Uma história oral do TTK

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Noisey

Uma história oral do TTK

De Marcelo D2 e Beni a Filipe Ret e Sain, conversamos com os principais personagens de um dos mais vigorosos movimentos hip hop do Brasil de hoje (e amanhã).

Delegacia do Catete, ao lado do antigo endereço do Marcelo D2. Foto de Ricardo Beliel

"Eu falo da nova geração do rap carioca, eu falo dos herdeiros da Zoeira da Lapa, eu falo dos herdeiros da Batalha do Real…" Para mim, que vivi e participei da cena hip hop da Lapa carioca na passagem dos anos 90 para o século XXI, foi genial assistir em pleno palco do Imperator o ícone Marcelo D2 emocionado abrir o show de lançamento do disco "Fruto do Jogo" do grupo Start Rap de seu filho Sain. Numa noite chuvosa de abril, eles celebravam a marca de mais de 50 mil downloads do recém lançando álbum e a confraternização da galera de uma das áreas mais influentes para a juventude no Rio de Janeiro nos últimos tempos, o bairro do Catete.

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Vendedor de rosquinhas no Catete. Foto de Ricardo Beliel

O TTK, como é falado o nome do bairro no dialeto dos pixadores locais, é uma área apertada entre a abastada Zona Sul, o histórico Centro do Rio e a belíssima e poluída Baía de Guanabara. É o corredor no baile do lado A e lado B carioca.

Tradicional, o bairro já sediou a presidência da república, que ocupava o Palácio do Catete, e teve como moradores ilustres o escritor Machado de Assis, a imperatriz Carlota Joaquina e a cantora Carmem Miranda. Hoje é um bairro de classe média baixa, onde velhos sobrados se misturam a grandes edifícios e às favelas do Santo Amaro e Tavares Bastos. Na vizinha Glória, os travestis passeiam com naturalidade nas ruas em que hotéis e pensões para turistas com orçamentos mais em conta formam o cenário icônico da pixação.

Sobrados do TTK. Foto de Ricardo Beliel

De Filipe Ret, Sain (Start Rap), Ademafia, Beni, Akira Presidente, Shadow à nova revelação da área Néctar Gang, o perímetro do Catete e adjacências (Glória, Largo do Machado e Flamengo) se estabelece como um celeiro cultural impactante para as novas gerações da cidade e, consequentemente, do país.

Don Negrone, DJ Jimmy Jay, Beni e Gabriel MSE na Roda Cultural do KGL. Foto de Ricardo Beliel

Uma área em que a tradição se mistura com o novo. Do carteado dos coroas na rua aos atabaques do funk carioca. Da eterna boemia ao rolé de skate no antigo palácio presidencial. Essa cena do TTK vai de música, arte, audiovisual à moda se tornando referência da cultura urbana carioca.

Carteado dos coroas na Glória. Foto de Ricardo Beliel

Conversei com os personagens que fazem essa cena acontecer:

MARCELO D2

Foto de Wilmore Oliveira

D2 foi morar adolescente no Catete em 1983 e ali começou o Planet Hemp. Ele é considerado o primeiro rapper do bairro e conta como foi esse começo.

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Eu cheguei no Catete em 83, saído do Andaraí, e não tinha rap em lugar algum. No Rio deviam ter umas cinco pessoas que faziam pap, mas no Catete tinha muito dançarino de break e já tinha o Baile Funk do Santo Amaro. Nessa época, o funk tocava Afrika Bambaataa, Kurtis Blow… E depois eu comecei a fazer rap. Acho que sou o primeiro rapper do Catete… Aliás, não: o primeiro foi o Skunk. Nos conhecemos no bairro e ele já tinha uma letra que era a de "Puta Disfarçada" que ele escreveu em inglês e eu traduzi e fiz a rima.

Quando eu cheguei no Catete foi muito impactante pra mim esse aspecto de contracultura que o bairro tem e a herança da malandragem da Lapa. Geral falava disso, dos malandros, de Madame Satã. Ali encontrei roqueiros, cineastas, artistas e isso me inspirou muito. Eu morava no 90 da Rua do Catete e rolavam sessões de filmes independentes no cinema do Palácio do Catete. Assisti muito David Lynch: "Coração Selvagem", "Twin Peaks"… Alí o skate era bom pra caramba, a gente andava muito pelo Palácio, era o bicho. Nesse tempo também a galera alternativa era pequena, andavam todos juntos, tinham uns cinco caras do rap, quatro do rockabilly, seis do punk e geral ouvia os sons um dos outros, era muito interessante. Minha musica tem muito dessa mistura, até dos mais velhos que curtiam Pink Floyd e King Crimson.

Fundos do Palácio do Catete. Foto de Ricardo Beliel

Eu botava nome, era pixador, pixava ZIC, a pixação ali sempre foi forte. Sou da época do Vinga (considerado o pixador mais lendário do Rio), e eu nem sabia que pixação e grafitti tinham a ver com a cultura hip hop, fui descobrir essa ligação no Catete.

