O Lado Dance Music do Coachella 2015

FYI.

This story is over 5 years old.

Música

O Lado Dance Music do Coachella 2015

Apesar de nenhum dos principais shows desse ano terem sido de dance music, a maioria dos palcos foi dominado, sim, pela música eletrônica.

Coachella virou um festival tão icônico que seu lineup funciona como uma fotografia da cultura americana. E é preciso dizer que a dance music teve um papel importante desde o começo do festival - o primeiro lineup do Coachela em 1999 apresentou Moby, Underworld e um A-Trak de 17 anos de idade, entre outros. Esse ano em particular ostentou um programa de música eletrônica ao longo do fim de semana que basicamente dominou o rolê todo. Além do AC/DC, Florence e o beijo de Madonna no Drake, todos no palco principal, além de Katy Perry, Bieber, Jenners, e outra celebridades na multidão, havia boa música acontecendo, digna de atenção durante o primeiro de dois fins de semana do Coachella, que segue rolando no Empire Polo Field em Indio, na Califórnia.

Publicidade

Para aqueles que conseguem aguentar o sol do meio dia, o Coachella tem o poder de lançar a carreira de jovens promessas em alguns dos seus muitos palcos. Esse ano, por exemplo, a jovem estrela holandesa do future house Oliver Heldens trouxe de tudo - do deep house ao garage e big room - na tenda Sahara na tarde da última sexta (10), ousando lançar algumas sutilezas em um espaço geralmente reservado para nada além de pancada na sua cara.

Como esperado, o produtor do Reino Unido, Jon Hopkins deixou suas tendencias experimentais transportarem seus beats para alguns lugares estranhos e maravilhosos, próximo a shows como de Max Cooper e Matthew Dear. O set de Hopkins na tenda Yuma foi um destaque prematuro enquanto ele fechava com algum broken-beat, batidas eletrônicas mecânicas que deixaram a plateia em um estado de perplexidade. O eterno Pete Tong pegou o comando e a ordem do 4-on-the-floor na tenda foi reestabelecida.

Como muitos fãs de techno na plateia da sexta-feira, eu quis gostar de Hot Natured mais do que Hot Natured quis ser gostado. Eles têm algumas ótimas canções mas seu show ao vivo na tenda Gobi próximo ao pôr do sol foi anêmico. É uma nobre tentativa em traduzir suas faixas para o ambiente ao vivo, mas não acrescentou nada a seus outrora sólidos discos. Eles não são uma banda; bandas passam meses trancados em porões se afinando e acertando seu som. O Hot Natured é um projeto paralelo de pessoas que não são instrumentistas virtuosos e não têm tempo em suas agendas para virar uma banda de verdade - e é exatamente isso que eles acabaram soando.

Publicidade

Gorgon City seguiu com uma banda de verdade em frente a uma imensa multidão na Gobi. O aglomerado de fãs se extendeu bem além da tenda enquanto a versão ao vivo de faixas de seu brilhante primeiro LP, Sirens, foi muito bem apresentada. Não tem dúvida que a mistura de house/garage meio pop do Reino Unido era baseado nesse apelo de fusão de gêneros - como dá pra ver no convidado surpresa, Jeniffer Hudson, por exemplo. O importante é que o grupo fez um bom trabalho em usar seus de sets de DJ para conquistar seus fãs de raíz mais underground, enquanto faz shows ao vivo como esse do Coachella para expandir sua audiência.

A volta vitoriosa do Caribou em 2015 continua enquanto o exército de cinco soldados vestidos de branco de Dan Snaith segue esculpindo sua posição absolutamente única, algo entre o psych-rock e o deep house. Apesar da banda ser mais conhecida hoje em dia por momentos nos quais lançam direto beats de dance e grooves adjacentes, o fato que eles podem ir imediatamente depois para a piração de solo de duas baterias é realmente um traço singular.

Nero fechou o Outdoor Theatre na sexta e apresentou faixas de seu recém anunciado disco, Between II Worlds. Vestida como um fantasma demoníaco do futuro, a cantora Alana Watson cantou impecavelmente. Uma nova adição permanente para a banda, a voz de Watson carrega tanto poder e drama, ambos essenciais para um grupo cujas canções são incansavelmente escuras, marteladas e pesadas. Nero é o único grupo que ainda consegue ser perdoado ao tocar dubstep em um palco principal. O grupo trabalha dentro de um espectro estético que vai do electro ao techno, do house ao disco, todos costurados dentro de sua própria visão de um futurismo noir. Enquanto banda, eles são uma ideia artistica plenamente realizada.

Publicidade

O herói da cidade (essa é uma platéia de Los Angeles apesar da distância de duas horas da cidade) Flying Lotus fez a plateia viajar com seus broken beats galáticos no meio do deserto do Mojave. A versão escura e distorcida do hip-hop futurista do progenitor da cena beat local cresceu quando a imagem da morte em si apareceu no palco e FlyLo riu maniacamente enquanto se transformava em seu alterego MC Captain Murphy.

Foi exatamente nessa hora que sete dos oito palcos principais (Do Lab e Heineken House inclusos), estavam apresentando dance music. Sua única potencial escapatória do tuntz tuntz era o show do Tame Impala. Loudpvck fechou o The Do Lab com uma performance digna do Sahara, enquanto Alesso fechou a tenda Sahara com seu típico festival de hits mãos-ao-alto.

