Five men sitting around in a circle, commiserating
Ilustração por Tara Jacoby. 

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análise

O movimento de 'liberação dos homens' que o tempo apagou

Hoje, o movimento de direito dos homens é formado por incels e red pillers, mas nos anos 1970, os homens liberados pareciam mais com... feministas?

No começo do ano passado, no auge do furacão #MeToo, meu namorado virou pra mim e disse “Homens precisam de grupos de conscientização”. Estupro e assédio dominavam os ciclos de notícia, e nunca foi tão claro que mesmo caras que conhecemos e amamos podiam ser abusadores, e ainda assim as conversas que ele tinha com os amigos homens eram empoladas, breves e raramente pessoais. Homens precisavam de espaço entre outros homens em quem confiavam para abordar sua própria hostilidade contra mulheres, ele argumentou, ainda que latente; onde eles pudessem trabalhar as maneiras como o patriarcado os prejudicava também; onde eles pudessem realmente falar sobre seus sentimentos. Ele queria que tivesse um jeito de exigir engajamento entre os homens, os levar além de apenas sorrir, concordar com a cabeça e continuar fazendo o que sempre fizeram na vida pessoal.

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Na época, a noção parecia quase impossível de imaginar – a maioria das pessoas falando publicamente eram mulheres, muitas dizendo alguma versão de “cala a boca e escuta”, com a maioria dos homens seguindo o exemplo (e enfrentando as consequências quando falavam merda). Mas acontece que um movimento como imaginado pelo meu namorado existiu de certa forma, quando a segunda onda do feminismo estava começando a ganhar tração. Por alguns anos na década de 1970, existiu um movimento pequeno mais visível de “liberação dos homens”. Diferente do movimento moderno de direitos dos homens, eles eram ostensivamente favoráveis à liberação das mulheres e forjaram alianças com feministas importantes, apesar de suas intenções continuarem difusas e difíceis de decifrar. Grupos de liberação dos homens se formaram numa época específica da história norte-americana quando energia radical estava no ar, o conceito de “autenticidade” estava na forma mais alta de iluminação, e homens de todo os EUA foram confrontados por suas esposas e namoradas recém-liberadas.

Cinquenta anos depois, a coisa mais próxima que temos de sessões de conscientização dos homens estão nos subreddits incel, fóruns como o Men Going Their Own Way (MGTOW), e os comentários abaixo dos vídeos do Jordan Peterson no YouTube – muitos deles cheios de raiva, ressentimento e às vezes violência contra mulheres. E enquanto a retórica dos grupos atuais é mais descaradamente antifeminista, suas raízes podem ser rastreadas para os “homens liberados” dos anos 1970. Um desse homens, em particular, eventualmente escreveria a “Bíblia dos Direitos dos Homens” que inspirou Paul Elam, que depois fundaria o principal site de direitos dos homens, A Voice for Men. Essa é a história dos poucos anos quando os homens tentaram começar um movimento paralelo e pró-feminista ligando o pessoal ao político, com variados graus de sucesso – só para a coisa dar muito, muito ruim.

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covers of books by men's libbers

The Male Machine de Marc Feigen Fasteau; The LIberated Man de Warren Farrell; The Hazards of being Male de Herb Goldberg.

Em 1970, quando o movimento das mulheres tinha começado a aparecer no cenário dos EUA, o jovem psicólogo de esquerda Jack Sawyer publicou um artigo chamado “On Male Liberation” na Liberation, uma revista da Nova Esquerda talvez mais conhecida por publicar a “Carta da Prisão de Birmingham” de 1963 de Martin Luther King Jr. completa. “A liberação dos homens pede que os homens se libertem dos estereótipos de papéis de gênero que limitam sua habilidade de ser humano”, Sawyer escreveu. Um ano depois, a LIFE publicou uma longa matéria sobre a liberação dos homens – escrita, claro, por um homem, e entre propagandas sexistas risíveis (uma esposa preparando um piquenique com Pepsi e sanduíches enquanto os homens jogavam tênis; e uma propagada de Porto Rico com uma mulher de biquíni branco). O autor viajou para Berkeley, Flint, Cambridge e Portland, Oregon, falando com participantes dos grupos de discussão recém-formados.

