Gabriel Chaim, Filhos da Guerra
Foto: Gabriel Chaim

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Gabriel Chaim, Filhos da Guerra

Gabriel Chaim está desde 2013 cobrindo o conflito sírio, esse tempo já lhe rendeu uma prisão por sete dias com membros do Estado Islâmico e diversas histórias traduzidas em imagens.

Desde 2011, os noticiários frequentemente nos estapeiam na cara com imagens da guerra civil na Síria – e, desde 2013, uns tapas bem fortes partiram dos fotogramas e vídeos do jovem de Belém do Pará Gabriel Chaim.

As imagens fortes e marcantes do fotógrafo estamparam diversos jornais ao redor do mundo e transcenderam o jornalismo quando foram usadas pelo U2 na turnê "iNNOCENCE + eXPERIENCE".

Foto: Gabriel Chaim

Transitar por tanto tempo em uma zona de conflito tão intensa inevitavelmente coloca qualquer um diante de situações de difícil compreensão. "A sensação de morrer é gigante: 24 horas por dia, eu penso nisso. Fico imaginando como seria ou será minha morte. Talvez um carro-bomba vindo e destruindo tudo. Penso em como devem ser os últimos minutos de vida", relata Gabriel.

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Entre os escombros deixados pelas bombas de tantos grupos diferentes estão os protagonistas desse conflito, e é na história dessas pessoas que estão as imagens que, a partir do dia 03 de dezembro, serão expostas na galeria Zipper que, em parceria com a Human Rights Watch Brasil, lança a exposição Filhos da Guerra: O Custo Humanitário de um Conflito Ignorado.

Foto: Gabriel Chaim

A última mensagem que o Gabriel me mandou dizia: "Vamos ter de nos falar por e-mail. Estou na Síria, nos arredores de Raqqa, acompanhando os preparativos para a invasão da cidade que hoje é a capital do califado do grupo Estado Islâmico".

Isso significa que ele não estará aqui na exposição para um papo massa; então, segue aqui uma entrevista com o fotógrafo:

VICE: O que você fazia antes de ir à Síria e o que te despertou para a fotografia?
Gabriel Chaim: Em 2011, eu comecei a fotografar pratos de comida em Dubai. Eu fazia gastronomia. A guerra entrou na minha vida quando decidi fazer um projeto com o nome de Kithen4life, que tinha a missão de fotografar a comida de quem não tinha nada para comer.

Resolvi ir ao Irã. E, lá, acabei caindo em um campo de refugiados, Niatak. Me apaixonei pela garra e pela história de vida dessas pessoas que deixam tudo para trás em busca da vida. Decidi ir, então, conhecer refugiados no Oriente Médio. Em 2013, caí no campo de Zaatari; lá, conheci os refugiados sírios. Percebi que, para entender o motivo de essas pessoas saírem de sua terra, eu tinha de entrar na Síria e ver com meus próprios olhos, sentir o que eles sentem.

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Como você se sentiu quando foi à sua primeira guerra?
A primeira guerra, de fato, foi a [da] Síria. Antes, eu estive em conflitos, tipo do Egito e Gaza. Guerra é guerra. A sensação de morrer é gigante: 24 horas por dia, eu penso nisso. Fico imaginando como seria ou será minha morte. Talvez um carro-bomba vindo e destruindo tudo. Fico imaginando com devem ser os últimos minutos de vida.

Você se considera um fotógrafo de guerra?
Não gosto desse termo. Me considero fotógrafo, meu foco são as pessoas que estão envolvidas na guerra. As pessoas que sobrevivem ou que lutam para se manterem vivas. Vou atrás da esperança, não importa onde.

Você sente falta da sua casa?
Uma parte dentro de mim morre a cada dia com a distância da minha família, dos meus dois filhos, mas não uso isso como uma desculpa para deixar de seguir em frente. Todo mundo é filho ou pai; se isso fosse desculpa para deixar de mostrar a realidade, ninguém faria. Alguém tem de fazer:"Nobody goes, nobody knows".

Foto: Gabriel Chaim

Quais foram as piores coisas que você viu nesses anos cobrindo conflitos?
Várias bombas lançadas por helicópteros já caíram perto de mim. Foram tantas as vezes em que eu quase morri que ficaria difícil descrever uma só.

Em 2013 e 2014, foquei minha jornada em Alepo. Foi tudo um inferno: muitas bombas, umas 25 por dia. Bombas de nome Baramil: elas são um barril com 5 toneladas de dinamite, metais pontiagudos. O regime do Assad lançava as bombas por helicópteros em bairros civis. É devastador. Várias vezes, eles lançaram a poucos metros de mim, 100 metros.

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Além disso, em abril deste ano, fiquei preso por sete dias com membros do Estado Islâmico. Foi foda.

Foto: Gabriel Chaim

Qual é a sua foto favorita dessa exposição?
A da mulher síria que foi queimada por ácido. Depois que a foto foi publicada no jornal The Guardian, uma ONG de cirurgia plástica norte-americana se sensibilizou e realizou toda a cirurgia de reconstituição.

A exposição_ Filhos da Guerra: O Custo Humanitário de um Conflito Ignorado_, do Gabriel Chaim, rola de 03 de dezembro até 16 de janeiro de 2016 na Zipper Galeria, Rua Estados Unidos, 1.494, de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábados, das 11h às17h.

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