Conforme o dia dois, sábado (11), chegou, os queridinhos do house Tale of Us tocou tão fundo que foi quase algo melhor para ouvir em casa do que um ambiente como o Coachella, mesmo na tenda Yuma. Por outro lado, Yellow Claw na tenda Sahara tocou um festival de pancadão que foi tão pesado quanto o Tale of Us foi sutil.

Cashmere Cat e Ariana Grande são um par perfeito porque ela é um cupcake humano e ele faz bass music para o jardim da infância. O som é encharcado de glitch purpurinado, e o pesado do bass estava em falta. Na saída, ouvi alguém dizer que os subs estavam quebrados, então talvez não tenha sido culpa do Norueguês do cabelinho.

Publicidade

Duke Dumont na tenda Sahara foi um show de bosta muito lotado. É impressionante o que perder um Grammy pode fazer pelo tamanho do seu público em um festival. Como parte de uma nova empreitada logística, a tenda Sahara agora o leva direto para o terraço, e a passarela multidirecional virou um engarrafamento que não foi nada divertido.

O incansável bater do techno minimal de Loco Dice levou a maior plateia de todo o fim de semana para a tenda Yuma. A sempre presente na rádio BBC Annie Mack subiu ao palco imediatamente depois, mudando completamente a vibe com algum house de Chicago antes de mudar para o espectro da rave do Reino Unido.

A nova localização da tenda Yuma no terraço é bem no meio de duas saídas principais do festival e os seguranças de plantão lá estavam dançando e insistindo em cumprimentar todos os transeuntes durante o final de semana inteiro.

Em uma profusão de atividades dance, Flosstradamus trouxe sua turnê branca e preta HDYNTN ao Outdoor Theater, mandando vibes da rua não vistas lá desde que o Wu Tang Clan se apresentou no festival em 2013. Deorro trouxe Travis Barker e Elvis Crespo em um remix de "Suavamente" (por quê?), e Ratatat fechou o dia na tenda Sahara depois de anunciar seu retorno e lançar um novo single, embora para uma plateia evanescente.

Liderando o Outdoor Theatre, Axwell /\ Ingrosso mandaram remixes de "Sabotage" dos Beastie Boys e conduziram a plateia que cantou junto de seus principais hits (do Swedish House Mafia). Pareceu eficaz o bastante, mas não havia absolutamente nenhum mix acontecendo.

Publicidade

Até no dia três, domingo (12), as pessoas pareciam muito bem em ter sobrevivido às 48 horas iniciais das batalhas. Porém, nem todo o Coachella foi tão maneiro: no último dia do primeiro fim de semana do festival a completamente fechada tenda Yuma ainda estava pingando suor do set do Loco Dice na noite anterior quando John Talabot entrou e deu o set de DJ mais calmo do festival. A vibe do espanhol é profunda, mas altamente suingada e melódica.

What So Not, também conhecido como Emoh Instead, aparecem na tenda Sahara em pleno sol das três da tarde, com faixas de bass altas e mandonas que pulavam de gênero. Sua estética é mais pesada que Flume sozinho e Emoh esta começando a sair da sombra de seu melhor amigo. També, gritar "hey" na batida da música é uma praga tão perigosa quanto os wookies e deve ser impedida.

Finalmente, Gesaffelstein chegou com um mar de strobos e tons duros, vestido de névoa e estilo. Das luzes à música, não havia uma gota de cor na produção inteira. O techno industrial abrasivo e melódico do francês é precisamente o que a dance music americana precisa agora para matar as brasas quase apagadas do neon. A imagem monocromática da bandeira americana apareceu atrás dele enquanto o DJ soltava sua música inspirada no hip-hop da costa oeste "Hellifornia", uma breve pausa das estocadas lancinantes de sintetizador de seu trabalho normal. Por mais cortado que estivesse às vezes, seu set era tudo o que as pessoas conseguiam falar depois.

Publicidade

Mais tarde, New World Punx (o super grupo de Ferry Corsten e Markus Shulz) tocaram para uma tenda Sahara quase vazia, e David Guetta deu sequência fazendo um mashup de Alice Deejay enquanto gritava coisas sem sentido sobre amor para o público. Ai, ai. O projeto colaborativo entre Jackmaster, Eats Everything, Skream e Seth Troxler, humildemente chamado J.E.S.u.S. seguiu sem nenhum problema durante seu secreto e extendido set de encerramento da Yuma.

Como um caso sério de mudança de tema, The Do Lab deu uma de M. Night Shyamalan e anunciou Bonobo como fechamento secreto da última noite do festival. Não poderia ter escolha melhor. O impecável músico e recentemente mudado para Los Angeles acertou na vibe do Do Lab perfeitamente e sua aparição inesperada deixou a plateia tonta enquanto dançavam o resto das pernas que tinham através de sua seleção de house music.

Foi mais ou menos essa hora que Drake trouxe Madonna e ela deu um lap dance para ele. Então eles se beijaram. E com isso, o primeiro fim de semana do Coachella terminou.

Coachella é um lugar onde todas as facetas da cultura dance sentam lado a lado com todos os outros principais elementos da música pop e postos em comparação, o dance é deles o que mais olha para a frente. Apesar de nenhum dos principais shows desse ano terem sido de dance music, a maioria dos palcos foi dominado por música eletrônica. Enquanto bandas de rock-do-papai ainda conseguem o topo do lineup, a música dance é parte do mobiliário da cultura de festival e está em constante estado de redefinição enquanto a bolha do "EDM" morfa e cresce em novos formatos.

Jemayel Khawaja está no Twitter.

Fotos por Galen Oakes

Tradução: Pedro Moreira