Beyoncé é a maior artista do mundo
Foto por Larry Busacca

FYI.

This story is over 5 years old.

Beyoncé é a maior artista do mundo

Seu histórico show no Coachella nesse fim de semana demorou anos para ser produzido, incluiu uma reunião do Destiny's Child e provou mais uma vez que no mundo não há ninguém como Beyoncé.

Matéria originalmente publicada no Noisey US.

Onde você estava quando Beyoncé tocou no Coachella 2018? Talvez você tenha acampado o dia todo na grade do palco, e começado a questionar sua decisão, apenas para ser tocado pela sua sombra enquanto ela desfila na passarela ao som de “Partition”. Talvez você estivesse assistindo a transmissão ao vivo em sua sala. gritando na tela e segurando o ombro do seu amigo enquanto a silhueta do Destiny's Child sobe ao palco. Ou talvez você estivesse descalça na terra, separada da sua tripulação, marchando penosamente contra um mar de 100 mil pessoas totalmente vidradas numa aparição de Beyoncé. Foi mais ou menos assim que me senti no último sábado (14) vendo talvez o show mais esperado da história do Coachella.

Publicidade

Descalça, sozinha, e sem sinal de celular não é como eu planejava assistir Beyoncé. Eu, como qualquer bom discípulo, passara o dia me preparando para esse momento — cochilando, me hidratando, coordenando casacos de pele com minhas amigas e fazendo profundos alongamentos enquanto ouvia Lemonade no repeat.

Na hora anterior, estávamos totalmente em formação, bebendo cervejas e debatendo casualmente os méritos artísticos do Haim enquanto ocupavámos nosso lugar na cervejaria principal. Então, naturalmente, tudo desmorona. O transbordamento do feed do Instagram senciente que é a seção VIP rapidamente nos domina. Nós temos que sair daqui. Eu viro uma esquina e as alças da minha sandália se liberam da sola. Não tenho outra opção a não ser tirar os sapatos e, quando me levanto de novo, o time está quebrado, em algum lugar à deriva na corrente. Em questão de minutos, eu vou de Sasha Fierce para That Messy Girl no Coachella.

Então a Beyoncé sobe no palco. É um momento que esteve dois anos em construção. Ela desce de cima de uma pirâmide amarelo-limão de latão, coroa sobre o cabelo perpetuamente varrido pelo vento que brilha naturalmente em sua presença. Atrás dela flui uma capa de lantejoulas bordada com Nefertiti, A Grande Esposa Real, rainha egípcia conhecida por uma revolução religiosa na qual eles adoram um deus e um só deus: o sol. Tem dezenas de pessoas no palco. Dançarinos, cantores, músicos, e pelas próximas duas horas, eles vão tocar o que é sem dúvida o maior show do Coachella de todos os tempos.

Publicidade

Os metais de "Crazy in Love" anunciam a chegada da rainha enquanto assisto em pé na parte de trás da multidão que cobre cada pedaço de espaço no meu campo de visão. É quando percebo que não importa onde você está ou com quem você está. Mesmo que você não esteja no palco principal, mesmo que não esteja no Coachella, você está no show da Beyoncé.

Esse show realmente começou anos atrás, nascido das interrupções não planejadas da vida, quando Beyoncé adiou seu set por estar grávida. Qualquer outra mulher e mulher negra, especialmente, enfrentando uma oportunidade definidora de carreira seria demitida. Ela ficaria de fora. Ela seria substituída. Mas Beyoncé nos fez esperar por ela, e com o luxo de mais um ano para planejar, ela sabia exatamente que tipo de oportunidade ela tinha.

"Eu engravidei, graças a Deus", disse ela no final do set. "Então eu tive tempo para sonhar com esse show."

O que ela sonhou foi assunto pra muita discussão e boato nos dias que antecederam o set. Me disseram que ela contratou 100 dançarinas extras, restringiu os cobiçados escalões do Guest Viewing para seus convidados, e passou a semana antes levitando acima do Merv Griffin Estate enquanto dirigia os toques finais do show com a força telecinética de seu terceiro olho. A maior parte disso era verdade.

Beyoncé chega de forma bombástica, mudando da capa pra um short jeans, um capuz amarelo com lantejoulas, botas de pele e todo o aquele cabelo, não perdendo tempo pra mergulhar em destaques do Lemonade e Beyoncé. Eu mesma estou sentada no chão, consertando meu sapato do lado de um cara que depois descobri que deu a Bey e Jay uma visita privada ao recinto do festival. É o mais próximo que eu estive de Beyoncé a noite toda. “Formation” começa à distância. Estou de pé e correndo.