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Outra parada interessante era como geral falava a Gualin do TTK, mudando a ordem das palavras, e virou uma língua do bairro, da pixação. Quem começou isso no bairro foram os turistas pobres, os argentinos que chegavam de Buenos Aires e não tinham grana para ficar em Copacabana. Eles lá já falavam ao contrario, já traziam isso, tu vê até mesmo no nome do grupo Gotan Project, e disseminaram essa língua e geral absorveu.

Típico hotelzinho do Catete. Foto de Ricardo Beliel

O Catete ainda é muito importante para mim. Lá moram minha mãe, meu filho, minha neta (#princesinhadottk), a galera do futebol e vários amigos. É um lugar propenso pro hip pop, é muito urbano, a molecada é rua e tá sempre na rua. Meu filho já ia para a festa Zoeira na Lapa com 10, 11 anos e começou a fazer rap nessa idade. Com 15, 16 anos ele tomou isso a sério. Essa geração toda tem a parada do "do it yourself", de fazer tudo mesmo, de abrir a própria empresa. Hoje em dia as gravadoras não tem mais controle sobre essa galera, e essa molecada tá muito feliz em ter suas próprias paradas. Galera voltou a ser livre, eles falam o que querem.

DJ BABÃO

Do grupo Inumanos, referência do hip hop da Lapa e cria da Glória e Catete lembra fatos interessantes da transição entre os anos 90 e começo dos 2000:

Aqui a gente começou pixando, jogando fliper [fliperama] e ouvindo rap, rock e funk. Tinham vários bondes de xarpi [pixo na Gualin do TTK] tipo Grafiteiros da Glória, Demônios da Glória, Comando Boina Verde, Filhos da Rebeldia e em meados de 94 e 95 quando o CD chegou muita gente da área começou a descartar seus vinís, daí você via varias coleções fantásticas de vinil nos lixos do bairro e os mendigos começaram a catar esses discos e vender na Rua do Catete e surgiu a feirinha de discos dos GoDiMen, que foi super importante pros DJs de hip hop do Rio. O Inumanos (grupo da Lapa com Aori e DJ Babão) nasceu disso e é muito foda ver que somos influência para essa galera do TTK.

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BENI

Foto de Wilmore Oliveira

Apontado por muitos como referência dessa cena, Beni é uma figura emblemática do TTK, um Renaissance Man que rima, produz beats, dirige clipes e tem um estilo único de se vestir. Dono da Máfia da Caneta e com o disco novo intitulado Negros, ele comentou sobre a cena:

Eu sempre fui um cara da rua. Quando me mudei pro Catete, com 14 anos, fui me envolvendo com a galera do skate e aprendi muito sobre música. Eu via o Lukinhas (o skatista e videomaker Ademar Lucas, da Ademafia) criança andando de skate, o Churrasquinho, o Sain. A gente fazia campeonato de skate em frente ao Palácio do Catete. E o meu padrasto me influenciou também porque ele ouvia muito charme. Ele tinha aquela parada da Zona Norte do Rio de charmeiro, de ficar ouvindo os programas da rádio.

Logo depois fui morar um tempinho em Newark, nos Estados Unidos, e lá tive meu primeiro grupo de rap chamado Thug Inition. Tive contato com produção, batidas e quando voltei já vim com aquela estética de roupas largas, piercing e tal, e geral ficava me olhando e falando "Caraio quem é esse cara de vestido?!".

Essa parada do estilo de vestir é natural pra mim, do lance africano. Minha vó me dá muitos panos desse estilo. Eu tenho esse contato forte, eu curto ter essa pegada do estilo negro de vestir, que é o quinto elemento do hip hop. Hoje em dia eu vejo a cena muito mais versátil no quesito da moda, cada um tá buscando sua identidade.

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Foto de Wilmore Oliveira

Nesse tempo eu comecei a frequentar muito a casa dos DJs Ninjah e Bigode, que tinham um apartamentinho no Catete, a Velha Fábrica de Funk, e ali eles foram os grandes maestros. Na casa deles se reuniam eu e vários MCs, dentre eles o [Filipe] Ret. Foi dali que surgiu a minha dupla com o Ret chamada Livre Arbítrio.

A gente frequentava as Batalhas do Real na Lapa e depois as batalhas do Limãozinho. Meu apelido era MC Saco de Cola. Influência do som do RZO "Rolê na Vila": "Quando não um baseado, alucinado, um saco de cola", mas nunca usei cola não hahaha. A galera do TTK ia muito ali, a gente bebeu muito da fonte da Lapa. Eu escutava muito 50Cent, Pharcyde, Biggie [Notorious B.I.G.], A Tribe Called Quest, Snoop Dogg, curtia muito som jamaicano também.

Minha arte nasce da necessidade. O meu começo foi rimando. Daí surgiu a necessidade de ter batida, então comecei a produzir. Aí surgiu a necessidade de ter um vídeo e fui filmar. Surgiu a necessidade de ter um logotipo e comecei a fazer o design. E aí foi que comecei a influenciar a galera, o MãoLee, o Sain, Cochi (da Ademafia) e tal.

