A voz da experiência do handebol brasileiro atende por Maik, Maik, Maik

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A voz da experiência do handebol brasileiro atende por Maik, Maik, Maik

Único do elenco a ter disputado Olimpíada, Maik Santos tenta ser o irmãozão mais velho da equipe. "Eles entram em quadra sem medo de serem felizes. Isso que é legal."

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"Maik, Maik, Maik. O Brasil tá bem de goleiro", bradava o já finado Luciano do Vale na final do Pan-Americano de 2007. Naquela competição, caso você não lembre, o Brasil faturou o ouro com uma vitória de 30 x 22 contra a Argentina. O goleiro brasileiro teve atuação de gala. Pulou sobre os adversários, espalmou, defendeu com os pés, agarrou com as mãos. Transformou-se numa muralha que, segundo ele, será erguida de novo em agosto, assim que iniciar as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Atleta do Taubaté, no interior de São Paulo, Maik Santos é, aos 35 anos, o único jogador da seleção que já foi para os jogos olímpicos. Em 2008, em Pequim, o Brasil ficou com um tímido 11º lugar, mas tirou, segundo o goleiro, muitas lições. O responsável por transmiti-las, claro, é Maik. E não só isso. Além de passar o caminho das pedras em quadra, o goleiro também tem a missão de segurar a onda da molecada na Vila Olímpica. "Estaremos com os melhores do mundo, atletas que só vemos pela televisão vão estar ali do nosso lado dividindo espaço com a gente", diz. "É importante não se perder em relação a isso." O handebolista é um dos quatro jogadores da família Santos. O clã conta com os irmãos Marcão — que também foi goleiro da seleção —, Paulinho e Vanessa. Giulia, filha de Maik, de 18 anos, também joga em Jundiaí. Para entender como é nascer para o esporte e se dedicar a ele em meio a tantas dificuldades, batemos um papo com o craque. Ele nos falou sobre infância, as tretas da modalidade, os treinos, família e, evidentemente, Olimpíadas. Saca só: Quando você descobriu o handebol na sua vida?
Descobri com 12 anos, foi lá em São Mateus, na aula de educação física da escola. O handebol tem uma treta nas escolas porque acaba sendo o esporte obrigatório e a molecada quer sempre jogar futebol. Quem conseguiu te inspirar a jogar a modalidade?
O gosto veio ao ver meus irmãos jogando. Foi aí que eu peguei gosto e, quando comecei a jogar, vi que era aquilo mesmo que eu gostava. E tem o seu irmão mais velho que jogava muito bem no gol, né?
Meu irmão já jogava, cresci vendo meu irmão no gol. Ele se destacava muito e eu queria ser igual a ele. Segui os passos e acabei me espelhando nele mesmo. Acabei seguindo toda a trajetória que ele seguiu. Quanto anos ele é mais velho que você?
Quatro anos. Ele está com 40 e eu vou completar 36 em setembro. Seu irmão era uma referência dentro de casa. Mas quando você identificou o seu talento próprio?
Isso rolou quando comecei a jogar pela Metodista, em São Bernardo do Campo, em 95. E quando eu recebi uma bolsa de estudo. Foi aí que eu vi que realmente poderia viver do esporte e ele poderia ser uma boa oportunidade para melhorar de vida. Essa bolsa foi na faculdade?
Não, comecei com a bolsa no colégio. Só depois que rolou na faculdade, fiz Educação Física. Você era goleiro em outras modalidades também?
Tive outras experiências sim. Eu joguei campeonato de futsal, claro, no gol, mas o handebol falou mais alto. Eu tinha mais facilidade no handebol do que no futsal. Além do Marcão, que já foi goleiro da seleção, você tem uma irmã que também joga handebol…
Tem ainda o meu outro irmão, o Paulinho, que joga também. O Marcão agora é treinador, os quatro irmãos jogam. E tem sua filha ainda, né?
Isso. Ela tá jogando lá em Jundiaí. O que tem no sangue dessa família pra ser tão ligada ao handebol?
Foram as oportunidades que o handebol nos deu e o talento que a gente desenvolveu no esporte. A gente começou a se destacar, o meu irmão foi pra seleção, logo em seguida eu fui também. Nós fomos colhendo frutos em relação a isso, e a família começou a ser movida pelo handebol. Passamos a ajudar minha mãe dentro de casa, começamos a conhecer outros países, viajar e isso foi um grande atrativo.

