Uma história oral de 'Jackass: O Filme'

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Uma história oral de 'Jackass: O Filme'

Para comemorar os 15 anos de um dos filmes mais lendários já feitos, falamos com todos os envolvidos.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK .

Se você é um certo tipo de pessoa de uma certa idade, provavelmente não existe frase mais evocativa da sua juventude que: "Oi, sou Johnny Knoxville. Bem-vindo ao Jackass!"

O programa foi um sucesso, inspirando a molecada ao redor do mundo a bater em muros com a bicicleta e colocar fogo nos próprios peidos. Mas depois de alguns incidentes, quando teve gente tentando copiar a série e acabou seriamente ferido, um senador norte-americano em campanha decidiu declarar guerra ao Jackass, levando a MTV a impor regras de segurança severas para o programa. Como resultado, o elenco não podia mais fazer o que queria como queria, e os envolvidos acabaram desistindo da série.

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Um longa — no qual advogados não seriam um problema tão grande — surgiu como resposta.

O filme de 2002, assim como o programa, foi um sucesso inacreditável, fazendo quase US$75 milhões nas bilheterias com um orçamento de US$5 milhões, e tendo fôlego pra duas sequências, uma feita em 2006 e outra em 2010, além do programa Wildboyz de 2003, com Chris Pontius e Steve-O. Desde o começo, Jackass inspirou vários programas parecidos e, mais tarde, canais de pegadinha no YouTube. Mas nenhum dos imitadores — mesmo pegando pesado nos fatores de nojo e dor — conseguiu capturar o charme que tornou a série tão popular.

Jackass, nascido da cultura do skate dos anos 90 e 2000, era autêntico, até fofo e muito autodepreciativo. É normal para um programa de pegadinhas forçar a barra e bancar o durão, mas Jackass nunca fez isso. Não era uma questão de parecer foda ou machucar outros; era sobre diversão e amizade, e eles não tinham medo dos fracassos do programa ou das fraquezas do elenco. Os imitadores não sacaram isso e foram direto pro soco no estômago, e talvez por isso não tiveram a longevidade ou o impacto que Jackass conseguiu ter.

Depois da morte trágica de Ryan Dunn em 2011, a nostalgia envolvendo Jackass tomou uma forma ligeiramente diferente. Os filmes e episódios capturam um tempo que não volta mais. Uma época antes da internet dominar nossas vidas, quando tínhamos que sair de casa e arranjar confusão para nos divertir.

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Lá se vão 15 anos do lançamento de Jackass: O Filme, e por isso resolvemos comemorar a contribuição da equipe deles para a cultura popular e nossas infâncias, então falamos com Jeff Tremaine, Johnny Knoxville, Spike Jonze, Steve-O, Chris Pontius, Bam Margera, Wee Man, Dave England, Ehren McGhehey e a mãe do Bam, April Margera, sobre como o filme foi criado.

Todas as fotos por Sean Cliver e Benzo.

