Adeus, Carlos Eduardo Miranda
Miranda nos áureos tempos da Banguela Records (Arquivo Banguela Records/Reprodução)

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Adeus, Carlos Eduardo Miranda

Responsável pela salvação do rock BR nos anos 90 e começo dos anos 2000, o visionário produtor musical morreu de mal súbito na noite desta quinta-feira (22).

Em meados dos anos 1990, enquanto muitos já decretavam a morte do rock nacional e buscavam no axé e no poperô um filão comercial tão rentável quanto fora RPM, Lobão, Legião e quejandos, Carlos Eduardo Miranda sabia que não era bem assim. Ele não sofria da mesma miopia cultural. Ele sabia que lá no meio do underground estavam rolando várias coisas expressivas, e que faltava apenas um olhar mais apurado para dar voz não só a uma nova geração, mas, sobretudo, a uma nova estética.

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Já ouvi gente dizer que ele estragou o underground, que levou o hardcore e o manguebeat para o mainstream e tudo mais. Mas se não fosse por isso, fala sério, onde estaríamos hoje? Quem era adolescente na época e nunca pirou no primeiro álbum dos Raimundos, quem nunca almoçou antes de ir pra escola com a imagem do Chico Science passando na tevê, que atire a primeira pedra.

Amistoso, carismático e bom de papo, o Miranda morreu na noite desta quinta-feira, 22 de março, após ser acometido por um mal súbito. Ele estava com 56 anos. É triste, porém verdade. Ele ao menos será lembrado pela revolução que causou no cenário da nossa música, cujos efeitos são sentidos até hoje e permanecerão no imaginário coletivo até que tudo se queime.

Agradeça ao Miranda se você já cantou a plenos pulmões algum som do Rappa, do Skank, e até do Vanguart, Móveis Coloniais de Acaju e Cansei de Ser Sexy — para quem tem memória curta, foi ele quem levou a banda de electro para a gravadora Trama e deu a ideia de colocar um CDR virgem dentro do encarte do CD de estreia, a fim de incentivar a duplicação numa época em que as gravadoras ficavam com o cu na mão por causa do Napster.

O Miranda tinha visão, empolgava-se com as novas possibilidades da cultura pop, ao invés de se apegar a engessados padrões de marketing. Depois de passar pela revista Bizz com seus textos sobre bandas indie, ele criou, ao lado dos caras do Titãs, o selo Banguela Records, em 94, para ser o braço alternativo da Warner Music.

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Além do Raimundos, a Banguela revelou outros nomes da segunda geração do rock de Brasília, o Maskavo Roots e o Little Quail and The Mad Byrds. No rolê do manguebeat, trouxe, junto da Nação, também o Mundo Livre S/A. Porto-alegrense que era, Miranda não poderia deixar de olhar para os subterrâneos de sua terra natal, e assim ajudou a firmar nomes como Júpiter Maçã e Graforréia Xilarmônica.

Em 2004, no começo da expansão da internet no país, Miranda esteve à frente do Trama Virtual, uma genial ideia para aquele momento, que servia ao mesmo tempo de rede social, página institucional de artistas, download, streaming e portal de notícias. Miranda também foi o descobridor de Gaby Amarantos - ele produziu o álbum Treme, em 2012, estreia da cantora tecnobrega - e atuou como jurado de programas de tevê na Globo (Ídolos) e no SBT (Qual é Seu Talento).

Miranda deixa a mulher e uma filha de dois anos.

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