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Revisitando o clássico cult 'SLC Punk!' 20 anos depois

O filme sobre a cena punk de Salt Like City com Matthew Lillard continua punk pra caralho.
Revisitando o clássico cult 'SLC Punk!' 20 anos depois

Não gostei de SLC Punk! a primeira vez que assisti.

Mas, sendo justo, eu não gostava de muita coisa em 1999 mesmo. Eu tinha 15 anos, tinha entrado no ensino médio e recentemente decidido que queria curtir música punk — o amálgama perfeito de petulância adolescente. Eu morava em Park City, Utah, provavelmente a cidade mais afluente do estado, que fica a apenas 32 quilômetros de Salt Lake City, e o lar do Festival de Cinema Sundance. Definitivamente o tipo de lugar onde você podia decidir do nada “curtir punk", como se fosse um novo tipo de tênis ou revista de lifestyle.

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É fácil comprar a ideia do punk num ambiente assim, e eu mergulhei de cabeça. Lembro de passar o primeiro ano do colegial com os fones de ouvido colados na cabeça, sentindo as vibrações de qualquer lançamento da Epitaph ou Fat Wreck Chords que estivesse rodando no meu Discman (muito triste que a molecada de hoje nunca vai entender a beleza daquelas proteções antichoque). Eu desenhava o A de anarquia no meu fichário. Citei Bad Religion num trabalho de inglês. Comprei uma bandeira do Che Guevara! Eu era muito punk.

Então, quando finalmente assisti SLC Punk!, só me senti desapontado. O filme parecia especificamente (e estranhamente) voltado pra o meu novo estilo de vida: Eu era um punk! Eu morava em Salt Lake City (bom, perto de SLC). E, bom, é isso. Mas naquela idade, o potencial de se sentir visto assim era uma experiência profunda.

Mas o filme não me pareceu certo. Eu não conseguia ver além do brilho do final dos anos 90, que parecia muito punk através de Buffy: A Caça-Vampiros. Não curti a atuação maníaca do Matthew Lillard, nem gostei do fato que o filme estreou (em 22 de janeiro de 1999) no Sundance — talvez a coisa menos punk que existe (mas vi John Lydon vaiar o documentário do Sex Pistols O Lixo e a Fúria na estreia no Sundance em 2000, e foi punk pacas).

No final das contas, eu não me vi em SLC Punk!, e foi isso que mais doeu.

Mas o tempo tem um jeito engraçado de tornar as coisas do passado mais punks, e agora, 20 anos depois do lançamento, acho SLC Punk! sensacional.

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Em teoria, o punk é uma questão de progresso, seguir em frente, e radicalismo, mas qualquer um que já esteve envolvido na cena punk sabe que ela se baseia em olhar pra trás: o que a garotada escuta hoje não é punk, as bandas nunca vão ser tão boas como no primeiro disco, e assim por diante. Eu curtia eles antes de ser moda não é um sinal de façanha musical, mas um rito de acasalamento para uma cena de pessoas tentando se agarrar aos velhos tempos.

E por isso que ver agora um filme de 20 anos atrás — passado em 1985 — é como um sonho crust punk ressecado. SLC Punk! é basicamente uma dose dupla de nostalgia.

Angela Brown, que nos últimos 18 anos trabalha como editora-executiva da SLUG Magazine, a publicação mais punk de Utah, lembra de assistir a estreia do filme no Sundance num telão improvisado no ginásio da Park City High School.

“A exibição estava lotada”, diz Brown. “O público adorou. O pessoal aplaudiu de pé.”

Agradar o público de um festival de cinema é uma coisa, mas Brown lembra da raiva entre o pessoal que era parte da cena que SLC Punk! devia retratar — que, honestamente, era tão pequena nos anos 80 que cada personagem na tela deve ser um dublê de alguém do círculo pessoal do diretor, James Merendino.

“O pessoal old school, muitos deles ficaram putos”, diz Brown. “Eles acharam que [os envolvidos] entenderam tudo errado. Era a infância deles, mas um retrato ficcional dela.”

“Acho que às vezes as pessoas de Salt Lake acham difícil apoiar um sucesso”, continua Brown. “Eu pensei Vocês pegaram nossa história punk e a venderam.”

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SLC Punk

Cortesia Sony Pictures

“Deixando isso de lado, é um filme muito legal e divertido”, diz Brown. “Ele retrata como muitas pessoas saíram da cena e se tornaram adultos. É fácil no final da adolescência e começo dos 20 anos ser tipo 'Foda-se a autoridade!', e tudo que você consegue é essa modinha punk. Você tem que encontrar seu equilíbrio, certo?”

“O filme é totalmente ficção e tem pouco a ver com como as coisas eram”, me disse Aldine Strychnine pelo Messenger. Strychnine cantava na lendária banda punk de Utah Maimed for Life nos anos 80, e diz que Heroin Bob de SLC Punk! foi baseado no seu colega de banda de mesmo nome. “No filme, Heroin Bob é straight edge… mas te garanto, chamavam ele assim por uma boa razão!”

Apesar dos punks old school terem descartado o filme no lançamento, SLC Punk! envelheceu muito bem. Assistindo agora como adulto, é fácil ver que a experiência do filme é maravilhosamente estranha e bizarra. É um filme cheio de gente quebrando a quarta parede, com estranhos desvios narrativos, non-sequiturs e cenas clássicas (dirigir até Wyoming para comprar cerveja ainda é uma realidade para os garotos de Salt Lake City). Os personagens são apresentados (literalmente, por Matthew Lillard falando com o espectador) por cenas inteiras e depois não aparecem mais. A estrutura em episódios parece mais na linha de outros clássicos cult subversivos da diretora Penelope Spheeris (Quanto Mais Idiota Melhor e Suburbia), do que com os filmes isca de Hollywood que geralmente emergem do Sundance. Caramba, até curto a atuação do Matthew Lillard como Stevo agora, mesmo ainda achando esquisitíssima aquela cena em que ele chora no final, só porque é muito intensa e diferente demais no tom do resto do filme.

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E para quem cresceu em Utah e mudou de estado, o filme ainda te acompanha como um cachorro benevolente. “Você assistiu SLC Punk!”, era a segunda pergunta mais frequente que as pessoas me faziam quando fui para faculdade na Califórnia (a primeira sempre é “Você é mórmon?”) Para um estado conhecido por muita merda, SLC Punk! se tornou um patche de orgulho.

“Éramos jovens e um pouco ingênuos”, diz Strychnine. “A gente achava que ia mudar o mundo. Acontece que, no final das contas, acho que a gente mudou nossa parte nele até certo ponto.”

“Acho que as pessoas têm um jeito diferente de ver sua própria rebeldia”, diz Brown. “Na época, é algo mais sério. As pessoas se levam mais a sério… Mas agora você pode andar na rua de cabelo roxo e ninguém nem pisca. Adoro que a cultura alternativa tenha se aberto assim. Todo mundo aceita e é tolerante. Honestamente, era por isso que estávamos lutando.”

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Matéria originalmente publicada na VICE US.

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