CANCELANDO A SÉRIE

SPIKE JONZE: Quando a série surgiu, ninguém esperava que fosse durar mais que os primeiros oito episódios que a MTV nos pagou par fazer. Achamos que a gente ia se safar dessa, ter alguém pagando pra fazermos qualquer maluquice que desse na telha na TV por meia hora, e em rede nacional.
WEE MAN: Achei seriamente que eles só iriam transmitir um ou dois episódios, aí a rede iria cortar o programa. Mas a coisa explodiu, cara. A gente nem conseguia gravar os episódios tão rápido quanto as pessoas queriam assistir. Quando estreou, a série passava domingo à noite, e as pessoas diziam " Jackass está destruindo os EUA. Um domingo de cada vez!"
STEVE-O: O programa ficou imensamente popular, e a garotada começou a aparecer nos hospitais. Teve muitos incidentes de gente tentando nos imitar. Foi uma loucura. Não fomos realmente processados na época, mas havia muito medo no mundo corporativo da MTV, legalmente falando, de que eles fossem responsabilizados.
JOHNNY KNOXVILLE: Era ano de eleição, e Joseph Lieberman – o senador – decidiu pegar pesado com Hollywood como parte de sua plataforma de campanha. Ele foi direto contra a série e a MTV, e depois disso a coisa respingou em nós. Tínhamos um cara de segurança designado para a nossa turnê – a gente não podia pular de nada mais alto que 1,5 metro – então a coisa ficou ridícula. A gente não podia mais fazer a coisa do jeito que queria.
CHRIS PONTIUS: Se estávamos filmando e tínhamos que sair da calçada e não desse para ver que a rua estava fechada, eles não nos deixavam usar a tomada. Então parecia que a gente tinha amarelado.
DAVE ENGLAND: Não estou exagerando: depois de cada filmagem a gente recebia uma lista com pelo menos 15 coisas que os advogados diziam "Vocês não podem mais fazer isso, isso e isso".
BAM MARGERA: Uma coisa muito engraçada é que apesar das restrições da MTV, de tudo que a gente não podia fazer, nos safamos com o seguinte: quebrei meu cóccix numa brincadeira com um carrinho de mão, eles tiraram o raio-X e dá pra ver perfeitamente o perfil do meu pinto. Meu pau ali, na TV. Eles não deixavam nada passar, mas mostraram o raio-X do meu pinto em rede nacional.
JEFF TREMAINE: Foi o que matou a série, basicamente – pelo menos o espírito dela, e a diversão – então desistimos do programa no auge, depois de terminar de filmar a terceira temporada.
SPIKE JONZE: A MTV ficou chocada. A gente tinha uma coisa no contrato que dizia que podíamos cancelar a série em qualquer ponto, e acho que eles não lembravam disso, tipo "Vamos cancelar o programa". E eles disseram "QUÊ?" Acho que poucos programas têm isso, onde os produtores podem cancelar seu programa – mas a gente tinha.
JOHNNY KNOXVILLE: A situação ficou tão ridícula que não podíamos mas fazer o que a gente queria. Jackass significava muito para mim e para os outros caras, então a gente não queria diluir as coisas e ter uma versão besta e infantil do programa, então cancelamos.

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E AGORA?

JEFF TREMAINE: Naquele momento, o Spike disse: "E se transformarmos a série num filme?" e a gente disse "Sabe de uma coisa? Acho que o programa acabou mesmo de forma prematura". Queríamos partir nos despedindo direito, e fazer o filme nos deu mais liberdade, porque, primeiro: seria um filme de censura 18 anos para um público maduro, então podíamos fazer mais sem ter que pensar em crianças sendo influenciadas por ele. Além disso: um orçamento maior para fazer merdas ainda mais loucas.
STEVE-O: Pensando agora, faz todo sentido; já tinha precedentes com o filme do Beavis e Butthead, e acho que já tinha saído o filme do South Park. Não que eu esteja nos comparando com animações, estou falando de pegar uma coisa irreverente de meia hora da TV e fazer um filme… isso parece contraintuitivo. Havia precedentes, mas nunca pensei nisso indo além de vídeos de skate.
JOHNNY KNOXVILLE: Era como se ainda estivéssemos aprendendo a tocar nossos instrumentos e de repente tínhamos que fazer um show, e tínhamos X grana para fazer! Bom, graças a deus o Spike estava nessa, porque ele podia nos dar as dicas. Quer dizer, graças a deus pelo Spike, ponto. [Antes de começar o programa] fizemos umas filmagens de dez minutos para mandar para produtores com vídeos do Big Brother e CKY, e realmente era muito diferente de tudo que havia por aí. A ideia provavelmente era um pouco louca para a maioria do pessoal, mas como o Spike Jonze estava envolvido, eles pensaram "Esses caras sabem o que estão fazendo!" Mas não sabíamos tanto assim.
STEVE-O: Mesmo com as ideias sendo novas e incríveis, a gente não tinha a menor noção do que estava fazendo. A gente nem sabia o que era um formulário de lançamento, sabe? Quando começamos a filmar, fomos descobrindo o que tínhamos que fazer. Tínhamos claquetes e um cara de som pela primeira vez, mas ainda éramos novatos. Era muito estranho falar com a câmera.
SPIKE JONZE: Acho que o primeiro filme foi quando realmente definimos os caras principais. O programa – especialmente a primeira temporada – era como um time de futebol de rua. A gente filmava com quem estivesse ali na hora. A gente escrevia o roteiro com alguém em mente, mas tivemos que decidir quem seria parte do elenco agora, e isso determinava quem ia aparecer e fazer o show. E também as pessoas com quem todo mundo queria andar e viajar. Era parecido com uma equipe de skate de certa maneira.
STEVE-O: Jackass pra nós era uma grande batalha por tempo na tela. Nunca tinha um cara numa posição de status. Eles nos listavam numa certa ordem, mas fora isso, a única coisa determinando tempo na tela era ter uma boa filmagem. Simples assim. Dando crédito a Spike Jonze, Knoxville e Tremaine aqui, nunca ouve uma coisa de ego. Eles nunca mostraram um cara mais que os outros. O único critério era a qualidade da filmagem. E por qualidade quero dizer quem fazia a maior merda.
JEFF TREMAINE: Quando fechamos o contrato com a Paramount e a MTV Films para fazer o filme, uma mulher chamada Sharry Lansing estava no comando da Paramount. Quando começamos a filmar, ela veio nos encontrar, me puxou de lado e disse "Só façam coisas maiores e mais loucas do que faziam na TV". Foi tão legal ter essa aprovação da chefe do estúdio, que sacava o que a gente queria fazer.

