O Levante em Bahrein em Fotos: Bloqueios de Rua, Gás Lacrimogêneo e Luta pelo Direito de Protestar

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O Levante em Bahrein em Fotos: Bloqueios de Rua, Gás Lacrimogêneo e Luta pelo Direito de Protestar

Milhares de manifestantes se reuniram no centro de Manama e quatro pessoas morreram nos enfrentamentos com as forças de segurança, outras centenas ficaram feridas.

30 de dezembro de 2014, protestos pedindo a libertação de Shaikh Salman. Foto por Sayed Baqer, Bilad alQadeem.

Em Bahrein, até onde todo mundo se lembra, sempre houve tensão entre a monarquia sunita e a maioria xiita do país. Mas quando o governo sunita chamou o exército saudita para reprimir os protestos pró-democracia no começo de 2011, a batalha se tornou brutal. Milhares de manifestantes se reuniram no centro de Manama e quatro pessoas morreram nos enfrentamentos com as forças de segurança, outras centenas ficaram feridas.

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Em 2013, o governo decretou restrições a reunião de grupos políticos e liberdade de expressão. Essencialmente, ele tirou o direito de protestar dos cidadãos. Muitos bairros enfrentaram batidas no meio da noite e ataques das forças de segurança armadas com gás lacrimogêneo.

Apesar disso, o povo de Bahrein continua desafiando o governo. Pixações pedindo que o rei seja derrubado são mais visíveis que nunca e bloqueios nas ruas são parte da vida cotidiana. Esses bloqueios são usados pelos civis para evitar que a polícia entre em seus vilarejos enquanto eles protestam. Eles usam tudo que cair em suas mãos para bloquear a passagem: madeira, metal, móveis, caixas de leite.

4 de abril de 2013. Foto por Ala'a Shehabi, Sanabis.

O Road Bloc Collective é um grupo de fotógrafos, pesquisadores, ativistas e artistas que escolheram documentar a turbulência em Bahrein. Uma nova exposição do trabalho deles, que abriu semana passada em Londres, apresenta fotografias, trabalhos de som e instalações. As fotos dão uma ideia do clima de resistência civil no país.

Quatro fotos da exposição são de Hussain Hubail, um fotógrafo premiado que está preso em Bahrein desde o verão de 2013. Hubail foi sentenciado a cinco anos de prisão por incitar desordem civil e ódio contra o regime. Ele cobria protestos e manifestações e publicava textos sobre direitos humanos.

Para saber mais sobre a situação de Hubail e as imagens da exposição, falei com outro fotógrafo do Road Bloc Collective, que preferiu se manter anônimo por questões de segurança; ele será chamado "Abo Fadhel" nesta entrevista.

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VICE: Primeiro, como o uso do espaço urbano mudou em Bahrein nos últimos anos?
Abo Fadhel: Desde 2011, as ruas e estradas se tornaram o espaço onde as pessoas protestam por seus direitos: às vezes elas se tornam zonas de guerra, às vezes palco para diferentes formas de expressão, como grafite, esculturas e bloqueios.

14 de fevereiro de 2015. Foto por Mazen Mahdi, Miqsha.

Houve um aumento visível da segurança nas ruas. Por quê?
Sim, desde março de 2011, o governo militarizou o país. Soldados foram espalhados por toda a capital, Manama. Há viaturas da polícia em todas as estradas e postos de controle na entrada de todos os vilarejos que estão bloqueando espaços, como a antiga Praça da Pérola. Por quê? Porque o governo tem medo do novo movimento, medo dos protestos, medo das pessoas saindo às ruas e exigindo seus direitos.

Por que gás lacrimogêneo é usado nesses vilarejos?
Para punir os manifestantes e a população local coletivamente, para evitar que os manifestantes saiam às ruas, para matar as pessoas lentamente.

Foto por Mazen Mahdi, Sitra.

Como vocês se juntaram no Road Bloc Collective?
Bom, tirei fotos para cobrir o que estava acontecendo no meu país, para documentar os momentos de resistência do povo por liberdade e democracia. Fotografo todo tipo de coisa que acontece ao meu redor – adoro fotografia de rua – e esses bloqueios são coisas que cubro normalmente. Gosto do modo como as pessoas estão resistindo.

Acho que meus colegas têm a mesma paixão; queremos ser parte de um coletivo que mostre ao mundo como vivemos cada dia.

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O Road Bloc Collective documenta uma batalha em andamento por espaço, o que podemos aprender sobre a relação entre espaço e poder em Bahrein?
O governo se acha mais poderoso quando ocupa mais espaço, controlando a entrada dos vilarejos – mas isso não o torna mais forte que as pessoas. É só uma questão de tempo até que o povo de Bahrein saia novamente às ruas, ocupe lugares e se liberte dos veículos e pessoal do exército.

Foto por Mazen Mahdi, Jidhafs.

O que você aprendeu fotografando essas situações?
Vi esses bloqueios de rua evoluírem. O objetivo principal é evitar que os veículos da polícia atropelem os manifestantes, mas com o tempo, os manifestantes começaram a usar coisas engraçadas e materiais criativos. Estou testemunhando a resistência.

Você já se viu em alguma situação difícil? Você já foi preso por tirar fotos?
Sim, me coloco em situações perigosas e muitas vezes é difícil tirar boas fotos. Fui preso uma vez, mas eles não tinham provas para me manter sob custódia.

1º de abril de 2012. Foto por Ahmed al-Fardan, Abu Saiba.

Você conhece bem um dos outros fotógrafos, Hussain Hubail? Ele está preso no momento – por quê?
Sim, conheço. Hussain estava sempre presente durante os primeiros dias do levante, quando foi preso acusado de espalhar notícias fabricadas que incitavam o ódio ao regime. Tudo que ele fez foi tirar fotos; ele capturou aqueles momentos.

Foto por Mazen Mahdi, Jidhafs.

O que você espera que a exposição alcance na Europa? Ela poderia acontecer em Bahrein?
É uma exposição de arte que visa mostrar a resistência civil nesse pequeno país do golfo. Temos muitos amigos em Londres que nos ajudaram a montá-la. Nunca poderíamos fazer algo assim em Bahrein; o governo destruiria isso como fez com muitos outros projetos de arte que destacavam o que está acontecendo no país.

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O que vem agora para você? Para onde seu fotojornalismo está te levando?
Continuo trabalhando, cobrindo o máximo possível. Não vejo um futuro promissor sob esse regime, mas espero o melhor.

Obrigada, Abo.

A exposição do Road Bloc Collective vai até 30 de julho na Rich Mix de Londres.

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Tradução: Marina Schnoor