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Lady Gaga expõe toda sua dor em novo documentário da Netflix

Em momentos íntimos e públicos, cantora mostra os percalços físicos e emocionais decorrentes de uma vida inteira dedicada à música.

"Estou parecendo muito patética?", pergunta Lady Gaga para a câmera, seu corpo enrolado em uma toalha branca e jogado em um sofá rosa. Ela então começa a chorar, cobrindo seu rosto úmido com as duas mãos enquanto um fisioterapeuta cobre sua bochecha direita com uma bolsa de gelo. Conhecendo a tendência de Lady Gaga para o dramalhão, ficamos tentados a questionar seu sofrimento. Mas a fibromialgia, doença responsável pelos espasmos musculares e pela dor facial que afligem a cantora, é uma doença debilitante, sobretudo para quem passa horas cantando e dançando pendurada em cabos de aço e calçando saltos de 10 centímetros.

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Gaga: Five Foot Two, novo documentário da Netflix que acompanha a gravação e o lançamento do quinto álbum de Lady Gaga, Joanne, mostra sua luta contra a doença, desenvolvida em decorrência de uma fratura traumática do quadril durante a tour Born This Way, em 2013. Recentemente, Gaga anunciou em seu Instagram que uma crise da doença a obrigaria a cancelar sua tour européia. No documentário , filmado ao longo de oito meses, vemos Lady Gaga finalizar um álbum, gravar o clipe da música "Perfect Illusion", estrelar o episódio de American Horror Story que lhe rendeu um Golden Globe e se apresentar no Super Bowl — tudo isso enquanto ela recebe tratamento para uma doença que é agravada pelo seu estresse físico e emocional.



Permitir que Chris Moukarbel (diretor de Banksy Does New York) incluísse as cenas mais íntimas de sua batalha contra a dor crônica faz parte de uma evolução natural: Gaga vem, cada vez mais, usando sua plataforma para discutir questões como estupro e transtornos mentais. Em 2014, ela revelou ter sido estuprada aos 19 anos por um produtor musical 20 anos mais velho, experiência sobre a qual ela fala em "Til It Happens to You", música que ganhou um Oscar e que foi usada no documentário The Hunting Ground, que aborda a questão do estupro em campus universitários. Em 2016, ela falou publicamente sobre seu diagnóstico de Transtorno do Estresse Pós-Traumático, desenvolvido em decorrência de sua lesão.

Momentos íntimos espalhados pelo filme mostram uma versão mais vulnerável de Lady Gaga, incluindo uma cena na qual ela mostra a música que dá o nome ao álbum "Joanne" para sua avó e seu pai. O álbum recebeu esse nome em homenagem a sua tia, uma pintora e poeta que morreu em decorrência do lupus aos 19 anos. Na casa de sua avó, Gaga encontra um poema de Joanne que parece endereçado à sobrinha que ela não chegou conhecer: Não se engane / eu visto uma máscara / milhares de máscaras / e assim entro no jogo / esse desfile, brilhante mas vazio, de máscaras.

Embora Five Foot Two pretenda nos mostrar um pouco da vida pessoal de Gaga, assim como acontece com demonstrações públicas de dor, é difícil saber o que é real e o que é interpretação — ou se essa distinção existe. A nova Lady Gaga, ou pelo menos essa nova figura publicitária que surgiu enquanto ela lutava contra transtornos mentais e físicos, representa uma guinada rumo à autenticidade. Além disso, ela também parece sinceramente entediada com fantasias, alta-costura e com o glamour da fama (em uma cena constrangedora, um estilista bajulador descreve o novo visual de Gaga, simplificado a uma camiseta preta e short jeans, como "sensacional").

O momento mais sincero do documentário talvez seja a notícia de que Gaga terminou sua relação com seu noivo Taylor Kinney, segundo ela por causa das demandas de sua carreira — um estilo de vida que satisfaz seu impulso criativo mas que não deixa espaço para sua vida romântica. "Toda noite essas pessoas voltam para casa e eu fico aqui, sozinha", diz ela. Apesar dos efeitos negativos em seu corpo (e na sua vida amorosa), a longa devoção de Gaga à música segue inabalada. "Dizem que fazer música é como passar por uma cirurgia cardíaca. Os dois são invasivos", diz ela. Se a dor é uma parte necessária de sua performance, compartilhá-la com o mundo parece fazer parte do seu processo de cura.