Todas as fotos por Sean Cliver e Benzo.

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FAZENDO O FILME

STEVE-O: Eu estava tão pronto para qualquer coisa que nem importava o que fosse. Lembro da primeira conversa que tivemos com o Tremaine. Acho que foi no escritório do filme, provavelmente no meu primeiro dia lá, e ele disse "Isso não é mais um programa de TV. Esse é um filme e a censura é 18 anos, então tudo precisa ser maior e mais insano. Não me venham com ideias meia-boca!" Fiquei indignado. Fiquei ofendido com a ideia de que não podia dar uma ideia meia-boca. Eu disse "Ah é? E seu eu me tatuasse em mim mesmo maior que eu mesmo?" Essa foi minha primeira ideia.
JEFF TREMAINE: Na nossa primeira viagem, fomos para Portland. Havia uma energia diferente lá. Uma coisa elétrica. Os caras estavam ficando competitivos entre si.
DAVE ENGLAND: Senti como se fosse uma liberdade recém-descoberta. Estávamos tão confinados pelos advogados no programa, nos dizendo que não podíamos fazer isso e isso, e de repente todas as portas estavam abertas de novo. Novamente valia tudo, que é quando você faz o seu melhor. Quando você não tem amarras.
EHREN MCGHEHEY: Ir de filmar o programa – que era basicamente correr por aí com uma câmera pequena sem um médico no estúdio – para o filme, era como se tivessem cuidado de tudo pra gente. Éramos primeira classe agora, o que era incrível. Mas com a primeira classe vem muito mais responsabilidade, então tínhamos que aumentar as apostas e fazer coisas muito mais malucas.
JOHNNY KNOXVILLE: Acho que a sensação do espectador é meio querer estar ali com a gente. Mas acredite em mim, você não quer! Era um set muito tenso. Começou com todo mundo cheio de energia, mas no último mês as pessoas estavam chorando e desmoronando mental e emocionalmente. Você cutucava alguém no ombro com o dedo e a pessoa pulava. Era um set muito combativo.
EHREN MCGHEHEY: Minha mente estava praticamente num estado de transtorno de stress pós-traumático há muito tempo, porque toda vez que virava num corredor, eu não sabia se teria uma mão gigante acertando a minha cara. Era como um pelotão. A gente tirava umas folgas de duas semanas em casa, mas o tempo todo eu ficava ansioso pensado que só faltavam duas semanas para voltar a fazer alguma coisa que podia literalmente me matar.

Todas as fotos por Sean Cliver e Benzo.