Publicidade

Foto do Kevin Winter

Beyoncé está, felizmente, tomando seu tempo. Ao contrário de suas últimas turnês, ela pula graciosamente em medleys de 30 segundos condensados ao invés de ceder faixas completas, salpicando acenos para Kendrick, Sister Nancy, J Balvin, Juvenile e Nina Simone. Ela serve versões levemente chopped-and-screwed de bangers como "Formation", "Diva" e "Baby Boy", tudo galvanizado por uma frota de dançarinos em malhas cor de limão, sua pélvis falando tudo o que há pra ser dito. Bey nos penetra com seu olhar, pula em um guindaste e paira sobre a multidão, em seguida, fica completamente dominatrix em um maiô de vinil preto. As mulheres ao meu lado babam. Eu penso em mais cedo, quando alguns amigos homens meus mencionaram que eles não entendiam o hype na Beyoncé. "Talvez seja o que o rap faz por nós", diz um deles, e acho que há alguma verdade nisso. Beyoncé faz pelo feminino o que o rap faz pelo masculino: instila autoconfiança, solidariedade e arrogância para todos que historicamente negaram essas coisas.

Chimamanda Ngozi Adichie ecoa nas caixas de som:

Women are told to make themselves smaller.
We say to girls you can have ambition but not too much.
You should aim to be successful but not too successful, otherwise you will threaten the man.

Nas próximas duas horas, Beyoncé nos leva para Nova Orleans (“Crazy in Love”), para os EUA (“Lift Every Voice and Sing”), para a ópera (“I Care”), para o ensino médio (“Soldier”) , para as profundezas do coração partido ("Me, Myself, and I"), para o topo das paradas ("Single Ladies"). É um momento cultural, um espetáculo que parece tão significativo para ela quanto para nós. Ela nos agradece por deixá-la ser a primeira mulher negra a ser headline do Coachella. Ela agradece a todas as mulheres que abriram as portas para que ela possa estar aqui. Ela mantém estritamente um show de família, os únicos convidados sendo seu marido, sua irmã e as mulheres que co-criaram sua ascensão, Kelly Rowland e Michelle Williams. É um lembrete de que a música nunca foi sobre tendências ou gênero, mas de onde você é e o que você experimentou.

Publicidade

No êxtase das horas após o show, eu encontro alguns outros com críticas à Queen Bey. Me disseram que ela é muito bombástica, muito exagerada; eu penso sobre os membros da multidão indo embora enquanto a linha de bateria continuava tocando com fogos de artifício saindo do palco, um aplauso de golfe educado comparado ao que tinha acontecido embaixo deles. Foi demais para algumas pessoas; muito extra. E isso, como todos os detalhes do programa, era o ponto: você não tem outra opção a não ser ouvi-la.

Meu amigo anti-bombástico me diz que ele prefere sutileza. Mas a Beyoncé também nos dá sutileza — a maneira como ela move seus dedos junto da batida em "Partition", a queda das dançarinas durante o cover de "Strange Fruit", da Nina Simone.

Beyoncé também é chamada de perfeita demais, marketeira, um produto polido perpetuamente assinaladas pela condescendência implícita do termo "estrela pop". "Parecia muito que estavam me vendendo alguma coisa", alguém no meu acampamento disse esta manhã.

Há verdade nas críticas ao feminismo capitalista de Beyoncé. Mas a verdade mais difícil é que a reinicialização cultural que ela defende só pode acontecer se for comercializada com esse brilho, arrogância e escala. Beyoncé é uma bobina de Tesla para qualquer pessoa diferente (exceto o pobre Eminem, que neste momento provavelmente está puto vagando por Palm Desert). Isso não é o Coachella, essa é a amplificação de uma voz para aqueles que não podem ouvi-la — as crianças assistem a produção polida online porque estão muito falidas para ir ao Coachella, os fãs da pequena cidade cuja maior exposição aos ideais alternativos é a Urban Outfitters, para aqueles que só podem ver uma pessoa que parece remotamente com eles alcançar algo sintonizando no maior festival de música do mundo. Parecia e parecia uma premiação — uma para o resto de nós. Foi a maior noite da música.

Siga Andrea Domanick no Twitter.

Leia mais no Noisey, o canal de música da VICE.
Siga o Noisey no Facebook e Twitter.
Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.