pode anotar aí: no Rio o tempo vai ficar firme, mas deve chover em volta, na Baixada”, garante o porta-voz.

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Com décadas de atuação junto aos setores público e privado, a Fundação Cobra coral faz parte do folclore de eventos no Brasil – ficaram muito famosos após terem sido os responsáveis, segundo Roberto Medina, pela realização de um Rock in Rio menos enlameado em 1985. A receita é bem brasileira: desde jovem a médium paranaense Adelaide Scritori recebe a entidade espiritual Cacique Cobra Coral, que teria o poder de mudar o tempo em uma determinada área geográfica, evitando por exemplo, chuvas intensas (mesmo que contrariando as previsões climáticas).



As parcerias da Fundação com o poder público, que já foram mais aprofundadas, parecem terem se estremecido com o avanço do conservadorismo cristão no Brasil, e, se não fossem empresas locais, o Rio teria o mesmo destino de São Paulo: um Carnaval de 2020 frio e miserável. “Temos dois contratos permanentes que estão suspensos”, explica Santos. “Um com a prefeitura de São Paulo, firmado no tempo do [José] Serra. O [João] Doria [ex-prefeito e atual governador] nos atendia rapidamente, nos enviava relatórios em duas horas no máximo. O Bruno [Covas] é católico apostólico romano de carteirinha, e parece não querer saber da gente. No caso do Rio uma secretária me falou, ‘ele [o governador Wilson Witzel] é pastor, é claro que não quer falar com você’. E o Crivella [prefeito] só quer saber de passar a sacolinha”, ironiza. Para ele, era melhor lidar com os militares: “Geisel era evangélico e não falava com a gente, mas mandava o ‘bruxo’ Golbery – isso que era político de verdade”.

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Esses tais “convênios”, de acordo com Santos, são uma exigência da entidade que a Fundação representa – são contratos que exigem que o poder público faça a sua parte para mitigar os efeitos do clima nas populações, como obras para permeabilização do solo e piscinões. Se os governos não cumprem a sua parte, a Fundação se negaria a intervir no clima. Em 2015 a FCCC chegou a anunciar que estaria de mudança para a China, mas acabou ficando no Brasil – porém não abandonaram o contato com autoridades chinesas, e segundo Santos, foram convocados para ajudar o país asiático a combater o coronavírus. Como? Adiantando o verão chinês, que só chega em junho, para março ou abril. “É que o vírus não sobrevive ao calor”, garante o porta-voz. A operação, explica, deve ser realizada à distância, uma vez que tanto Santos quanto Scritori não querem ter que ficar de quarentena depois de pisarem em solo chinês.

Apesar de serem vistos com ceticismo pelos ateus e com desprezo ou ojeriza pelos crentes, a Fundação gosta de frisar que conta com o trabalho de meteorologistas e cientistas do clima, e tem alertado há muitos anos sobre as mudanças climáticas. “Você vê, estamos falando há quase 20 anos que o gelo das calotas polares vai derreter. Recentemente a temperatura passou dos 20 graus Celsius positivos na Antártica. A praia de Copacabana no Rio de Janeiro não vai ficar mais na Avenida Atlântica, até 2038 ela vai ser na Barata Ribeiro. Olha essas tempestades no inverno europeu com ciclones e ventos de 14 quilômetros por hora – como vai ser no verão?”, se espanta Santos. “Vamos ter que nos adaptar ou morrer. Logo mais não teremos várias comidas que gostamos, vai ser só comida de astronauta. E quando acabarem as abelhas? Imagina deixar isso para seus filhos e netos. É muito triste, é deprimente.” .

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VICE: Como a Fundação vê as tragédias que se abateram sobre as cidades brasileiras no início do ano?

Osmar Santos: É apenas o começo das mudanças climáticas. O clima não está mudando, ele já mudou. Há 22 dias atrás na Antártica fez 22 graus, sinal maior do que esse? Passamos pela Suíça recentemente e não teve neve esse ano, e já tem tempestade de verão. Como a nata, e elite , não está vendo esses sinais? Londres faz 10 dias que tem uma tempestade q atravessou toda a Europa, em cada ponta com ciclone, ventos de 140 km por hora no inverno? O que vem no verão? Lembro da matéria de quase 20 anos atrás que o que tá ali tá começando a acontecer agora. É o comecinho ainda. A praia principal do Rio fica na Av. Atlântica. A praia não vai ficar ali. Até 2038 a praia vai ser na Barata Ribeiro. A água tá subindo, o gelo tá descendo. Como vai ser com os Países Baixos - pelo menos eles usam a cabeça e os prédios são feitos para flutuar. Não adianta mais ouvir os cientistas, agora é para acompanhar a previsão do tempo diária. Não é que vão diminuir as chuvas. O q está acontecendo são precipitações irregulares, que não é bom.

O que a Fundação recomenda para a pessoa comum que queira contribuir para diminuir esses desastres climáticos?

Não adianta bater nos governos. Os governos são culpados, claro. Tóquio não tem lixeira. Cada pessoa guarda o seu lixo e chega em casa e guarda. Não falta escola, falta educação, que começa em casa. Nada muda se a população não mudar - é só uma bala, imagina uma bala de cada um das 20 milhões de pessoas em SP. A gente gasta mais com empresas de lixo do que com educação. Nada será como antes, já foi. É lamentável que estamos deixado para nossos filhos e netos um legado pior do que recebemos. Meus filhos e netos estão recebendo um legado sem água, sem comida. Só tem uma saída do jeito que tá, ou nos adaptamos ou morreremos todos. Você não vai ter o gosto de uma feijoada, fruta. Falta muito pouco para vivermos como astronautas. Quando as abelhas desaparecerem vai faltar comida, acabou tudo. É triste isso, deprimente. Estamos acabando com a nossa própria casa. E aí você vê essa corrida espacial tentando achar outro planeta, porque já sabem o que fizeram, tem q ter um plano para os bambambãs serem retirados e os outros ficarem pra trás. Não são frentes que estão subindo, as zonas de convergência que estão mais fortes, e fica caindo numa mesma localidade. SP não fez a lição de casa, mas mesmo com a lição de casa feita ninguém segura 200 mm em 4 horas, é chuva de 3 dias pelo menos. Mudou, e pra pior.

A Fundação mantém contrato com algum governo hoje ou foi contratada recentemente em virtude de algum evento?

Temos convênios mas estão suspensos. Suspendemos convênios com o estado do Rio, que era por tempo indeterminado. Mandamos ofícios e não tivemos respostas, secretária falou “é pastor e ele não vai responder isso não”. Convênios bienais como o da prefeitura do rio não existem mais. São Paulo – convenio suspenso, da época do serra, com a prefeitura. Convênio suspenso desde q o Doria saiu da prefeitura – não temos uma relacionamento com o Bruno como tínhamos com o Doria, mesmo quando ele estava viajando ele demorava menos de 2 horas para responder para a gente, ele mandava os relatórios. O Bruno vai fazer isso? Ele é católico apostólico romano, daquele de carteirinha – isso não é um impeditivo para nós, mas parece para eles. A gente tratava tudo do governo Geisel com o Golbery. Época que tinha político de verdade.

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