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Música

Uma geração de DJs que não manja muito de música, mas é fera nas redes sociais

No séc. 21 do pós-pós-pós-moderno digital, música é muitas vezes a última preocupação de um DJ iniciante.

Alguns dias atrás, a 7UP lançou oficialmente uma campanha com o Tiësto, chamada "Your Shot". O prêmio: tocar nos grandes palcos de um dos maiores festivais de EDM do mundo. Este é apenas um dos indicadores de como a busca por talento está mais em voga do que nunca. Todo mundo quer aparecer, e a qualquer custo. O sonho de qualquer bedroom DJ quando compra equipamentos pela primeira vez e os pluga no computador é ficar imaginando milhares de pessoas em sua frente enquanto está com seus braços levantados e dançando de forma frenética. Quando abre os olhos, o sonhador se dá conta que ao seu redor há apenas uma parede com o poster de seu artista favorito, e ao se virar para trás dá de cara com seu quarto desarrumado. Então o que é preciso fazer para este sonho se tornar realidade? Muitos decidem seguir passos capazes de alavancar um autopromoção, o que pode dar a impressão de que estão cada vez mais próximos do estrelato, quando na verdade estão mais distantes do que nunca.

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Passo nº 1: Crie um nome artístico e vire modelo

A criatividade dos novos DJs realmente impressiona, dado que a maioria deles está se tornando expert em design. Digamos que você decide que seu nome de DJ será "A5tro": você fará tudo que está ao seu alcance para que os outros saibam que este é não só o seu pseudônimo, como também sua marca. Muitos youngsters aprendem a mexer com design gráfico, logos, banners e técnicas visuais em geral, tudo isso para te convencer de que eles têm uma audiência maior do que a que de fato têm (nem sei como, na verdade, porque não aprendi a usar Photoshop daquele jeito na faculdade). Eles convencem seus pais a pagar por uma sessão de fotos e espalham suas imagens brilhantes e photoshopadas pelas mídias sociais afora.

Passo nº 2: Torne-se um expert em mídias sociais

Novos DJs criam perfis no Facebook, Twitter, SoundCloud, YouTube, Instagram, Snapchat e em qualquer outra mídia social que esteja bombando no momento. Muitos deles pagam por campanhas no Facebook para serem vistos por milhões de pessoas, mesmo só tendo tocado para meia dúzia de gatos pingados. Qualquer um pode pagar o Facebook para promover suas publicações, mas, da noite pro dia, DJs que ninguém nunca ouviu falar atingiram o marco das 60 mil curtidas. Quando alguém que trabalha na indústria de música descobre isso, fica surpreso: "Como isso passou batido? Por que eu não os conheço?".

Passo nº 3: Seja quem você quiser, mas não fique repetindo de onde você veio

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Uma das maiores fraquezas no mercado de DJs numa escala global é que muitos aspirantes querem ser algo que não são. Vamos falar sobre o nosso querido amigo, o "A5tro". Se ele é mexicano, provavelmente nunca fala sobre este assunto. Levando em conta que a maioria dos grandes DJs são holandeses, suecos, franceses ou canadenses, muitos novos DJs que não são destes países acham que falar sobre onde eles vieram pode ser vantajoso. Por que?

Todos os tuítes e publicações no Facebook do A5tro, por exemplo, são em inglês. Talvez seja uma boa ideia ter duas versões do seu trabalho, inclusive da sua biografia no Facebook e no SoundCloud.

Enquanto jornalista, acho muito importante que as pessoas ao meu redor saibam o que o meu mundo representa. Se escrevo em um idioma que a maioria das pessoas no meu país não entende, quem estou apoiando? Nos esforçamos pra cacete para entender o que os DJs internacionais estão fazendo, porque a música deles parece incrível, mas ao mesmo tempo estão interessados em saber o que está rolando aqui (ou em qualquer outro lugar). É claro, o Tiësto não vai aprender espanhol para conseguir entender seu público mexicano, mas ele vai identificar um artista que é amado e compreendido por seus fãs mais do que alguém que está fingindo ser holandês.

Passo nº 4: Não perca tempo com produção musical

Tocar em grandes festivais ou em baladas ao redor do mundo é o sonho de muitos DJs, então quando se aproximam disso, naturalmente querem se gabar.

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Muitos DJs wannabe são preguiçosos demais para ficar sentados em um estúdio por quantas horas for necessário para tentar fazer música. Vide as fotos deles na primeira classe com a legenda "Próxima gig: Miami!". Obviamente, a maioria deles está rumo a uma turnê relevante, mas para tocar bem no início quando 99% dos espectadores não está interessado em suas faixas, se é que eles têm música própria.

Eles podem até postar algumas fotos em um estúdio emprestado com a legenda "preparando umas surpresinhas", mesmo que essas surpresas nunca fiquem prontas. É uma nova febre nas mídias sociais que está consumindo os adolescentes viciados em EDM. A vontade de viajar para as maiores cidades do mundo em jatinhos particulares, encher a cara com os DJs superstar e postar selfies e mais selfies com famosos é maior do que a de expressar suas emoções através da música.

Mas tenho uma má notícia: fama e glória nunca virão se você não fizer música.

Qualquer label ou promoter decente está em busca de artistas que as pessoas se identificam, artistas que fazem as pessoas se entregarem ao poder da música. Se tocam EDM, techno, house, jungle ou trop-house, não faz diferença. Se um artista não tem uma abordagem criativa, sempre será alguém que apenas abre shows para outros DJs, tocando música dos outros.

Você provavelmente dirá "bom, mas todos os DJs que tocam no Ultra costumam tocar músicas de outros artistas". Concordo plenamente; todo mundo ama tocar músicas de outros artistas, mas sempre há momentos onde esses DJs apresentam seu novo remix ou faixa próprios. David Guetta pode ser muitas coisas, mas consegue fazer as pessoas cantarem suas músicas e bater palmas por uma hora ininterruptamente. Já o Richie Hawtin, por exemplo, toca por horas a fio em baladas em Ibiza porque as pessoas querem ouvir seus sets. A galera não está nem aí para o que ele posta no Instagram; eles admiram o fato de que ele está sempre em busca da melhor música que pode tocar para o público.

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Aspirantes a DJ precisam parar de ser guiados pelo marketing. Lembre-se que aquele slogan cliché "qualidade antes de quantidade" também se aplica a discotecagem. Não fique atrás de bases enormes de fãs. Se o seu vizinho tem 100 mil curtidas no Facebook, mas você o vê em casa de segunda a segunda e de vez em nunca ele toca nas festas de seus amigos, acho que você deve saber quantos fãs ele de fato tem.

É o que eu sempre digo: se as pessoas dedicassem tanto tempo ao Logic ou FL Studio quanto dedicam ao Photoshop, Twitter ou Facebook, muito mais bedroom DJs se tornariam astros de verdade. Você quer que o seu trabalho seja levado a sério, e não suas habilidades em marketing e design — deixe o profissionais dessas áreas se encarregarem disso; precisamos focar na música.

Trino Trevino é o editor do THUMP México, e você pode encontrá-lo no Twitter.

Este artigo foi originalmente publicado no THUMP México.

Tradução: Stefania Cannone

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