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Sexo

Tesão Humanitário

Ele é sempre lembrado como o Larry Flynt brasileiro. Hoje, sua fama vai muito além da simples perversão e a comparação com Flynt já beira a preguiça jornalística. Então, passamos um dia com ele.

Retrato: Laura Wrona
Foto: Leslie Satterfield
Demais imagens: Cortesia de Oscar Maroni

Ele é sempre lembrado como o Larry Flynt brasileiro. Enquanto publica as edições nacionais das revistas Hustler e Penthouse, Oscar Maroni também mantém fazendas de gado, uma liga de artes marciais, um hotel e uma das maiores, e mais controversas, casas noturnas da América do Sul. O empresário, que se candidatou a vereador em São Paulo nas últimas eleições, jura que já traçou mais de 1.500 mulheres. Hoje, sua fama vai muito além da simples perversão e a comparação com Flynt já beira a preguiça jornalística. Então, passamos um dia com ele para entender essa paixão por sexo, dinheiro e polêmicas. Vice: Você é empresário, pornógrafo e aspirante a político. É uma bela mistura de interesses. Sempre teve expectativas muito abertas em relação a sua vida e carreira?
Oscar Maroni:Comecei a trabalhar com 14, 15 anos, comprando gibis com desconto e revendendo no ponto de ônibus. Isso foi uma revelação para mim, descobri que poderia ganhar dinheiro. Quando tinha mais ou menos 18, meu pai e eu estávamos caminhando para a casa do meu avô à noite e encontramos dois pacotes: um cheio de camisetas baratas de algodão e outro com calcinhas, também de algodão. No dia seguinte, pus as caixas em um carrinho e fui vender na feira. Corria entre as pessoas, chamando: “Moça, compre uma calcinha para ficar mais sexy para o seu marido. Maridão, use essa camiseta e fique mais sexy para a sua mulher”. Eu, vendendo aqueles produtos a céu aberto, represento a primeira sex shop brasileira de que se tem notícia. Você estudou?
Fiz psicologia no Objetivo. Foi onde conheci a dona Marisa, minha ex-mulher e mãe dos meus filhos. Sabia que ia me casar com ela, mas a gente precisava de dinheiro para sobreviver e um diploma não seria suficiente. Então, tive a ideia de montar uma barraquinha de comida, e foi aí que minha vida no mundo empresarial começou de fato. Vendíamos croquete. Eu trabalhava de manhã e estudava à tarde e a Marisa fazia o contrário.

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Uma brincadeira com o pôster do filme O Povo Contra Larry Flynt: Maroni no papel de chefão do pornô brasileiro.

Como passou de fritador de salgado a dono de um império?
Em 1974, eu cuidava desse trailer. Foi bem quando aconteceu o incêndio do Edifício Joelma (em São Paulo). Uma grande tragédia, quase 200 pessoas morreram. Depois disso, o dono do trailer precisou dele para guardar algumas coisas que tinha no prédio, então tive de parar de trabalhar. Trabalhando na rua, conhecia um japonesinho que sempre comprava comida de mim. Ele era muito tímido, mas uma vez confessou que sofria de ejaculação precoce e era semi-impotente. Na época, um amigo dele contou que havia prostitutas traba­lhando junto com terapeutas para ajudar seus clientes a superar seus problemas sexuais. Então levei meu amiguinho para “relaxar” em uma dessas casas de massagem, e ele imediatamente ficou mais confiante. Brinquei que queria montar um negócio daqueles e, quando voltei lá, conversei com o gerente sobre a possibilidade de comprar a casa. De uma forma inesperada, ele falou: “Olha, a gente quer vender. Sua ideia é boa, porque vários psicólogos e psiquiatras procuram a gente para tratar os pacientes”. Então fiquei com o lugar. Pus um anúncio no jornal que era mais ou menos assim: “Massagens em domicílio: sua fantasia vira realidade. Estabelecimento frequentado por homens, mulheres e casais”. Ganhei clientes imediatamente.

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Quando se candidatou a vereador em São Paulo, ele saía pelas ruas com um microfone, uma caixa e duas mulheres seminuas. Elas estampavam no corpo o número do candidato: 70.111.

Existe algum tipo de filosofia, ou ensinamento, que guia seus empreendimentos?
Minha filosofia é a seguinte: não acredito em nada que não tenha alma. E não digo isso no sentido religioso—é mais no sentido de ter vida e raciocínio. Um ser precisa de objetivo e ideologia. Acho que todo mundo deveria fazer uma mudança diária. Uma revolução ao usar um chapéu, tirar o sutiã, trepar com cinco mulheres, passar o dia inteiro na cama fodendo a Yoko Ono e comendo chocolate, como o John Lennon. Acho que as pessoas deveriam tentar sempre sair da rotina.