“Muitos caras têm no fundo da mente que precisam ser durões, tipo um supermacho, só para existir”, disse Mike de Berkeley, que se envolveu com a liberação dos homens quando ser despedido deu a ele um sentimento de inadequação. Ele colocou um anúncio no Berkeley Barb organizando uma sessão de conscientização só de homens, formando um pequeno grupo que eventualmente realizaria um protesto no Playboy Club em São Francisco (um dos cartazes dizia ACABE COM A MASCULINIDADE COMPULSÓRIA, o que soa bem familiar) e publicou duas edições de um jornal de liberação dos homens chamado Brother. “Nosso inimigo não são as mulheres, é o papel que somos forçados a interpretar”, disse Mike. O grupo em Flint – nove homens, na maioria trabalhadores da indústria automotiva, que se encontravam semanalmente numa igreja depois do culto dominical – não era tão imerso na linguagem da contracultura quanto seus colegas hippies da Costa Oeste. Mas eles estava avançando também: “Dê às mulheres igualdade econômica e vai haver mais liberdade para os seres humanos conseguirem o que querem uns dos outros”, um dos membros disse. Uma vez, o grupo levou sanduíches e café para um piquete de trabalhadoras.

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O movimento nascente era comandado por um princípio básico, que agora é aceito (mesmo que às vezes negligenciado) como parte do feminismo mainstream: que os homens também são prejudicados pelos papéis de gênero, que os homens têm mais poder institucional mas ainda estão presos por sua agressividade e constipação emocional, ou as duas coisas. Aí vieram os artigos de opinião. Em 1972, num artigo do New York Times intitulado “Men's Lib – Almost Underground, but a Growing Movement”, um designer industrial elogiava seu grupo de discussão: “Não estamos só falando de políticas ou basebol; estamos falando sobre sentimentos”. A busca contracultural por autenticidade se mostrou uma vantagem para ideias feministas; o movimento das mulheres “levantou questões para mim sobre as partes falsas da masculinidade que eu comprava – e que sempre existiram”, outro homem dizia no mesmo artigo.

A matéria citava Warren Farrel, então estudante de PhD na Universidade de Nova York escrevendo seu doutorado sobre o poder político do movimento das mulheres. Ele tinha recentemente se juntado ao conselho do ramo de Nova York da Organização Nacional das Mulheres, cujas membros abordaram Farrell para ajudar a organizar grupos de conscientização para homens. Eventualmente, centenas de grupos se formaram pelo país, geralmente com menos de uma dezena de homens, se encontrando na maioria das vezes em suas próprias casas.

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Mandei um e-mail para Warren Farrell no começo da minha pesquisa, vagamente consciente de que suas visões tinham mudado desde então, mas curiosa para ouvir mais sobre seus dias de feminista. Depois de hesitação inicial – “Muitas vezes a VICE faz matérias sensacionalistas de ataque aos homens, então fico um pouco de preocupado com isso”, ele escreveu – mas ele concordou em falar comigo por telefone. Agora com 70 e poucos anos, ele mora com sua segunda esposa no norte da Califórnia, ainda escrevendo e falando sobre questões de masculinidade, e, apesar de ser amplamente conhecido como um dos intelectuais que alimentou o movimento de direitos dos homens moderno, ele se considera moderado politicamente e apoiou Hillary Clinton na eleição de 2016. Ele rastreia o momento em que ficou consciente para 1965, logo depois que se formou na universidade, quando sua mãe expressou arrependimento por nunca ter feito faculdade e em vez disso se focado no casamento.

Pelo telefone, Farrell foi simpático como um tio. Ele descreveu ter um “fogo nas entranhas” para explorar o movimento das mulheres, e lembra dos primórdios da conscientização como extremamente gratificantes. Como um facilitador desses grupos, ele colocava perguntas como “Qual é o maior buraco no seu coração?”. O ponto dessas discussões, segundo Farrell, era “confrontar tudo que era ensinado aos homens”. Os homens muitas vezes ofereciam apoio aos colegas, mas também se encorajavam a mudar.

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Headline from a LIFE magazine piece

No meio dos anos 70, alguns livros importantes tinham sido publicados – contra um fundo de recessão e o escândalo de Nixon – que lidavam com masculinidade, incluindo The Liberated Man de Farrell, The Forty-Nine Percent Majority de Deborah David e Robert Brannon e The Male Machine de Marc Fasteau. Esses livros trouxeram a liberação dos homens dos grupos de discussão para a teoria. Farrell escreveu sobre os custos psíquicos profundos da masculinidade restritiva, escrevendo que os homens “negavam a dependência” de seus entes queridos “e emoções levavam a silêncio e criação da mística masculina”. O livro de Feigen Fasteau pedia “uma visão da personalidade que não imponha comportamentos fixos para os indivíduos com base no sexo”. A edição de dezembro de 1974 da revista People fez um perfil do casamento igualitário de Marc com a esposa, Brenda Feigen Fasteau, uma advogada feminista que ele conheceu em Harvard, e que mais tarde fundou a Women's Action Alliance com Gloria Steinem. Nele, Marc prometia ajudar a criar os filhos dele de uma maneira que “pais obcecados com o trabalho” não podiam fazer. Eles fundaram uma firma de advocacia juntos. Os dois acrescentaram o sobrenome um do outro ao seu.

