12 horas de frio, sufoco e caos nos 15 anos da TRIBE​

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12 horas de frio, sufoco e caos nos 15 anos da TRIBE​

O repórter do THUMP foi à rave que aconteceu em Itu no último fim de semana e conta como foi difícil chegar e sair de lá, relata problemas com o lineup e infraestrutura.​

No ultimo sábado (11), colei na ultima edição da TRIBE, uma das raves mais respeitadas do Brasil que comemorava seus 15 anos reunindo mais de 60 atrações. Entre elas, estavam nomes como Carl Craig, Boris Brejcha, Stephan Bodzin, Vintage Culture, Alok e outros feras. O festival parecia bacana, muita gente animada, local inédito e um lineup respeitado. Tinham palcos para todos os gostos — indo do já tradicional psy trance e prog, passando pelo techno ao EDM e até house.

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Com alta expectativa, saí de São Paulo às 18h daquele sábado com destino ao haras Alto do Sagrado, em Itu, e depois de cerca de uma hora e meia me deparei com um engarrafamento logo no começo de Indaiatuba, cidade vizinha a Itu, onde rolou a rave. Passados 30 minutos parados no trânsito, vi no Facebook pessoas dizendo que levaram cerca de quatro horas para conseguir chegar até a entrada do festival. Ao olhar pela janela percebi que muitas, mas muitas, pessoas estavam saindo de seus veículos — inclusive o pessoal do nosso ônibus começou a descer. Fui então convencido que a única solução para chegar à TRIBE era botar a cara no frio e ir a pé. Sério.

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Entrei no mar de gente que caminhava eternamente em uma rodovia sem iluminação em uma das noites paulistas mais frias dos últimos 12 anos. Ninguém sabia dizer ao certo qual era a distância até a entrada do evento — alguns falavam em cinco quilômentos, outros mencionavam 15, e a real é que sem pensar em voltar pra casa, o jeito era seguir em frente e ver no que dava.

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Caminhamos por uma hora e pouco e só então conseguimos ver alguns sinais de luzes, bem no final do horizonte. Já exausto, entramos em uma estrada de terra cheia de buracos e só por volta das 23h00 cheguei no local do evento (foram mais de duas horas de peregrinação). Se havia alguma sensação de alívio em chegar à TRIBE, ele acabou quando dei de cara com um arrastão no estacionamento no evento. Fugi para um canto e o segurança falou que não estava muito seguro ficar por ali, então corri buscar o credencial e entrei no festival.

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O clima era tão hostil que foi possível colher relatos de relatos de pessoas que presenciaram um tiroteio na entrada e outros que foram furtados. "Eu estava chegando no evento e vi um monte de gente apedrejando os seguranças, que reagiram com tiros", conta Darley Martins, que esteve no festival. "Eu passei pelo tumulto em direção a portaria na entrada do backstage quando senti uma coisa quente na minha perna; olhei e [a perna] estava sangrando", conta o rapaz que foi socorrido por um bombeiro no local e foi encaminhado para um hospital em indaiatuba.

Mesmo depois de toda confusão para chegar ao festival, tentei manter a positividade e deletar da mente o que tinha rolado e fui atrás de ver os sets da TRIBE. O frio não ajudou na caminhada durante o evento, então resolvi parar por um tempo no palco Fusion e esperar o set do Alok começar, mas só até perceber que o lineup estava totalmente fora da ordem. Tinha DJ escalado para tocar às 17h tocando à meia noite, seguido por outro entrando com duas horas de atraso. Não demorou pro festival se tornar uma caixinha de surpresas e eu ver toda a programação prévia que fiz ir por água abaixo.

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Demorei um tempo para encontrar o palco Domo, até porque não tinha nenhuma sinalização (nem iluminação) fora dos palcos. Depois de pedir informação para alguns ravers, descobri que o acesso era feito pela porta backstage, um local exclusivo onde só quem havia comprado ingressos mais caros tinha acesso. Foi nesse espaço que vi muita gente sendo barrada e reclamando que não sabia que existia o tal backstage. O mais difícil foi entender por que o backstage na verdade era um palco e camarote e a área VIP eram outras coisas — achei bem confuso.