Maroni dá uma de macho man e mostra um dente perdido em uma das lutas de seu Show Fight.

Vejo que você tem muitos fãs fiéis. Mesmo agora na entrevista, alguns estão pedindo autógrafos, tecendo elogios. O que Oscar Maroni significa para essas pessoas?
Sou o cara que dirige um Jaguar. Represento o homem que já fodeu mais de 1.500 mulheres; o homem que pilota uma Harley Davidson; o homem que, aos 57 anos, vai a uma rave e dança até as cinco, seis da manhã; o homem que representa a liberdade no modo de ser e de pensar. Não vim ao mundo para ser normal, vim para ser feliz. Eu me defino como um colecionador de emoções. Tem uma brincadeira que faço, que é perguntar: “Se você tivesse que escolher, preferiria perder o pinto ou o coração?” E, paras as mulheres: “A vagina ou o coração?” O pinto e a vagina simbolizam a sexualidade, o coração é a emoção, a sensação, o prazer e tudo o mais. Se tivesse de escolher, preferiria perder o pinto. Uma trepada sem emoção seria uma trepada mecânica em que você põe o pau para dentro, mexe o quadril 450 vezes e ejacula. Você é extremamente bem-sucedido em diversas áreas, mas teve alguns problemas. Que negócios comanda atualmente?
Sou dono de cinco empresas. Abri o Bahamas, a maior casa noturna da América do Sul. Tenho também a Fazenda Santa Cecília, em Araçatuba (interior de São Paulo), onde crio gado e cavalos e produzo uma média de 8 a 10 mil quilos de carne por dia. Em terceiro lugar vem o Hotel Oscar, para homens de negócios, que tem 223 apartamentos, 300 vagas de garagem, três restaurantes e uma academia. Também sou muito conhecido como dono das edições brasileiras da Penthouse e da Hustler. E ainda o Show Fight, uma série de lutas inspirada em ligas como a UFC (Ultimate Fighting Championship) e a MMA (Mixed Martial Arts). Também criamos o energético do Show Fight.

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No Bahamas, um retrato de Maroni como o rei do cosmos.

Pôster da campanha de Oscar Maroni para vereador. O cartaz traz a foto do candidato brincando com seu helicóptero por controle-remoto e sentado ao lado de seu premiado maltês.

Entrar na política virou um dos seus objetivos nos últimos anos. Em que sentido se acha diferente dos outros políticos que foram eleitos?
Simbolizo a irreverência como alternativa ao político tradicional, que é arbitrário e repressor—alguém que castra a liberdade. Estou atravessando um momento bastante delicado. O Bahamas e o meu hotel foram fechados porque ficavam perto de uma rota aérea onde aconteceu um acidente de avião horrível. De alguma forma, virei um bode expiatório nessa—e os políticos usaram essa desculpa para inter­romper meus negócios. Então resolvi concorrer a vereador nas últimas eleições. Foi bem divertido, mas ainda não sei direito por que fiz aquilo, talvez como um ato de rebeldia mesmo. Ou talvez seja porque acredito que posso abalar essa hipocrisia, essa corrupção, essa falsidade. Eles me puseram em uma lista negra e só consegui espaço na TV porque metia o pau na política. Então fizemos campanha, caminhamos pelas ruas com carrinhos de supermercado, uma bateria, um amplificador, um microfone e uma caixa de fruta que servia de palanque. Ao meu lado, tinha duas mulheres lindas de biquíni e roupão. Enquanto discursava, elas abriam o roupão e mostravam o meu número de candidato escrito no corpo. Consegui uma boa cobertura da mídia com essa estratégia. O que falava nos discursos?
Uma das minhas ideias era transformar o centro de São Paulo, que está abandonado, em um grande pólo de trabalho. Queria que fosse uma mini-Las Vegas, com jogos, cassinos, restaurantes e casas noturnas. Minha preocupação era com o lado dos negócios, que é com o que gosto de trabalhar, mas, ao mesmo tempo, queria gerar empregos em um ambiente de diversão e lazer. Acredito que os políticos têm uma função social. Muitos de meus discursos foram baseados na reflexão do que é ser político. Eu vou apodrecer? Vou me tornar um corrupto? Quando fiz campanha nas favelas, vi crianças disputando comida com ratos, dormindo em lugares em que nem o meu cachorro dormiria. Também visitei ricos em mansões. Conheço praticamente o mundo inteiro e vi desgraça em quase todo lugar. No fim das contas, amo a humanidade, amo a vida, amo a criatividade humana. Mas quero que as coisas melhorem para todos.

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