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Polícia dos EUA acusa grupo cristão de abusar e estuprar crianças

Líderes do Agressive Christianity Missions Training Corps são acusados por centenas de crimes, inclusive a morte de uma criança.
Em sentindo horário: Peter Green, Staci Miller, Deborah Green e Joshua Green.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US .

No último domingo (20), a polícia norte-americana predeu ex e atuais membros de um grupo cristão no Novo México por várias acusações. Segundo um relatório divulgado na segunda-feira (21) pela afiliada da ABC KAOT-7 Action News, um membro recebeu 100 acusações por penetração sexual de uma garota que teria sido contrabandeada de Uganda. O mandado usado para fazer a prisão, a que a VICE teve acesso, afirma que o grupo escondeu certidões de nascimento de várias crianças e provocou a morte de pelo menos um garoto, cujo corpo foi enterrado na propriedade particular do grupo.

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O Agressive Christianity Missions Training Corps (ACMTC) de Fence Lake é uma organização isolada, militar e religiosa. Em 1981, Deborah e James Green formaram o grupo em Sacramento, Califórnia. Eles já tinham sido acusados anteriormente de usar táticas de seita, ao controlar as finanças e limitar o contato dos membros com o mundo exterior, tendo supostamente isolado pessoas sem lhes oferecer alimentação, água e higiene apropriadas. Desde a concepção do ACMTC, a comuna foi listada pelo Southern Poverty Law Center como um grupo de ódio.

A investigação que levou às prisões no domingo começou ano passado, quando dois membros do grupo disseram ter escapado do isolamento — e contaram ao Gabinete do Xerife de Cibola County horrores quase impronunciáveis.

O mandado diz que a "general" Deborah Green não permitiu que um garoto com um caso severo de gripe fosse levado ao hospital em 2014. Segundo uma testemunha, depois de três semanas doente, a cabeça do garoto de 12 anos começou a se deformar e pus começou a vazar pela testa. O garoto teria perdido a capacidade de falar e mover o lado direito do corpo.

Green é descrita no mandado como uma pessoa que não acredita na medicina moderna — uma acusação que ela refutou no gabinete do xerife. Ainda assim, a polícia confirmou que Green dizia que membros doentes estavam "em pecado e deveriam se arrepender para serem curados". Quando o garoto com a forte gripe morreu, segundo o mandado, ele teria sido enterrado na propriedade do ACMTC. As autoridades não foram avisadas.

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A mãe do garoto, Staci Miller, também foi presa por abuso infantil no domingo. Segundo uma declaração divulgada pelo grupo, ela não é mais membro da ACMTC. De acordo com o mandado, Miller explicou aos investigadores que não tinha levado o filho para o hospital porque "queria confiar em Deus".

Outros abusos teriam sido cometidos contra uma garota, que os investigadores acreditam ter sido trazida ilegalmente para os EUA de Uganda no final dos anos 90. Ela teria sido trazida ao país quando bebê com documentos falsos. Segundo o mandado, a garota disse que enquanto estava com o grupo foi chicoteada, passou fome (o que a levou a desenvolver raquitismo), e basicamente era tratada como escrava. A garota também disse que foi atacada sexualmente várias vezes por Deborah Green e o cunhado dela, Peter, tudo antes dos 10 anos de idade. De sua parte, Peter Green recebeu 100 acusações de penetração criminal de menor.

O filho de Deborah, Joshua, também foi preso no domingo entre acusações de que não registrou o nascimento do filho no estado. Mas o ACMTC está sendo acusado de esconder várias crianças do governo, todas nascidas na propriedade, possivelmente para evitar ter que lidar com a polícia e a assistência social. Segundo relatos de ex-membros do grupo, descritos no mandado, um alarme soava sempre que os policiais chegavam à propriedade, então as crianças precisavam se esconder na floresta ou num barracão distante. O xerife de Cibola County disse a KOAT 7 Action News que 18 crianças ainda estão vivendo com o grupo.

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Os membros do grupo responderam às prisões dizendo-se inocentes. Segundo a declaração no site do grupo: "As acusações são mentiras antigas que já foram investigadas e se mostraram ataques maliciosos contra um ministro legítimo… Nunca foi política do ACMTC impedir cuidado médico e que qualquer um procurasse o hospital. Na verdade, muitas pessoas receberam tratamento médico nos últimos anos".

"Deus ordenou guerra. A guerra é de Deus… Deus é um Deus militar". — Deborah Green

A ex-membro do ACMTC Maura Alana Schmierer diz o contrário. Num documentário de 2012 da National Geographic chamado Escapei de uma Seita, Schmierer disse que Deborah Green não permitia que ela levasse os filhos doentes ao hospital. Ela também disse que foi obrigada a morar numa cabana com pouca comida e sem banheiro pelo "adultério espiritual" de "idolatrar" os filhos acima de Deus.

Schmierer explicou no documentário que se juntou ao grupo em Sacramento, Califórnia, em 1982, quando ele era conhecido como Free Love Ministries, uma das muitas comunas cristãs fundadas na era pós-hippie. Mas em vez de barbas e calças boca de sino, a seita abraçava uma estética militar, usando uniformes cáqui e referindo-se uns aos outros por escalão. Como muitos grupos fundamentalistas cristãos, segundo o relato de Schmierer, eles acreditavam em "guerra espiritual", a ideia de que anjos e demônios estão em luta constante pelas nossas almas.

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"Deus ordenou guerra", diz Deborah Green (então chamada Lila) num vídeo dos anos 80 mostrado no documentário. "A guerra é de Deus… Deus é um Deus militar".

Escapei de uma Seita também afirma que os seguidores do grupo tinham que passar por regimes extremos de jejum, trabalhos forçados e técnicas de controle de mente pensadas para despir os membros de seu senso de identidade.

Schmierer conseguiu deixar o Free Love Ministries e processou o grupo em 1989, recebendo US$1,08 milhão. Isso levou membros a perderem suas casas e se mudarem várias vezes, antes de o grupo chegar ao Novo México no meio dos anos 90 e passar por um rebranding como Aggressive Christianity Missions Training Corps.

Um representante do ACMTC disse à VICE que o grupo atualmente não está disponível para entrevistas. O site contém uma extensa biblioteca de ensaios escritos pelos líderes da igreja sobre imoralidade sexual, retórica anti-Islã, visões enviadas por Deus e links para grupos como o anticomunista John Birch Society.

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