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AS BRINCADEIRAS

JOHNNY KNOXVILLE: Adoro as coisas pequenas, tipo quando a mãe do Bam finalmente fala "fuck". Às vezes as coisas mais simples são as mais engraçadas.
APRIL MARGERA: Meu deus. Foi a maior loucura, porque eu sabia que eles estava filmando na Pensilvânia, então ligue pro meu marido no caminho de casa e disse "Tem alguém aí? Posso simplesmente ir para a cama?" E ele disse que não tinha ninguém em casa. Aí cheguei lá, todas as luzes estavam acesas e vi aquele crocodilo no meio da cozinha, e a primeira coisa que pensei foi "Meu deus, eles finalmente conseguiram fazer um filme com a Paramount, eles têm um orçamento grande, e é isso que eles compram? Um crocodilo falso? Quanto custou essa coisa! Deve ter custado uma fortuna então? Eu tenho que ter medo disso?" E lembro de gritar "É de verdade?" O Jeff me disse que repeti isso umas 56 vezes. Eu ia tocar o bicho, mas me tranquei na lavanderia e só queria que eles me dissessem se era de verdade ou não, e quando disseram que era, só lembro de entrar em pânico.
SPIKE JONZE: Os pais do Bam são muito legais. Toda vez que filmamos lá, eles nunca mandaram a gente parar. Acho que eles estavam acostumados porque o Bam faz essas merdas desde que era moleque. Mas sempre que a gente ia lá, a April cozinhava, deixava a gente filmar no quintal, ficar na sala vendo TV. Ela com certeza é a mãe de todo mundo.
APRIL MARGERA: Acho que sempre fiz isso, mesmo com os amigos do meu filho. O Bam ligava e dizia "Estou indo pra casa, o que tem pra jantar?" e eu tentavam aumentar as porções para alimentar todos os amigos. Sempre fiz isso, e quando os caras do Jackass vieram para a cidade, só continuei fazendo. Não achei que era algo importante.
WEE MAN: Eu estava num bar outro dia e o filme estava passando na TV deles; foi a coisa mais engraçada. Eles não sabiam que a gente ia pra lá, mas para mim, entrar num lugar e nos ver na TV ainda é uma viagem. Uma das minhas partes favoritas é quando o Dunn apanha da menina do kickboxing. Ele coloca as luvas e tudo mais e ela simplesmente arrebenta ele. E ele sabe… ele diz tipo: "Cara, estou prestes a apanhar de uma garota". Acho que ela nem precisou se aquecer. Ele era só um saco de pancada pra ela.
JOHNNY KNOXVILLE: Quando o Ryan Dunn faz o negócio do raio-X do carrinho [onde Dunn enfiou um carrinho de brinquedo no ânus] é minha parte favorita do filme.
JEFF TREMAINE: É minha parte favorita de todas. A ideia já vinha pairando desde o programa. Acho que o Spike teve a ideia de enfiar um celular, mas eles eram muito grandes na época. E não estávamos falando do Ryan; acho que todo mundo sempre achou que seria uma parte do Steve-O, mas quando o Ryan decidiu fazer, tudo se encaixou perfeitamente e foi mágico.

Todas as fotos por Sean Cliver e Benzo.

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SPIKE JONZE: Uma coisa engraçada: quando as filmagens chegam e você começa a montar o filme, a pensar qual será a cena de abertura e qual a de encerramento, é igual um vídeo de skate. Quando o Jeff voltou da Flórida com a parte do Ryan com o carrinho, ele disse "Temos a nossa cena final". Sentamos a assistimos a edição, e todo mundo disse "Sim! É isso!" E foi um alívio. Até hoje essa é uma cena que posso assistir, só porque o Ryan está muito bem nela. Ela captura como ele era um cara doce. Ele está tão engraçado e seco na cena, é incrível. Muito bizarro, engraçado e autodepreciativo. Tudo que ele fez foi dar esse olhar abatido para a câmera. É engraçado, no começo achamos que o final tinha que ser essa coisa enorme, e até filmamos um final com uma coisa grande, mas que não funcionou tão bem. Não era tão engraçado. Percebemos que o final tinha que ser a melhor parte, e essa parte era o Ryan com um carrinho de brinquedo enfiado na bunda.

JEFF TREMAINE: No primeiro filme lembro que eu dirigia a van da produção. Geralmente a gente tinha um assistente de produção ou um motorista, mas naquele dia eu estava dirigindo. Um cameraman estava filmando o Ryan e ele estava apenas tentando ficar sentada, mas o carrinho estava enfiado na bunda dele, então ele está totalmente desconfortável, o Bam está rindo dele e nos perdemos tentando achar o médico para fazer o raio-X. Foi em Miami, e eu estava dirigindo procurando o endereço da clínica. Isso foi antes do GPS e tudo mais. O Ryan olha na minha cara e diz "Sério? Isso está mesmo acontecendo agora?" Foi muita pressão para conseguir as imagens enquanto o médico fazia o exame. A qualquer hora o cara podia se tocar. O médico não tinha ideia do que entramos lá para fazer.
SPIKE JONZE: Cada momento é vívido para mim. O Bam está lá o ajudando a colocar o carrinho na bunda com luvas, aí o Manny chega e parece um cara selvagem, um desses caras da natureza que lutam com crocodilos, e ele simplesmente surta. O médico está lá. Deixamos as coisas desacelerarem e ficamos lá esperando o Ryan terminar. A frase do Steve-O é uma das minhas favoritas de tudo que já filmei, quando ele diz que contou ao pai que ia colocar um carrinho na bunda e ele diz "Não me importo quando meu pai fica puto comigo, mas quando ele fica desapontado, isso magoa". Foi a frase perfeita para capturar os caras no seu melhor. Lance Bangs filmou tudo isso. Eles estavam nessa juntos. Tem algo de muito real nisso. O que eles fazem é loucura, mas o fato disso ser o trabalho deles é ainda mais ridículo. Eu adoro.