Muitas feministas apoiaram esse novo movimento; a fundadora do NOW Betty Friedan a Toni Morrison (que tinha acabado de publicar Sula) apareceram nos agradecimentos de The Liberated Man. Feministas liberais começaram a nutrir a ideia de enquadrar o movimento das mulheres como mais inclusivo, menos ameaçador no “debate de papéis de gênero”, tirar o foco da misoginia em favor da liberação psicológica dos dois sexos. Steinem escreveu a introdução do livro de Marc Feigen Fasteau, o chamando de “um espião nas linhas” da elite masculina branca. Steinem elogiou a abordagem pessoal de Marc contrastando com a hipocrisia de Karl Marx: Marx pedia a reimaginação radical da família, mas ainda exigia sacrifícios enormes da esposa. Muitos homens progressistas poderosos, ela explicava, ostensivamente apoiavam o feminismo, mas passavam a maior parte da vida repetindo alguma versão de “Shhh; Karl está trabalhando”.

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Me senti empolgada lendo esses primeiros livros e matérias; esses caras pareciam conscientizados como meus amigos que andam orgulhosos com seus bebês no Brooklyn, talvez até mais já que seu ativismo político incluía realmente conversar entre eles. Mas algumas frases me deixavam desconfortável, provocando um reconhecimento que ecoava o pior do treinamento de incels nas minhas menções do Twitter. “Se uma mulher quer sua própria vida e destino para controlar, ela não vai ter as mesmas chances de precisar controlar seu marido”, Farrell escreveu em 1970. “Os homens podem se tornar ainda mais restritos em suas identidades como seres humanos”, ele escreveu depois em The Liberated Man. “Apoie a assertividade de sua esposa durante o casamento, seu desenvolvimento educacional e ocupacional, e tudo mais que a torne uma pessoa autônoma e independente”, escreveu o psicólogo Herb Goldberg no livro de 1976 The Hazards of Being a Male: Surviving the Myth of Masculine Privilege. Por quê? Porque “durante o divórcio isso vai te deixar menos vulnerável à culpa”.

Às vezes, o movimento parecia sincero e vulnerável. Em outros momentos, parecia conspiratório com um tom de MGTOW, como se o feminismo fosse um ótimo jeito de controlar as mulheres. Em The Hearts of Men: American Dreams and the Flight from Commitment, de 1983, Barbara Ehrenreich argumentava que a resistência dos homens a papéis tradicionais vinha de muito antes do movimento das mulheres. Antes do feminismo ser moda, Ehrenreich escreveu, essa rebelião vinha na forma do que ela chamava de a angústia dos Dissidentes da Flanela Cinza com “conformidade”, meio que um equivalente do “problema sem nome” de Friedan. Homens evitando “conformidade” (e esposas) se tornaram playboys e beats. E 20 anos depois, ela suspeitava que uma certa cepa do movimento de liberação dos homens dos anos 70 era essa mesma “velha revolta masculina num novo disfarce”.

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Comecei a procurar o que as feministas mais à esquerda de Steinem e mulheres mais mainstream da NOW achavam sobre essa nova “revolta masculina”, e descobri que, talvez sem surpresa, elas não estavam tão empolgadas com a ideia. Feministas radicais não gostavam de ver a liberação das mulheres ser repaginada como o “debate dos papéis de gênero”; isso não só despolitizava o machismo mas ignorava o desequilíbrio de poder entre homens e mulheres. A socialista feminista Carol Hanisch (a escritora que cunhou a frase “o pessoal é político”) apontou que muitas das ideias vindo dos homens liberados eram apenas críticas não-reconhecidas ao capitalismo. Todo esse “choro sobre ser um objeto de sucesso” simplesmente significava “homens não gostam de seu trabalho”, Hanisch escreveu em sua antologia de 1975 Feminist Revolution. Era hora dos homens darem nome e lutarem contra “os verdadeiros exploradores”: o capitalismo.

“Obviamente prefiro escrever um bom livro do que sair por aí me conscientizando.”