Foto de Wilmore Oliveira

FILIPE RET

Foto de Wilmore Oliveira

A TuduBom Records , selo de Filipe Ret, MãoLee e Daniel Shadow, é um dos carros-chefes da ascensão da cena do TTK. Ret, um dos rappers de maior destaque hoje em dia na cena nacional, é um dos grandes expoentes do TTK, com fortíssima influencia do funk melody e da vivência nas ruas do bairro. Seu som "Asfalto do Catete", feito na época do grupo Numa Margem Distante , é apontado por muitos como um dos sons que melhor representa o bairro. Com o novo disco Revel recém lançado, Ret explica seu ponto de vista sobre o TTK:

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Minha história de vida é o TTK. Eu nasci na última casa de uma vila na subida do morro Santo Amaro. Cresci jogando bola na ladeira, brincando de taco, jogando bolinha de gude. Aos 11 anos, meus pais se mudaram da ladeira para o asfalto. Lá eu comecei a andar com a malandragem da Praça do Catete, ao lado do palácio. Ali eu comecei a pixar, logo depois fumei meu primeiro baseado e fui conhecendo as coisas boas da vida.

A maioria da galera ouvia funk e pagode, mas meus pais sempre ouviram MPB e rock nacional. Fui influenciado pelos dois lados. As duplas de funk do TTK na época eram (são) meus ídolos, Loscar e Torrá, e Suel e Amaro. A partir dos 14 anos eu comecei a ir pra vários bailes. O primeiro baile que fui foi o Chaparral, perto da Nova Holanda, Zona Norte da cidade. Fiquei absolutamente maravilhado. A "diversão" na adolescência era botar nome, daí surgiu o nome Ret. Era meu nome no xarpi.

A casa que nasci no Catete foi construída pelo meu bisavô português que veio de barco pro Brasil fugindo da Segunda Guerra Mundial. O Rio era a capital do Brasil e o Palácio da República era o Palácio do Catete. Sem dúvida tudo isso influencia. Somos do Rio de Janeiro mais antigo, onde os malandros brigavam com navalha, usavam blusa de seda, sapato colorido, etc.

Ponto de mototáxi na Glória. Foto de Ricardo Beliel

Eu sou o primeiro MC de rap a exaltar o TTK nas letras. Isso na época da Batalha do Real no 73 da Rua do Riachuelo, ali eu batalhei contra Marechal, Loko, Gil, Sheep, Tulio Dek. E o TTK hoje vai além do bairro. É como se fosse a cultura no geral. De Santa Teresa e todas as favelas da área, Lapa, Glória, Largo do Machado, Laranjeiras, até a Praia do Flamengo, é tudo "TTK", porque a cultura é a mesma. A molecada nova também vem representando. Sempre troco ideia com eles, dou conselhos e aprendo também.

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No meu novo disco Revel eu trago bastante dessa vivência do TTK. A contra-capa é o Palácio do Catete e a música "Só pra Você Lembrar" (com sampler do clássico dos bailes: Lil' Johanna - "Take Me in Your Arms Again") representa muito a área. O disco tem bastante influência do funk melody e daquela época.

IKY CASTILHO

O renomado produtor musical Iky Castilho, dono do selo Café Crime , lembra um fato curioso:

Um dia eu resolvi ligar para um camarada que eu conhecia, porque achava que ele tinha um talento foda, mas não tinha se jogado no lance. Eu tava fazendo uma mixtape e queria que ele gravasse, mas ele trabalhava numa firma de publicidade e não sabia se investia na carreira musical ou não. Combinamos de nos encontrar na Lapa e ir pro estúdio conversar. Só que eu tinha uma entrevista pro documentário L.A.P.A., e depois da entrevista tivemos uma sessão de fotos. Esse camarada era o Ret! E tem ele numa foto do filme, tímido, de bike, seguindo a gente, pra depois disso irmos pro estúdio. O resto é historia.

Ret novinho atrás de Iky, Funkero, Marechal e Aori para o doc L.A.P.A. Foto de Mauro M. Kury

MÃOLEE

Foto de Wilmore Oliveira

O DJ e produtor MãoLee é um exemplo clássico dessa área da cidade. Criado na rua Cardoso Júnior ("Eu não sou de Laranjeiras, sou da Cardoso"), percussionista de bloco de carnaval, também foi músico de um grupo de pagode e se perguntava na época se algum dia ganharia mais com o hip hop do que com o pagode. Os mais de 37 milhões de views no canal da TuduBom no YouTube indicam que sim.

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"Eu sou da Cardoso Junior. Eu até tatuei o nome da rua. Aqui é subúrbio da Zona Sul e a cultura daqui é diferente, é mais próxima da cultura do Catete. Aqui geral foi criado junto com a galera das favelas do Prazeres e Cerro Corá. Geral jogava bola, tocava junto em bloco de carnaval e foi onde eu comecei na música aos cinco anos de idade. Até hoje sou envolvido em bloco de carnaval, no Cardosão, eu faço a marcação de surdo pro bloco.

Foto de Wilmore Oliveira

Eu sou cria de baile funk, sou muito fã do Volt Mix, das batidas do Hassan, e tive um grupo de pagode também, aqui da área, e na época que eu tava no Numa Margem Distante eu falava que ganhava mais dinheiro com pagode do que com rap, hoje em dia mudou, né?! hahaha.