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Todas as fotos por Sean Cliver e Benzo.

COLOCANDO UM LIMITE

STEVE-O: Eu não faria nada que achasse que poderia colocar minha coluna ou minha vida em risco. Essas são minhas duas regras. Paralisia e morte não estão na mesa aqui.
JOHNNY KNOXVILLE: Meu negócio é que não gosto de frio ou água fria. Se tinha alguma brincadeira envolvendo isso, eu virava pro lado e dizia "Alguém faz essa, né?" Simplesmente não gosto. Também não sou o cara que vai usar sunga; fico muito constrangido. Isso é coisa para o Pontius e o Steve-O, e eles arrasam nisso. Dois caras maravilhosos. Também não faço muitas coisas nojentas. Gosto de fazer coisas que tem a ver com gravidade e hematomas.
BAM MARGERA: No começo nunca fiz nada em que tivesse que ficar pelado. Só me sinto estranho com isso. E sempre tentei ficar longe de touros, porque gosto de fazer brincadeiras onde estou no controle, como dropar de skate de uma parede de tijolos. Você consegue sacar como cair do jeito certo e fazer parecer radical. Mas ter um touro pisoteando minha cara, isso eu não posso controlar. Acho que no final 2, o Tremaine me convenceu a lidar com alguns touros na abertura.
CHRIS PONTIUS: Eu não me esquivo de nada. Às vezes acho que temos certas pessoas fazendo certas coisas porque se encaixam melhor nisso ou dão uma reação melhor, mas não gosto de fazer assim – acho que todos os caras diriam a mesma coisa… Jackass é sobre ser a piada no final da história. Não quero nunca fazer algo mau. Acho que só somos maus com nós mesmos. Essa é a única regra. Outros show são parecidos, e alguns são engraçados, mas acho que a diferença de Jackass – e isso não foi planejado – é que o programa não era só sobre brincadeiras e pegadinhas.

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Fotas as fotos por Sean Cliver e Benzo.

RECEPÇÃO

JOHNNY KNOXVILLE: Lembro da nossa primeira exibição na Paramount, com famílias, amigos e executivos. Quando mostramos o filme para os executivos era uma versão mais longa. Estávamos testando piadas e a coisa ainda estava bem crua. Um dos executivos, que não vou dizer o nome, se levantou e disse "A Paramount nunca vai lançar esse filme". Tivemos que lutar, mas acho que só foi uma reação emocional da pessoa porque ela nunca tinha visto algo assim antes, e era muito cru.
SPIKE JONZE: Dando o crédito merecido a Sherry Lansing aqui, foi o chefe dela que chegou e disso isso, mas a Sherry, que era tipo uma mulher mais velha, famosa e de sucesso – bom, não sei o que ela fez, mas eles lançaram o filme.
CHRIS PONTIUS: Antes do lançamento oficial, eles deixaram um público escolhido assistir o filme, e nos deixaram ficar no fundo do cinema vendo a reação de todo mundo, pra saber o que as pessoas achavam engraçado e tudo mais. Mas foi uma loucura ver um pessoal ficando enjoado e vomitando no cinema. Algumas pessoas ali podiam ser fãs de Jackass, outras talvez só quisessem ver um filme de graça, então vimos gente ficando realmente puta e sair pisando duro do cinema.
STEVE-O: Lembro de receber uma ligação do Knoxville quando o filme estreou, e ele disse "Cara, somos o número um. Conseguimos". Essa foi a experiência para mim.
SPIKE JONZE: A estreia foi muito divertida. A exibição aconteceu no Cinerama Dome, um lugar onde eles fizeram estreias de filmes famosos como 2001 e Contatos Imediatos de Terceiro Grau. Lembro de estar no tapete vermelho e ver Steve-O, Preston, Bam e Wee Man, de olhar para eles, e eram os mesmos caras, mas no tapete vermelho.
JEFF TREMAINE: Lembro de receber vários telefonemas na estreia. A Paramount me alugou um ônibus pequeno de traslado, estão levamos vários caras e os nossos pais de um cinema para outro. Começamos nas matinês das 17h e entrávamos no cinema depois que o filme começava. Eu estava parado lá do lado do meu pai, e olhamos em volta e tinha só cinco pessoas no primeiro cinema. E eu pensei "Ah não, cara", e meu pai olhou pra mim e disse "Bom, parece que temos uma bomba". Mas enquanto a noite passava, fomos recebendo ligações da Paramout; estávamos na Costa Oeste e o filme estava indo muito bem na Costa Leste, e continuamos dirigindo, e a cada teatro eles estavam colocando o filme em mais salas, dobrando, triplicando. Foi incrível. E lembro de ficar nervoso porque as coisas estavam indo bem demais, eu surtei. A Paramount continuava me ligando, tipo "O filme chegou nessa posição, o filme chegou nessa outra posição!" Os números continuavam subindo na estreia, de 10 milhões para 15 milhões e depois para 20 milhões. E eu pensei "Eu não sei o que isso significa!"
WEE MAN: A sensação mais louca de primeira vez disso foi quando saí numa turnê de skate com outros caras, e fomos para o Japão. Jackass: O Filme tinha saído há três meses nos EUA, e tinha acabado de chegar no Japão, e as pessoas lá saíam correndo das lojas, gritando meu nome. E meus colegas de skate diziam "Ah, cara, acabou pra você. Agora todo mundo te conhece".