Mas os liberados nunca se alinharam com movimentos políticos mais amplos como o socialismo. Em vez disso, o movimento permaneceu principalmente limitado a homens do colarinho branco emocionalmente atrofiados que se sentiam enfiados no papel do ganha-pão – o que levava a uma cegueira de classe e raça. Psicólogos criticando os papéis masculinos nos anos 70 desenvolveram uma teoria sobre o ciclo de vida do homem: agressão juvenil, frieza masculina adulta, e depois (se tivessem sorte) liberação. “Oficialmente era um movimento igualitário”, escreveu Ehrenreich em Hearts of Men, “mas metaforicamente a ideia subjacente era que os homens de classe trabalhadora eram culturalmente retrógrados”. Os liberados não só ignoravam as nuances das vidas de homens pobres e não-brancos, mas opor tipos estoicos a tipos agressivos não levava em conta os espancadores de mulher educados da sociedade, os universitários de fraternidade estupradores, ou homens que cresceriam para se tornar bebês raivosos que acham que têm todos os direitos nos altos escalões do governo como, digamos, Donald Trump e Brett Kavanaugh.

Mas parece que o principal motivo para o movimento não ter um poder durador foi porque os próprios homens não estavam tão interessados nele. Os artigos escritos por homens sobre a liberação dos homens nas publicações mainstream tinham traços óbvios de desprezo, numa matéria para a LIFE, por exemplo, o autor chamava esses grupos de uma “vanguarda embaraçosa” e usava a licença paternidade como um exemplo do mundo se tornando “sensível demais”. Uma avaliação de 1975 do New York Times de vários livros sobre masculinidade chamava todos eles de “beatos”, “túrgidos” e “autoindulgentes”. Mesmo Farrell admitiu que, fora alguns milhares de homens do país, os homens não estavam correndo para se juntar ao movimento. “Em certo nível todo homem resiste a ser parte de um grupo de homens”, lembrou Farrell. “A essência do que significa ser um homem de sucesso é reprimir seus sentimentos, não os expressar.” Em The Liberated Man, Farrell lembra infinitos bloqueios e conflitos nos grupos de homens que ele facilitou. Em um ponto, ele citou uma carta de Norman Mailer, recusando educadamente o convite de Farrell para um grupo de conscientização de homens: “Obviamente prefiro escrever um bom livro que sair por aí me conscientizando”.

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Nos anos 1980, Ronald Reagan era presidente dos EUA, a resposta negativa conservadora aos movimentos sociais dos anos 60 estava a pleno vapor, e a masculinidade tradicional era mais incentivada que nunca. Warren Farrell, descontente com a direção da liberação das mulheres, escreveu um livro chamado The Myth of Male Power em 1993, aquele que hoje é amplamente considerado a bíblia do MDH. Na introdução, Farrell reflete sobre seus anos como porta-voz do da liberação dos homens, admitindo que ele “lentamente se tornou bom em dizer o que as mulheres queriam ouvir”, mas que com os anos, ele observou “um aumento do ódio contra os homens, uma inquietude do olhar [feminista]”. Ele estava ouvindo as mulheres mas não os homens. Era hora de ouvir o que seus colegas do sexo masculino tinham a dizer.

The Myth of Male Power argumenta que os homens – oprimidos por “tetos de vidro” como a máquina da guerra, profissões perigosas e suicídio – na verdade estão piores que as mulheres. Ele afirma (como muitos no MDH hoje) que muitas acusações de estupro são falsas, e que, medindo gastos em vez de ganhos, as mulheres têm mais poder econômico. Farrell se posiciona não como agravando a batalha dos sexos, mas a recalibrando. The Myth of Male Power “não é um livro de autoconfiança para mulheres”, ele escreveu. “Ele ama as mulheres de um jeito diferente.” Mas você pode perdoar as feministas por pensar diferente.

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Diferente de Farrell, muitos dos outros porta-vozes da liberação dos homens parecem ter desaparecido nos anos 80. Enviei e-mail para Brenda Feigen para saber se ela ainda tinha contato com Marc, de quem ela se divorciou em 1982, e que parece ter sumido completamente do olho do público. Uma advogada ocupada que me ligou enquanto dirigia de uma reunião para outra, Brenda só tinha coisas boas para dizer sobre Marc, com quem ela ainda tem uma relação amigável (e que se recusou a comentar para esta matéria num e-mail para ela): “Ele estava muito interessado nos homens se tornando pessoas completas como as mulheres podem ser”, ela me disse.