Aqui na área tinha o casarão do Fifa, que era amigo da rapaziada, e geral ia lá fumar bagulho. Eu comecei a brotar lá e conheci o Ret, o Beni… O Beni era da Velha Fábrica de Funk e tinha uma dupla com o Ret. Lembro do Beni mostrando "Morte aos Assassinos da Paz", esse som o Beni fez com o Ret e com o Duani. O Duani que acho ainda era do Forroçacana. Ele ensinou muito ao Beni. E o Duani produziu agora o "Invicto" comigo pro Ret. O Beni me ensinou muito a produzir beats.

Na sequência, eu e Ret formamos o grupo Numa Margem Distante. Nós tocamos na primeira festa Xarpi produzida pela Kel. Essa festa foi muito importante para o hip hop carioca dessa nova geração.

Nessa época rolou a Batalha de Beat e lá conheci o Papatinho e o Shadow e rolou uma sintonia muito boa. O Shadow tava no Cartel MCs, dai convidamos ele e gravamos a "Só Precisamos de Nós" e ele acabou vindo pra TuduBom.

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Muita gente da antiga fala que essa nossa parceria é que tá fazendo a cena do hip hop crescer. Sou muito fã do Beni, ele foi meu professor e ele tem um gosto musical que me completa muito. Eu e Shadow gravamos o disco do Ret, o VIVAZ, só ouvindo os sons do Beni. A gente fumava um, ouvia o disco do Beni e depois ia gravar.

Nós aqui na área não vemos o diferente com preconceito, nós vemos com curiosidade. A cena do TTK é, como diz o Chico Science, "cante seu povo" — a gente canta o nosso povo, nossa vivência. Cantar o TTK é como cantar o Brooklyn em Nova York.

Essa nossa cultural é muito marginal, somos cria de cultura marginal. A nossa maneira de nos comunicar é muito pixação, é sorrateira, ela vem vindo e quando vai ver pega geral. Não tem como falar do TTK sem falar da pixação, do funk e do skate.

DANIEL SHADOW

Foto de Ricardo Beliel

Daniel Shadow, dono do selo TuduBom junto com Ret e MãoLee, traz uma visão diferente do TTK. Por ter crescido em outra parte da cidade, ele é um observador e cronista da área com uma lírica bem particular. Recentemente ele lançou o disco Ou Tudo ou Nada:

Eu nasci na Zona Norte, no Grajaú. Depois fui morar com meu pai na Barra, perto do Recreio, no mesmo condomínio que o Batoré da Cone Crew mora e fiquei um tempo ali. Logo depois, com 13 anos, eu viajei pros EUA e nessa viagem eu tive contato com o disco The Chronic do Dr. Dre. Pirei nesse disco e comecei a querer saber o que era o hip hop. Quando voltei ao Brasil queria mostrar essas paradas pros amigos ali na Zona Oeste e ninguém me acompanhava, por que na Barra geral só se ouvia funk, não queriam ouvir hip hop. Nessa época eu escrevia umas letras de funk, frequentava o Baile da Praça Seca. O The Chronic do Dr. Dre e o Me Against the World do Tupac foram marcantes. Eu aprendi inglês ouvindo rap.

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Depois de um tempo fui morar em Botafogo e conheci o De La Rima e o Ber e formamos o Cartel MCs. Começamos a tocar em eventos no Centro e na Zona Sul e fomos nos aproximando da cena da Lapa, em que rolavam dois eventos interessantes na Fundição Progresso. Um era a Batalha do Conhecimento do Marechal e o Reciclando Pensamentos do Comando Selva. Esses dois eventos foram a base para o CCRP (Circuito Carioca de Ritmo e Poesia).

Nessa época me mudei para o Catete, dez anos atrás. Conheci o MãoLee e o Ret pelo Cartel. A gente fez os sons "Distante" — que na época foi o maior single do Cartel — e o "Só Precisamos de Nós". O Ret contava muito as historias do TTK. Ele sempre exaltou o bairro.

Orelhão no Catete. Foto de Ricardo Beliel

E aqui no Catete é bem mais próximo da Lapa, então ela passou a ser o quintal de casa mesmo. Eu via a Lapa de dia, coisa que quem é de outra área da cidade não vê.

Pra mim, a maior influência do TTK foi a parte lírica. Quando eu comecei a escrever não me preocupava com a parte lírica, mas quando vim pra essa área comecei a trabalhar isso. Nessa convivência com o Ret comecei a ter essa preocupação com o que eu digo nas letras. E vir pra cá mudou minha vida. Hoje em dia eu tenho um amigo mendigo e um outro que é um dos expoentes do hip hop no Brasil. Qual seria a chance disso acontecer morando na Barra?!

Eu agradeço aos contratempos que aconteceram na minha vida que me forçaram a vir morar nessa área da cidade, que mudou tudo pra mim. Talvez se tivesse ficado na Barra eu seria audiência em vez de ser rapper.

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KEL

Foto de Ricardo Beliel

Kel, lenda da pixação carioca e fundadora da festa Xarpi — evento que lançou vários artistas da cena atual do hip hop — conta como foi a vivência na pixação e o início da Xarpi.