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O palco Domo, aliás, era um dos mais cheios e o acesso ao local era feito por essa única portinha do "acesso backstage", o que resultou em momentos com grandes filas, dificultando a entrada e saida do público.

O frio era tanto (a sensação era de temperaturas abaixo de zero) que era praticamente impossível transitar entre os palcos ou ficar de boa num canto. O único jeito de sobreviver era com o calor humano no meio da pista. Faltou um chillout coberto para descansar, por exemplo.

No palco Solaris, por sua vez, o som estava baixo e brigava com o dos outros palcos. No camarote o som surgia super abafado e nas extremidades da pista a música se misturava com os sets vindos de outros palcos.

No cardápio da TRIBE, as comidas e bebidas tinham preço salgado — o que, vá lá, não é bem uma novidade quando o assunto é festival. A água custava R$8, o mesmo preço de uma cerveja e um hambúrger saia por R$24. O atendimento também não era dos melhores. Na hora que fui comprar fichas, por exemplo, a atendente perguntou se poderia ficar me devendo R$8 pela falta de troco.

Como se não bastasse a confusão do lineup, houveram cancelamentos de DJs que não conseguiram chegar a tempo no evento. O DJ Format B explicou a ausência em sua página no Facebook, dizendo teve que desistir depois de ter ficado mais de quatro horas no trânsito. Marcel Dettman não foi capaz de tocar no festival depois de ter seu voo cancelado. A própria assessoria da TRIBE informou que alguns DJs "tiveram problemas de voo e o lineup se alterou pelo problema do atraso devido ao fluxo do trânsito".

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Se o caos já parecia instaurado, na ala da segurança era difícil identificar os seguranças e um rapaz fez um post no Facebook dizendo ter sido agredido sem razão:

Sobre a infraestrutura do festival, mais um capítulo descontente. E olha que quem vai pra rave costuma estar preparado para passar sufoco usando banheiros químicos. Na TRIBE, porém, os banheiros foram montados em um local com muita lama e bem distantes de todos os palcos (o que deve ter feito com muitas pessoas se perdessem no frio). A imagem abaixo mostra a situação do banheiro mais chique do local, na área do camarote.

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Ainda com tantos perrengues, queria ver o set do Carl Craig que tocaria às 8h (de acordo com o lineup), após o set do alemão Stephan Bodzin. Eram 8h15 da manhã e nenhum sinal de nenhum DJs. Foi então que o cansaço venceu e resolvi ir embora.

É aqui que começa a nova perigrinação para conseguir chegar em casa: na saida da TRIBE, fui informado que os ônibus estavam impedidos de subir até o acesso à rave e vans estavam fazendo o transporte do público até um outro estacionamento, localizado a alguns quilômetros dali. Cheguei relativamente no começo da fila, mas era muita gente para sair em vans de 12 lugares. Passada mais de uma hora, chegou a minha vez de encarar a estrada de mão única completamente congestionada por carros e vans particulares que estavam estacionadas por alí trancando a passagem todos os veículos. Para se ter noção do tamanho da treta, até mesmo uma funcionária que cuidava da logística do transporte reclamava da falta de comunicação entre a equipe. Foi um caos.

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Mais meia hora na fila (que não andava) foi o suficiente para que uma nova turma começasse a descer a pé o trajeto da entrada do evento e o tal estacionamento onde poderíamos pegar um ônibus e voltar para casa.

Consegui sair da TRIBE por volta do meio dia do domingo (12), chegando em São Paulo às 15h. Todo o sufoco passado evidencia o erro gigante de organização da rave. Foram tantas as reclamações durante e pós evento que a página Peripécias da TRIBE foi criada no Facebook. Um grupo de pessoas que foi ao evento está se reunindo para mover uma ação judicial contra a Tribe por todos os danos causados.

Não a toa, a própria organização do evento emitiu nesta terça (14) um comunicado de esclarecimento em que pede desculpas aos frequentadores:

Por fim, ainda com tantos problemas, a assessoria do evento confirma a realização de uma nova TRIBE em 2018.

Confira abaixo mais alguns momentos do festival:

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