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VICE Sports

Um papo com o corintiano que quebrou arquibancada e se ofereceu para pagar

Surge um herói nacional.
O torcedor Anderson Cesário se empolgou com o grito de gol e quebrou cadeira da Arena Corinthians. Crédito: Reprodução/ Facebook

O carteiro Anderson Cesário dos Santos, de 32 anos, foi na mão oposta (mal ae, Jô) do centroavante do Corinthians, seu time de coração. Na euforia das arquibancadas da Arena Corinthians, justamente no momento do controverso tento do camisa 7 corintiano contra o Vasco, Anderson apoiou os pés no encosto e quebrou uma das cadeiras. É possível que outros episódios assim já tenham acontecido antes por lá ou em qualquer outro estádio. Talvez até neste mesmo domingo (17). Acontece que Anderson decidiu agir diferente da média.

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"Boa noite, gostaria de saber como posso ressarcir o clube! Hoje, na comemoração do gol, me empolguei além da conta e acabei quebrando uma cadeira do setor sul. Aguardando o contato de vocês", escreveu ele no Instagram do clube do coração, assim que chegou em casa. A postagem não passou batida. Dezenas de corintianos o apoiaram com mensagens agradecidas.

Anderson Cesario dos Santos procurou o clube pelo Instagram. Crédito: Reprodução

Numa semana em que as redes sociais debatiam a suposta má fé de Jô como se estivéssemos diante do grande problema nacional, a atitude impressionou. Em conversa com a Vice Sports, Anderson resumiu o imbróglio. "Na verdade, quando saiu o gol, acabei pisando no encosto da cadeira, que quebrou. Na hora, só pensei no término do jogo, mas, chegando em casa, tive a ideia de entrar em contato com o clube". Ele se ofereceu para pagar sem nem mesmo saber o quanto precisaria desembolsar. "Tenho nem ideia de quanto custa, véi", completa.

O departamento de marketing do Corinthians que não é bobo pegou carona. Decidiu que Anderson pagaria de modo diferente. "Entramos em contato com o Anderson, para agradecer pelo aviso e propor uma maneira diferente dele 'pagar' pelo ocorrido: convidamos o torcedor para ser um colaborador e ajudar a equipe de operação do estádio em um dia de jogo do Corinthians aqui na Arena", disse o clube, em nota.

Anderson aprovou a ideia. "Achei cordial. Quem errou fui eu. E em nenhum momento o clube quis me culpar", afirma Anderson. Teria sido caso pensado? Um marketing ensaiado? Ele nega. "Não. Fiz o que era certo fazer. Não imaginei que teria repercussão. Mas fiquei feliz."

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Anderson em casa com tudo do Corinthians. Crédito: Reprodução/ Facebook

Sofá não combina com o Anderson. Ele conta que neste Brasileirão só faltou a quatro partidas em Itaquera. "Frequentei a Gaviões um tempo, mas hoje assisto da [arquibancada] sul quase sempre. Tô com a Família 412." Se você, corintiano, quiser dar um salve para o Anderson, procure nas arquibancadas por uma bandeira do Paraguai. "A família 412 são amigos ali. Estou sempre com a dona Vanda, que leva a bandeira do Paraguai". O curioso é que, segundo o próprio Anderson, de paraguaia a dona Vanda não tem nada. "Ela só leva a bandeira."

Além de fanático e honesto, Anderson tem fé no ser humano praticante de esportes. Ao falar sobre o fatídico ato de Jô, que não hesitou em botar a mão na bola para tirar o zero do placar e depois negou a irregularidade, o torcedor crê na inocência do atacante. "Acho realmente que ele não entendeu que a bola pegou na mão. Acho que ele falaria se tivesse a convicção que bateu na mão", diz o torcedor, nascido e criado em Pirituba, ratificando a versão do atacante alvinegro após a partida.

Daí você deve se perguntar: o que o Anderson faria se estivesse ali embaixo dos paus cruzmaltinos, torcida ansiosa e babando para vencer mais uma no Brasileirão?

"Cara, temos que tentar ser o mais correto possível", diz. "Tem o lance da emoção, mas o correto é falar a verdade". Nem num clássico Corinthians x São Paulo? "Não."

Funcionário há 12 anos dos Correios, Anderson está afastado, por ora, das entregas de cartas. "Passei por alguns setores da empresa, como entrega de encomendas, do Programa Leve Leite e pelo apoio da Unidade dos Correios do Jaraguá. Às vezes, entrego encomendas, faço o apoio interno. Fazemos de tudo um pouco, né?".

O Anderson faz de tudo nos Correios e pelo Corinthians. E mereceu os 15 minutos de fama mais honestos do futebol brasileiro.