Eu moro na Glória e estudei no Catete. A cena da pixação aqui na área sempre foi muito forte. O TTK sempre foi conhecido por difundir a língua de trás pra frente, a famosa "Gualin do TTK". Eu cresci em meio a tudo isso. Com 14 anos eu coloquei meu primeiro nome na rua e comecei a conhecer os garotos da área que faziam acontecer, mas foi uma amiga que me encorajou. Existiam "bondes" de meninas que pixavam, e uma amiga me chamou pra entrar na sigla "Inferno Feminino". Aí eu comecei e logo depois já estava entre os maiores pixadores do Rio. Eu admirava muito a galera das siglas FR (Filhos da Rebeldia), VR (Vício Rebelde), JR (Juventude Rebelde) e TW (Trip Wave). Assim que comecei a pixar com as meninas em 2002, Naty, a fundadora da sigla, faleceu (por motivo não relacionado à pixação), e nenhuma das outras quis continuar praticando, mas eu resolvi continuar mesmo assim pra fazer a vontade da Naty e dar orgulho a ela. Quem conheceu sabe, devo tudo a ela!

Logo depois conheci os maiores da cena. Comecei a namorar um deles (o lendário Caixa, falecido em 2005) e passei muitos anos me dedicando a essa loucura que é o xarpi. O xarpi sempre esteve muito presente na minha vida e logo depois eu conheci o hip hop, que me fascinou muito também.

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Em 2010 eu já estava muito abalada com as perdas que tive na pixação e resolvi fazer uma festa de aniversário misturando esses dois mundos (hip hop e pixação) e deu super certo. Chamei o Ret (na época do Numa Margem Distante) e os amigos do Comando Selva pra cantarem num antigo sobrado na Lapa. Naquela época pixador gostava de funk; hip hop pra eles era só Racionais MC's e MV Bill. A partir dessa festa resolvi começar a fazer o evento de verdade porque a cidade tava carente disso. E o evento não podia ter outro nome, batizei de Xarpi. Lançamos muita gente importante do cenário nacional.

Roda Cultural do KGL. Foto de Ricardo Beliel

A festa teve seu ápice, mas a gente trabalha pra ela continuar. Sem patrocínio é muito difícil manter um evento na nossa cena. O hip hop tá super valorizado, os MCs tem todo um mérito, mas o produtor geralmente tem que se revirar pra tudo acontecer. Sei que a festa Xarpi é reconhecida a nacionalmente e sempre vai ser lembrada, isso me deixa feliz. Esse ano ainda pretendo fazer um festival com a galera do hip hop no melhor estilo!

A pixação me deu tudo isso de bom, mas muita coisa negativa também. É uma relação de amor e ódio. Foi preciso eu perder duas pessoas que eu gostava muito pra eu amadurecer. Vou sempre admirar a cultura, mas hoje em dia estou bem afastada da cena. Muitas amizades continuam, claro. O xarpi é uma cultura que passa de geração pra geração.

AKIRA PRESIDENTE

Foto de Wilmore Oliveira

Akira Presidente, primeiro vencedor da Batalha do Real, cria do bairro do Flamengo e rapper de uma estética que remete ao Rio Antigo, tem mixtape nova na praça, Pós Expediente, pelo novo selo do TTK, Pirâmide Perdida :

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Eu nasci e moro no Flamengo, há duas estações de metrô do Catete. Depois da influência da geração da Lapa, (Zoeira, da Batalha do Real, da Rádio Fundisom [à época FM 103.3, rádio pertencente à Fundição Progresso]), essa galera de hoje se encontra aqui no bairro, somos vizinhos, é um polo criativo.

A gente tem essa parada meio Wu-Tang Clan, indiferente de morar no mesmo prédio ou rua temos essa coletividade.

Eu sou o primeiro campeão da Batalha do Real. Naquela época não tínhamos muita noção para onde a gente ia, sempre fomos meio anti-fluxo e boa parte do que tentamos fazer anos atrás a galera tá fazendo hoje. É bom porque a gente continua correndo atrás como se não tivesse nada e vai conquistando muito espaço.

Essa proximidade com a Lapa criou um lastro pra gente. Nós já temos uma raíz muito forte. Quando a gente fala de cultura de rua, Lapa e o TTK ficam em voga mesmo.

Palácio do Catete. Foto de Ricardo Beliel

Eu vi o Black Alien, o Shaw, BNegão, Aori e etc no fim dos anos 90. Naquela época, tinha que ser sangue bom pra chegar na cena, era tipo roda de partido alto. Essas duas gerações que vieram depois beberam muito dali.

Quem tá no Catete não pensa na praia. É uma galera urbana. É concreto em vez de areia. No meu caso, por ser do Flamengo, estou mais próximo da praia. O meu som tem um pouco de maresia, mas somos todos TTK.

Garotada do TTK no ritmo da pista. Foto de Ricardo Beliel

Agora após essa mixtape [ Pós Expediente] eu lanço disco novo, provavelmente esse semestre pela Pirâmide Perdida, que é o nosso novo selo do TTK. Nessa mixtape tem um som com o Néctar Gang, "Papo dos Mais Velhos" que traduz bem esse legado dos malandros da área com essa coisa de ser tranquilo, ser observador, mas ter uma brabeza na mente. A gente aqui é bossa nova e ao mesmo tempo é punk rock, tá ligado?! Isso é muito o TTK.

