A vida de quem decide voltar a estudar para mudar de carreira

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A vida de quem decide voltar a estudar para mudar de carreira

Enem é porta de entrada para brasileiros que já fizeram faculdade e buscam outra graduação.

Dos mais de sete milhões e meio de inscritos no Enem em 2017, 59,3% já concluíram o ensino médio. E, desses, boa parte está mais perto dos 30 do que dos 20. A verdade é que, apesar do nome oficial (Exame Nacional do Ensino Médio), a prova se tornou uma ótima alternativa para quem já tinha a vida encaminhada em uma direção, mas decidiu respirar fundo, voltar a estudar e mudar de rumo – ou expandir os horizontes profissionais.

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É uma escolha difícil: ao contrário do período logo ao terminar a escola, quando os pais, os amigos e todo o resto do mundo pressionam os jovens a fazerem uma faculdade, aqueles que decidem voltar a estudar depois de um tempo encaram uma pressão contrária, como conta a produtora de cinema Chaiana Furtado. Mais de dez anos após entrar no ensino superior pela primeira vez, ela começou a cursar Pedagogia em 2016.

"Fora da juventude, uma série de outras responsabilidades te limitam a estudar", diz Chaiana. "Porém, é muito bom, você volta com outra cabeça, está ali porque quer, então se dedica, não quer fazer as aulas de qualquer maneira." A escolha da Pedagogia, explica a produtora, tem uma raiz antiga, de quando ainda cursava Cinema. Na época, ela também fez alguns semestres de Geografia e, nesse curso, se aproximou de um grupo que trabalhava com cinema e educação.

"Passei muito tempo pesquisando isso, da importância dos alunos terem acesso às artes, usar como discussão, só que comecei a trabalhar, emendar um filme no outro, e esse projeto de aliar cinema com educação ficou de lado por quase 10 anos", conta ela. No ano passado, no entanto, decidiu encarar o desafio. "Eu amo demais cinema e nunca vou abandonar essa profissão, mas a longo prazo meu plano é conciliar as duas coisas, e a pedagogia me dá uma visão geral da educação, de entender esse campo por completo. Eu quero ser pedagoga além de cineasta", afirma Chaiana.

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Claro, uma nova faculdade não é o único caminho para rearranjar os rumos profissionais. Uma pós-graduação também pode ser uma alternativa, como mostra a história da advogada Victoria Fernandes. Depois de uma carreira bem-sucedida no mercado financeiro, Victoria decidiu fazer um mestrado em Desenvolvimento Internacional e hoje estagia no Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) em Kingston, na Jamaica.

"Meu encontro com o mercado financeiro foi meio por acaso, esbarrei no processo de estágio de uma gestora de fundos e passei. Como gosto de me sentir desafiada e de estar sempre fazendo algo novo, caiu como uma luva para mim", diz Victoria. "Essa lua de mel durou um bom tempo, auxiliada, é claro, pelo salário atraente da área, mas depois de alguns anos a novidade constante arrefeceu e outras necessidades começaram a aflorar."

Por fim, após uma temporada como advogada na área de gestão de fortunas de um banco suíço, a vontade de encontrar um trabalho que proporcionasse crescimento intelectual e satisfação pessoal falou mais alto e Victoria tirou um ano sabático. Onze meses de viagens pelo mundo depois, ela decidiu migrar para o terceiro setor. "Como a minha experiência até então era estritamente corporativa, senti a necessidade de voltar para a escola para me preparar para esta mudança de carreira", explica.

"Por incrível que pareça, a mudança de advogada de bancos internacionais para mestranda morando em acomodação estudantil foi bastante suave", afirma Victoria, que diz ter descoberto em si mesma uma afinidade com o mundo acadêmico que desconhecia. "Embora haja a incerteza de estar construindo uma nova carreira, a angústia que sentia nos últimos anos do mercado já é uma lembrança esmaecida e hoje sou uma pessoa mais realizada."

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Para Vitor, quem entra na faculdade hoje vai sair em um mundo com profissões completamente diferentes.

Uma das razões que explica o aumento na busca de mais uma formação por quem já tem uma carreira é a mudança na própria forma como os profissionais atuam no mercado de trabalho hoje em dia. Um bom exemplo é Vitor Barão, que, como ele mesmo diz, foca seus trampos no interstício entre diversas áreas.

"Eu comecei a fotografar como hobby com 12 ou 13 anos, mas curtia ciência e adorava botânica, então fui estudar Biologia. Depois, enquanto fazia pós-graduação, me sustentava trabalhando com fotografia", conta Vitor. "Eu só fui somando esses conhecimentos, usava técnicas de fotografia nas pesquisas, para melhorar a microscopia, por exemplo, enquanto a Biologia me fez aprender a aprender e entender o mundo."

Hoje, além de fotografar – é dele, por exemplo, o Projeto AMOR(A) no Instagram -, Vitor é consultor para projetos de ciências multidisciplinares em um colégio de São Paulo e também trabalha em uma startup de educação voltada para cultura maker. "As pessoas na escola hoje vão sair em um mundo diferente. E quem está entrando na universidade também vai sair em um mundo bastante diferente", diz Vitor. "O lado bom disso é que tira o peso na hora de escolher uma faculdade. De qualquer forma, o importante é desenhar uma trajetória, uma história, que seja própria de cada um."

Para mais matérias sobre o ENEM, acesse o Manual do Enemzeiro.