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reportagem

O que significa a proibição de carros a gasolina no Reino Unido

A partir de 2040, os britânicos não poderão mais comprar carros movidos à gasolina ou diesel.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK .

Será que o Reino Unido pode mesmo banir carros a gasolina e diesel até 2040, como pretende? Sim, pode. Quando chegarmos a 2040, fazer essa pergunta será como perguntar se podemos superar as carroças a cavalo. Ao colocar o alvo "ambicioso" do governo em perspectiva, a Volvo já anunciou planos de converter todo seu lineup de carros à gasolina para eletricidade ou híbridos até 2019, e a Noruega planeja proibir a venda de carros à gasolina em menos de uma década.

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De 2010 a 2015 um milhão de carros elétricos modernos foram vendidos. Chegar aos 2 milhões levou pouco mais de um ano, e as vendas estão crescendo rápido. Os números ainda são pequenos, claro, comparados com o bilhão de carros movidos à gasolina e diesel nas estradas do planeta; em 2017, carros elétricos ainda são produtos vendidos num mercado de nicho, mesmo sendo um nicho que cresce rapidamente. Então não deveríamos estar um pouco céticos?

Não. O motivo para os números ainda serem pequenos é que as baterias desses carros são incrivelmente caras. O elétrico Nissan Leaf custa duas vezes mais que o Nissan Micra, e você paga por uma bateria gigante que tem duração de apenas 190 quilômetros. Isso significa que baterias elétricas são limitadas a carros de luxo, ou para entusiastas do meio ambiente menos poluído dispostos a pagar muitas milhares de libras por um carro para apenas duas pessoas.

Ainda assim, a tendência é que as baterias sejam barateadas numa velocidade impressionante. Em 2010, as células custavam cerca de US$1.000 por kWh de capacidade. Em 2020, espera-se que o custo caia para cerca de US$100 por kWh, até menos. O preço da bateria de 30 kWh do Nissan Leaf deve cair de US$30 mil para US$3 mil em apenas dez anos.

Isso, junto com uma mudança crescente de infraestrutura, tornou uma nova gama de novos carros viável. Chocantes 120 novos modelos de carros elétricos dos maiores fabricantes do mundo devem sair até 2020, com uma frota que vai de SUVs a carros esporte, vans e minicarros para famílias.

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Mas como abastecemos todos esses novos carros? No momento, o pico da demanda por eletricidade no Reino Unido é 60 gigawatts. A Rede Elétrica Nacional reconhece que os carros elétricos podem aumentar essa demanda para até 8GW em 2030, e 18GW quando todos os carros do país forem elétricos. O que é muita coisa. Para comparar, a nova usina nuclear em Hinkley Point C vai produzir um máximo energético acima de 3GW, e custou cerca de £20 bilhões para ser construída. Precisaríamos de seis ou mais dessas para conseguir lidar com a demanda de carros elétricos.

Mas isso pode não ser um grande problema. Por exemplo, o uso de energia no Reino Unido tem caído há anos, com casas e negócios usando eletricidade de maneiras mais eficientes. Uma grande parcela desses gigawatts pode acabar liberada por novas tecnologias de economia nos próximos 20 anos. Além disso, todo esse poder extra significa mais renda para as empresas de energia, que podem investir em novas estações elétricas.

Uma ótima notícia para estações de energia, mas péssima para postos de gasolina. Uma das grandes críticas aos carros elétricos é que eles levam muito tempo para carregar – os supercarregadores de alta velocidade da Tesla levam cerca de meia hora para carregar 80% da bateria. Quem quer esperar tanto tempo para carregar o seu carro quando um tanque de gasolina pode ser enchido em um minuto ou dois?

Essa, claro, é uma pergunta idiota, porque supõe que vamos recarregar nossos carros do mesmo jeito que abastecemos, o que não faz sentido. Mesmo carros elétricos baratos podem fazer centenas de quilômetros entre recargas, mais do que a maioria das pessoas dirige por dia. Motoristas fazendo compras ou indo para a escola, depois plugariam seus carros durante a noite, podendo facilmente passar meses ou até anos sem ter que visitar uma estação de carregamento.

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"As pessoas sempre têm medo de mudanças, mas a realidade é que quase tudo sobre dirigir parece estar melhorando."

Mesmo se esse não for o caso, a maioria da gasolina hoje é vendida em postos de supermercado. Máquinas carregadoras – praticamente uma tomada com um leitor de cartão de crédito – seriam um próximo passo óbvio, barato de gerenciar, fácil de instalar em centenas de estacionamentos e não exigiria funcionários para comandar as operações. Reabastecer não será mais uma coisa para fazer quando você sai da loja, isso aconteceria durante seu percurso nos corredores do mercado. Nos raros casos onde você precisa dirigir 600 ou 700 quilômetros num dia, você deixaria seu carro carregando num posto da estrada enquanto faz a pausa para o almoço.

Carregar não será menos conveniente que abastecer, será mais fácil. Vai levar menos tempo porque acontecerá enquanto você estiver fazendo outras coisas. A ideia de ter que ir a algum lugar para reabastecer seu veículo vai ser tão obsoleta quanto o conceito de lan house, o que significa que postos de gasolina – fora de supermercados e shoppings – também serão obsoletos. Na verdade, os postos já estão morrendo: o Reino Unido tinha mais de 37 mil postos em 1970, e apenas um quarto deles resta hoje.

Há um outro grupo fazendo dinheiro com a bomba de gasolina: o governo. Os impostos sobre a gasolina fazem bilhões de libras todo ano. Se gasolina não for mais vendida, o governo terá que achar outro jeito de levantar esse dinheiro todo. A rota básica seria implementar pedágios urbanos, cobrando os motoristas pelo uso das estradas e ruas. Tecnicamente, isso não faria muita diferença nos custos de dirigir, mas você pode imaginar como a proposta seria vista pelos motoristas.

As pessoas sempre têm medo de mudanças, mas a realidade é que quase tudo sobre dirigir parece estar melhorando. Carros elétricos terão uma manutenção mais barata e conveniente que carros a gasolina. Eles causam menos poluição, porque a energia será produzida com gás limpo ou usinas nucleares, em vez de queimar combustível fóssil em motores incrivelmente ineficazes. Cidades como Londres, que sofrem com uma poluição do ar crônica, finalmente deixariam as pessoas respirar ar mais puro. A ideia só é uma bosta se você é frentista, e nesse caso… sorry.

@mjrobbins

Tradução: Marina Schnoor

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