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ADEMAFIA

Foto de Wilmore Oliveira

O canal que é a nova sensação do skate e lifestyle no YouTube com seus episódios " Adelifes ". Dirigido pelos skatistas/videomakers Ademar Lucas e Cochi, o Ademafia representa o skate do TTK:

Ademar Lucas é cria do Santo Amaro e Cochi morou na Tavares Bastos até os 15 anos, mas frequenta o Catete diariamente.

Ademar: Nós começamos com skate mesmo, ali no Palácio do Catete e fomos conhecendo a galera da rua, da música, da pixação. Isso entre 2001 e 2002. Remela (grafiteiro do bairro) andava com a gente, o Botinho (produtor do Néctar), o Sain do Start Rap.

Foto de Wilmore Oliveira

Cochi: Eu conheço o Beni desde que me conheço por gente. Minha imagem de rua era o Beni. Ele é minha inspiração também. Ele faz tudo: cor, edição de vídeo e aprendeu tudo sozinho, pesquisando e tal. Ele me deu vários toques para filmar e editar.

Ademar: Na época aqui tinha a Arroba Skate Shop, que foi fundamental para o meu começo no skate. O dono tinha uma escolinha de skate e começou a me apoiar, me levar para campeonatos e comecei a ganhar. A partir do segundo campeonato ganhei cinco seguidos. Para mim, Rodrigo Teixeira, Urina, Alex Carolino são referências do skate, e, principalmente, a Praça XV no centro do Rio.

A influência do TTK é inevitável. O funk é nossa identidade, a gente se destaca com o funk. Quando eu tinha 14 anos, corria os campeonatos pelo Brasil com trilha de funk e geral pirava, queriam saber das músicas, eu me diferenciava. Eu fazia questão de mostrar que a trilha da minha área é o funk.

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Foto de Wilmore Oliveira

Cochi: Eu estudo design e já edito desde 2008, mas fui botar realmente em pratica em 2013, quando comprei minha câmera. Fui me aprimorando e precisava fazer um vídeo de um minuto, então chamei o Ademar para me ajudar. Saímos para filmar e só rolava merda na rua, sempre tinham uns mendigos para falar com o Ademar. Daí eu pensei que isso dava uma coisa legal e pensamos em fazer um canal chamado "O Fantástico Mundo de Ademar", isso já em 2014. Mas o Ademar foi pra São Paulo com o Bila (sobrinho do Ademar e também skatista) e me trouxe três semanas de filmagem dessa tour. Eu fui editando esse material, já nesse conceito da Ademafia, com música, mendigo doidão falando merda, rolé de skate e surgiu o canal Ademafia.

Ademar: Eu viajo desde muito novo andando de skate pelo Brasil e fora. Já fui para Argentina, Chile, Alemanha, Espanha… Isso me abriu muito a mente.

Eu fazia uns vídeos com um amigo para uma marca que eu andava e comecei a aprender a filmar e o canal rapidamente cresceu muito. Tivemos vídeos com mais de 30 mil views em quatro meses de canal! [O canal hoje tem um ano de existência e vídeos com mais de 45 mil views] Estamos recebendo emails de todos os cantos do Brasil. Pessoas que dizem que tão começando a andar de skate por nossa causa. Gente que tá estudando fotografia influenciado pelo Adelife do Jesus (o fotógrafo Ronaldo Land). Param a gente na rua para tirar foto.

O plano pra Ademafia é crescer o canal, projetar os personagens e levar também a Ademafia para comunidades e dar aulas de skate, de fotografia, de música, de edição de vídeos.

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A cena do TTK tá estimulando muita gente, temos muito orgulho de falar que somos do TTK. Imagina quanto moleque não tá começando a fazer rap, beat, vídeo por causa dessa cena?!"

Esquina das ruas do Catete e Pedro Américo, com o Morro do Santo Amaro no fundo. Foto de Ricardo Beliel

SAIN

Foto de Wilmore Oliveira

Rapper do grupo Start Rap, beatmaker e filho de Marcelo D2, é considerado um catedrático do hip hop e um dos arquitetos da cena do TTK:

Eu nasci no Catete, meu pai morava no prédio pertinho da delegacia, no 90. A menorzada aqui cresce com os ícones do bairro, os boêmios do bar, os caras do mototáxi. É rua mesmo.

O skate na frente do Palácio foi muito importante. Eu conheci o Lukinhas [Ademar Lucas, do Ademafia] porque eu morava perto e o Botinho [Néctar Gang] estudava comigo e geral se encontrava no Palácio pra andar de skate. Skate uniu a rapaziada.

Foto de Wilmore Oliveira

Essa galera da rua, da boemia, a galera da Hemp Family, do xarpi, eram nossas referências. Eram diferentes do lugar comum, nunca seguimos o sistema.