JONAS BARBETTA/Gazeta Press

Seus pais apoiavam você e seus irmãos no handebol?
Meu pai falava que o handebol não dá futuro, falava que eu tinha que jogar futebol, mas era o que a gente gostava de fazer e depois o esporte começou a abrir algumas portas. Começamos a ter algumas oportunidades na vida. E como é sobreviver exclusivamente do handebol no Brasil?
Há uma grande dificuldade financeira. Alguns atletas recebem, comparado a um trabalhador comum, um valorzinho até significativo, porém, comparado ao esporte e a outras modalidades coletivas, estamos muito abaixo. Os clubes não têm investimento, não têm patrocínio, não têm apoio financeiro e acabam desaparecendo. Com isso os atletas são desvalorizados e param de jogar. E o que falta pro esporte ser mais difundido?
Falta apoio aos clubes e surgimento de novas equipes com a possibilidade de investimento. É preciso ter uma liga forte, ter reconhecimento da mídia e aí sim a gente conseguir patrocínio e verba para que futuros atletas talentosos não deixem de jogar para poder trabalhar. Para poderem seguir suas vidas. Falando do treino e dessa execução. Como é uma rotina de treinos da seleção?
Na parte da manhã a gente faz musculação e treinamento físico. Na parte da tarde é treino com bola na quadra. Dependendo da programação temos dois períodos de treinamentos com bola. É uma média de quantas horas semanais?
Dá uma média de 20 horas semanais. E você tem algum treino específico para o reflexo, para precisão? O handebol é muito rápido, quando você vê o cara tá ali na sua cara.
Temos os treinamentos normais dentro de quadra e alguns específicos pro goleiro. Dependendo do objetivo a gente desenvolve um trabalho de força, de velocidade de reação, de técnica, posicionamento. E o que você espera para as Olimpíadas?
Espero jogar bem. Se fizermos isso podemos ter bons resultados, mas ele só virá do nosso esforço. É se esforçar, tentar dar o melhor e procurar estar bem concentrado pra fazer aquilo que a gente mais gosta que é jogar handebol.

O nosso foco é dar um passo a frente, dar um salto de qualidade. Queremos ser uma surpresa e marcar história no handebol brasileiro

Você acredita que o Brasil tenha alguma chance real de medalha?
Teoricamente, não, porque o Brasil nunca teve resultado significativo nas Olimpíadas. Seria otimista demais falar em uma medalha, mas dá com certeza pra dizer que o Brasil vai dar o melhor e que estamos indo para melhorar o nosso resultado. Vamos jogar de igual pra igual com as equipes europeias e buscar um resultado positivo. Esse é o nosso foco. Se melhorar o resultado do Brasil significar uma medalha olímpica, que seja. Estamos prontos pra isso também. É bom ser azarão.
O nosso foco é dar um passo a frente, dar um salto de qualidade. Queremos ser uma surpresa e marcar história no handebol brasileiro. Vocês já testaram o local onde serão os jogos?
Eu tive a oportunidade de jogar lá, mas foi com o meu clube, não com a seleção. Qual foi a impressão?
A gente ficou muito feliz em ver o ginásio com capacidade pra 12 mil pessoas, tudo bonitinho e bem colorido. Claro, tem uma coisa ou outra que pode melhorar, mas como eles vão reutilizar aquilo, se não me engano, pra quatro escolas públicas, então já é uma coisa provisória. Mas atende todas as nossas necessidades. Qual a importância de você já ter disputado uma Olimpíada? O que você pode passar para os jogadores mais novos?
O importante é tentar passar um pouco de experiência e cobrar um pouco de foco na competição. Jogar uma Olimpíada tem toda uma atmosfera que te envolve na Vila Olímpica. Estaremos com os melhores do mundo, atletas que só vemos pela televisão vão estar ali do nosso lado dividindo espaço com a gente. É importante não se perder em relação a isso. E o que você aprende com eles?
Eles são muito ousados. Eles têm a ousadia de realizar alguma ação no jogo e melhorar seu rendimento sem olhar pro adversário. Essa geração acredita muito no potencial do nosso grupo, acredita muito no nosso trabalho. Eles entram em quadra sem medo de serem felizes. Isso que é legal.