Todas as fotos por Sean Cliver e Benzo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

SPIKE JONZE: Durante o primeiro filme a coisa só estava começando e não sabíamos o que era, mas no último filme a gente tinha passado uma vida juntos. O primeiro filme tem uma inocência e uma ingenuidade. Pelo menos parece assim quando assisto.
CHRIS PONTIUS: Quando Jackass começou, era uma coisa de todo mundo do nosso círculo do pessoal do skate e além. Era um grupo aberto para qualquer um com uma boa ideia que quisesse filmar. O elenco acabou se tornando as pessoas com quem a gente mais filmava.
JEFF TREMAINE: As pessoas acham que isso aconteceu da noite pro dia. Não foi como se alguém tivesse feito um anúncio procurando um elenco, não pegamos esses caras e o colocamos juntos sem eles se conhecerem. Era uma longa história, então há uma sensação de família entre a equipe e o elenco; você não consegue fabricar isso. É autêntico. Em se tratando de quem entrou para a família Jackass, esses caras provaram com o tempo que eram idiotas excepcionais.
JOHNNY KNOXVILLE: Somos amigos de verdade, e quando outras pessoas tentam fazer o que fazemos elas acham que é só uma questão de ser nojento ou provar que são fodões, mas nenhum membro do nosso elenco tem qualquer ilusão de que somos durões. Não é sobre isso; é um grupo especial de caras. Fazemos coisas imbecis e às vezes um pouco maldosas, mas ainda tem uma doçura e uma inocência nelas, e isso nasce da amizade, mas também da natureza desses caras. Não dá pra duplicar isso.
DAVE ENGLAND: Tem alguma coisa na dinâmica que tínhamos com todas essas pessoas – era uma mistura perfeita de personalidades diferentes que eram todos amigos. É isso que tornava o que a gente fazia tão divertido de assistir.
WEE MAN: É tipo uma banda boa. Sabe quando você ouve que uma banda é fabricada? A indústria da música não consegue juntar uma boa banda. Ninguém pode simplesmente escolher uns caras, mas se você tem amigos com quem faz música, isso é exatamente o que a gente fez. Descobrimos como juntar tudo e fazer isso ser como uma boa banda.
CHRIS PONTIUS: As pessoas não percebem essa parte, sabe? Acho que quando as pessoas assistem Jackass, elas lembram de como era estar com os amigos. Muita gente não percebe que o programa não se importava necessariamente com as brincadeiras, então acho que é isso que tornava o grupo tão especial.
DAVE ENGLAND: Sabe pessoas que vão pra guerra juntas, depois voltam e continuam amigos porque ninguém mais entende eles? Ninguém passou pelas merdas que eles passaram. Não estou dizendo que fomos para a guerra. Fomos para uma guerra divertida, acho. Mas ninguém mais entende o que passamos juntos.

@marianne_eloise

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