O funk também juntava legal a galera da pista e do morro. Lembro que geral da rua e da escola se encontrava nos bailes. Muito da nossa cultura vem dessas favelas da área. Até o jeito de se vestir também. Tu olha o jeito de se vestir do Suel e Amaro nos vídeos antigos, tudo de Nike e tal. Essa estética influenciou a gente. E o Beni também, visionário, geral do TTK considera ele. Ele é o cara por trás dos panos. É o cara que mostrou o rap pra molecada, o estilo de vestir e tal.

Pra mim, o TTK é como se fosse um pai da gente, é tipo minha religião, eu tenho orgulho de mostrar como é aqui, somos bairristas. E esse disco do Start Rap é isso, é fruto do jogo, o TTK é o fruto do que eu aprendi.

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Sain e #princesinhadottk. Foto de Ricardo Beliel

Eu vejo qualidade nessa cena toda, todos no mesmo fluxo de cobrança. Ninguém quer deixar cair e isso é bom pra cena, aumenta a qualidade das paradas. Acho que criamos uma linguagem sonora nessa área da cidade. Esse estilo se formou aqui e tá transparecendo em várias paradas. Em letras, em beat, em vídeos.

Temos essa preocupação estética. A gente tá bem ligado nas paradas e isso nós levamos pro nosso show. Criamos algo que é meio novo pro rap no país. A cena ainda não comporta essa estrutura de várias participações, palco, telão de led, troca de figurino.

Para o show de lançamento do CD convidamos a Ademafia para filmar e teve tudo a ver. Eles são a nossa linguagem, curto muito o trabalho deles e o canal só cresce.

Eu devo vir com disco solo nesse segundo semestre, numa onda mais anos 90. Vai sair pela Pirâmide Perdida.

A gente tá criando interesse pelo bairro e esse interesse é consequência do trabalho da galera. Eu vejo muitas das nossas gírias sendo repetidas em outros bairros e até em outras cidades. O TTK tem ainda muito mais para apresentar.

MARCO GRILO

Grafite classico em homenagem a Bezerra da Silva, na Lapa, serviu como locação para o video de "KGL" do Néctar. Foto de Ricardo Beliel

Diretor e fotógrafo paulistano que dirigiu os videos do Start Rap " Tonent " e do Néctar Gang "KGL" comenta a experiência no TTK:

Acho essa cena muito original, sem forçar nada, com as gírias e a estética. É tipo Chiraq, ali o bagulho é cinza. Quando fui dirigir os dois vídeos eu tentei colorido, mas não via colorido. Eu via PB mesmo, cinza, é a cor do TTK.

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Entre um vídeo e outro teve quase um ano. Quando fui filmar "Tonent" (o primeiro) eu estava com o Sain, saindo da casa dele, e passou uma moto a toda com dois caras e um deles largando tiro pro alto. Ali eu pensei "é isso, é o TTK, essa loucura da rua" e eu curto muito fotografia de rua tipo Larry Clark, Boogie e acho que esses dois vídeos traduzem bem isso. Com o Néctar, nós filmamos nos lugares que eles convivem. Na Glória, no Santo Amaro, numa boca que tem na Lapa, e ali foi um dos lugares que eu mais gostei, a fotografia ficou muito foda, e foi doido porque a cavalaria passava e olhava pra dentro e tal.

NÉCTAR GANG

Foto de Wilmore Oliveira

Grupo revelação da cena no TTK que reflete a vivência de rua nessa área da cidade com batidas e rimas sombrias, que caminham entre a Golden Era do rap e o trap atual:

Nós somos do Catete e da Glória, o BK morava em Jacarepaguá e veio pro Catete logo depois. O TTK sempre foi meio centro meio sul, com muita influência das favelas. O bagulho da pixação muito forte, eu (Bril) boto nome até hoje. A gente se conheceu ali na Fundição Progresso da Lapa, nas batalhas do Reciclando Pensamentos. Ali a gente conheceu o Shadow, pessoal do Comando Selva e depois formamos o grupo no estúdio do Iky Castilho da Café Crime. Tinha também o Baile Funk do Santo Amaro, o Baile Funk da Lapa perto da Joaquim Silva.

Foto de Wilmore Oliveira

A gente tá no miolo mermo, na Santo Amaro, onde tem desde uma cabeça de porco até o predião caro, tá ligado?! Nós moramos no mesmo quarteirão. A gente vai absorvendo tudo. Somos fora do padrão. O ritmo da galera do morro, da pista, dos assaltos, do crack… Isso influencia muito, não tem como escapar, nossa vivência não é leve, essa vivência da proximidade com a Lapa, que tem muito de Umbanda, tem altar do Zé Pilintra. Essa influência é muito mais que religião porque a gente nem pratica, mas a vivência influência muito.

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Foto de Ricardo Beliel

A gente ouve muito rap de Nova York, as paradas do Aori da antiga nos Inumanos, muito funk também tipo MC Galo, Cidinho, Mascote, Menor do Chapa, as músicas do Catra da antiga. Inclusive, o Catra morava no prédio que o BK mora. Se tu ouvir as produções do nosso DJ, o Jonas, tu vai ver que o trap dele tem uma influência de funk muito grande. O Bril mesmo escreve as rimas como se estivesse escrevendo funk e depois transforma em rap. Na nossa mixtape a gente tem trap, Golden Era… Tudo mantendo uma estética nossa. Muita gente ouve nosso som e quer só associar ao que rola agora de trap e não vê também nossas referências das antigas, tipo Pharcyde e tal.

