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Politică

Por que está cada vez mais difícil para um jovem ser eleito no Brasil?

A falta de valorização partidária leva os millennials a seguirem outros caminhos de participação política.
Imagem via Wikipedia 

Os jovens na política nunca foram maioria entre os nomes inscritos para candidatura eleitoral. A soma do número de candidatos abaixo de 35 anos nas eleições gerais de 2014 e 2018 é de 8.596 pessoas, enquanto cabe aos mais velhos 84,1% do total de inscrições políticas.

Nas últimas eleições gerais, dentro do escopo de jovens eleitos pelo voto popular, somente José Renan Vasconcelos Calheiros Filho, na época com 34 anos, foi convocado para ser governador de Alagoas pelo MDB. Nenhum dos candidatos classificados por quociente partidário ou média em 2014 foram negros, indígenas ou amarelos, segundo dados do TSE.

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Mas então a atuação política dos millennials não passa dos textões do Facebook e hashtags mal feitas durante debates eleitorais? Na verdade não. Segundo a socióloga e professora da UNIFESP, Esther Solano, o problema é que a juventude se identifica muito pouco com a estrutura clássica de partidos políticos, então acabam preferindo outro tipo de engajamento.

O ativismo político millennial foi muito marcado no Brasil pelas manifestações de 2013. Mas se olharmos um pouco mais pra trás, esse público já se apropriou de um papel de cobrança e educação política há algum tempo. Desde 1992, a participação da juventude em movimentos políticos em massa têm tido altos e baixos.

Do impeachment de Fernando Collor à pressão popular que levou à queda do governo Dilma, o movimento estudantil brasileiro foi catalisador de projetos políticos. Para Renato Nogueira, doutor de filosofia e professor da UFRRJ, “a juventude tem tido interesses por outras modalidades de participação política, influenciadores digitais e movimentos culturais independentes”, já que a vinculação política tem soado como uma metodologia de enfrentamento do passado, completa.

Além do modelo da política velha, também há uma falta de interesse por parte dos partidos políticos para eleger estes candidatos. Segundo Esther, esse é o maior problema, e também a razão, em relação aos dados significativos presentes nas candidaturas. “Na hora de votar, você vota no candidato que tem uma maior visibilidade. Se o partido também não aposta bancá-lo no consumo partidário é difícil eleger esse candidato”.

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Ela também destaca que após as manifestações de 2013, a politização de alguns jovens aumentou juntamente com um interesse em participar ativamente na política, mas o que não mudou foi esse interesse dos partidos.

De 2014 para 2018, o PSB (Partido Socialista Brasileiro) foi o partido que mais obteve mudança ou desistência de candidatos com menos de 35 anos de idade, porém a média comparativa entre esses quatro anos não varia mais que 2%. Isso quer dizer que não houve nenhuma grande evolução em candidaturas jovens nesta nova eleição geral.

Para o filósofo político Renato Nogueira, é inocência achar que elegem-se pessoas. “Racismo, sexismo e patriarcado são elementos que estão juntos com esse histórico de poder e fazem parte da maneira como a democracia é operacionalizada”, completa. Para os especialistas, os partidos preferem não investir nos jovens por conta dos privilégios já conquistados pelos grandes e “experientes” nas cadeiras eleitorais, ou seja, quando você aposta na entrada de novos nomes, corre o risco de perder esses privilégios.

Tudo isso acarreta não só na falta de representação, mas também na deficiência de políticas públicas e propostas dos governantes focada para os jovens. “Se você tem uma democracia representativa com pessoas mais velhas acaba elegendo mais eles, que não escutam a juventude e isso vai repetindo”, reforça Esther.

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