Brenda foi menos simpática sobre Farrell, que ela disse que ele fez Marc “se afastar”, e que ele acabou “afundando num pântano de conversa fiada”.

Esse “pântano de conversa fiada” agora é o movimento moderno dos direitos dos homens. Mesmo não sendo um membro de carteirinha, Farrell frequentemente se posiciona como um padrinho mágico gentil e compreensível do fenômeno. Durante nossa ligação, ele repetiu um refrão que disse a outros repórteres e redditors antes sobre como cada movimentos precisa de seu próprio Martin Luther King e Eldridge Cleavers, como incels politizados de retórica violenta são como Valerie Solanas, cujo manifesto SCUM pedia a eliminação do sexo masculino e que depois atirou em Andy Warhol. Ele me disse que o lado radical de qualquer movimento sempre é “exagerado e tem raiva no coração”, mas que a raiva deles revela uma joia real. “Você tem que se perguntar”, ele me disse, “que dor eles estão expressando, e é válido ouvi-la?” Ele sugeriu que eu assistisse o documentário de Cassie Jaye apologético ao MDH The Red Pill, disse que Jordan Peterson é “cheio de ideias”, mas “mais conservador que eu”, e que algumas pessoas entendem que Paul Elam, que se inspirou em The Myth of Male Power e teve Farrell como mentor, é só um satirista. (E sim, poucas pessoas acreditam quando Elam joga a carta da sátira para justificar sua misoginia.)

Steinem foi bem mais diplomática que Brenda quando entrei em contato perguntando sobre Farrell e sua obra. Ela não “lembrava de 'homens liberados' como frase – em vez disso, eles eram 'homens feministas', já que o ponto é que todo mundo pode ser feminista”. Ela também não se lembrava dos homens feministas como “um momento da história, mas algo que continuou e cresceu – não o suficiente ou de maneira organizada, como deveria – mas ainda muito importante”. Ela apontou o Oakland Men's Project, um grupo formado principalmente por homens negros contemporâneos da liberação dos homens que apoiam homens adolescentes negros crescendo nas ruas de Oakland, e acrescentou que, além de Farrell, ela “não conseguia pensar em mais ninguém que passou para o lado 'os homens são as verdadeiras vítimas'”. Infelizmente, os “homens feministas” de Steinem não conseguiram apresentar uma alternativa de sucesso para o MDH. Há teóricos de gênero masculino como Michael Kimmel, mas ele não é um nome tão conhecido assim. Há muitos aliados homens, mas vários deles acabam sofrendo para conciliar o pessoal e a teoria – como Aziz Ansari e Eric Schneiderman. A desconexão “Karl está trabalhando” que Steinem apontou resiste há 150 anos.

Eu já estava sem esperanças para o futuro dos aliados homens quando Farrell fez uma analogia aguda, que eu gostaria de ver articulada na bíblia do MDH dele: desde o começo da segunda onda do feminismo, ele explicou, “acontece uma guerra onde só um lado apareceu, e os homens enfiaram a cabeça na areia e ficaram torcendo para não serem atingidos pelas balas”. É uma metáfora muito vívida, mas seu significado é maleável. Você pode interpretar do jeito como muitos caras do MDH fazem, que as mulheres venceram a guerra, tornaram os homens a classe oprimida, e agora eles devem se preparar para a volta triunfante. Ou você pode interpretar isso do jeito que acho que Warren Farrell interpreta, que os homens têm queixas legítimas sobre as mulheres, como serem mandados calar a boca enquanto as feministas lutam por direitos civis básicos.

Ou você pode interpretar isso do jeito que espero que as feministas façam, como um pedido para mais homens finalmente se levantarem e enfrentarem as consequências do patriarcado nas mulheres que eles amam e neles mesmos. Inércia emocional nunca será tão ruim quanto a ameaça do estupro, violência doméstica, corte dos direitos reprodutivos, ou a sempre presente desigualdade de salários. Mas está claro que os homens precisam de espaço para expressar seus sentimentos, um espaço que não tolere violência e culpar as mulheres por todos os seus problemas. (São as mulheres, no final das contas, que geralmente precisam suportar a brutalidade do ódio dos homens.) Os homens notáveis falando diretamente com os misóginos raivosos e alienados são pessoas como Peterson e Elam. Depois da eleição dos EUA de 2016, as mulheres não-brancas, com todo direito, disseram às mulheres brancas para abordar suas iguais. Talvez seja hora das mulheres dizerem aos homens – homens progressistas e feministas – para abordar os seus.

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