Braço do CHS, do Néctar, com tatuagem da letra de "KGL". Foto de Ricardo Beliel

Em breve cada um de nós virá com disco solo, mas mantendo a unidade do Nectar Gang, que é nosso fundamento.

Casa de sucos Big Néctar, ponto de encontro e inspiração para o Néctar Gang). Foto de Ricardo Beliel

O TTK é outro nível cultural e uma parada que eu acho maneira é que a gente quer botar o bairro nas alturas. Não só os artistas, mas isso vem dos moradores, geral quer mostrar que o TTK é foda, a gente quer botar o TTK no mapa.

EL LIF

Foto de Wilmore Oliveira

El Lif , DJ do Akira Presidente e frente do novo selo Pirâmide Perdida, comenta sobre a sonoridade dessa cena e o lado empresarial:

Acho que fazer o selo da Pirâmide Perdida foi um bagulho natural. Vinha geral gravar aqui em casa sempre e tivemos a sacação de que precisávamos nos organizar e sermos competitivos no mercado de hoje.

Eu acho fundamental esse business, essa forma de encarar a música, o trabalho. Não podemos ficar presos na ideia de música só pra extravasar e tal. Aqui a galera encara diferente mesmo e acho que é por isso que estamos crescendo. Olha o Ret, o tamanho dele, é excelente pro mercado.

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Eu tinha a ideia de montar um selo há um tempo e sempre trabalhei com essa galera. Eu produzia as paradas do Sain, do Néctar, e geral comprou essa ideia do selo.

O publico do rap, os fãs, compram muito essa ideia de uma banca. Tu vê mesmo pela TuduBom. Geral curte essa ideia de banca, nisso tem vários estilos para um público diversificado.

A galera do Néctar já chamava de Pirâmide Perdida. Eles inventam gírias novas todo dia e eles curtem essa parada egípicia, essas referências, daí ficou. Tinha que ser esse nome mesmo.

Roda Cultural do KGL. Foto de Ricardo Beliel

Nossos trabalhos são recentes, lançamos aqui pela Noisey o single do Luccas Carlos "Lazul". Daqui a pouco tem o álbum do Akira Presidente todo produzido por mim, tem também a beat tape que é colaboração minha, do Sain e do Jonas do Néctar, de beats só com samples de vídeo game, depois o EP do Luccas Carlos e outros planos que mais adiante vou anunciar.

Os artistas da Pirâmide são: El Lif, Jonas, Luccas Carlos, Sain, CHS, BK, Bril e Akira Presidente. Não somos só um selo, mas somos também agenciamento, merchandising, empresariamento em geral. Já estamos caminhando para isso.

Uma das águias do Palácio observando o TTK. Foto de Ricardo Beliel

As minhas referências musicais são muito anos 90, mas no meu papel de produtor não posso negar o trap, o grime, as estéticas de agora. Eu comecei ouvindo Gabriel o Pensador, curtia muito funk também.

Hoje em dia tá rolando um processo muito legal no qual o trap e o funk tem a mesma levada. Os dois cabem certinho um no outro. Se encaixam perfeitamente como ritmo. Você vê até mesmo com os beats do Jonas do Néctar e os beats de funk já vem com BPM de trap. Eu acho que cresce o mercado do rap nacional nessa junção com o funk. Funk e trap falam o mesmo idioma."

Marcelo D2 e Beni comentam o presente e futuro dessa cena:

Marcelo D2 e Sain no Circo Voador. Foto por Ricardo Beliel

D2: Eu recentemente vi o documentário do Ice-T "Art of Rap", e lá ele diz que uma coisa é fazer rap e outra é ser o rap. Eu acho que essa molecada do Catete é muito rap. Eu fico feliz em ter mostrado pra essa galera que dá pra fazer rap do seu próprio jeito, sem precisar imitar ninguém de Los Angeles ou NY. Que pode ter a própria identidade, de falar de assuntos que não são lugares comum no rap. Essa molecada deu um salto enorme e eles tem muita informação. O TTK é fresh!

Beni se apresentando na roda cultural do KGL, na Glória, com Sain ao fundo. Foto por Ricardo Beliel

Beni: Eu vejo que o TTK é só progresso, que a parada ampliou demais no lance profissional e só vai crescer. Já tem vários grupos surgindo por aqui.

Aqui a musica é livre e temos essa liberdade de pensar contra a maré, tipo, como eu em lançar um disco como o Negros, o Ret com o Revel ou o Néctar Gang com o Seguimos na Sombra e o Sain com a lírica e produção de beats dele. Eu olho quem acreditou e tá aí hoje com uma história muito bonita.

A letra do Sain em "Tu Não" (Start Rap) sintetiza bem esse momento do TTK:

"Tamo na rua pra fazer história
Cria da Lapa, Catete e da Glória
Eu vim te explicar que a nossa vitória
Não será por acidente, os aliados ficam na memória
Um gole, um trago e nós vamo simbora
Pelos becos do Catete é sangue frio e clima quente"

Foto de Wilmore Oliveira

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