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O estranho jeito de contrair DSTs nos olhos

Acontece mais do que você imagina. E não é por meio de ejaculação na cara.

As infecções sexualmente transmissíveis nos olhos estão se tornando um problema. Entre dezembro de 2014 e março de 2015, 12 casos de sífilis ocular foram reportados ao Centro de Controle de Doenças (o CDC), nos EUA. Isso motivou o CDC a analisar os arquivos de casos que indicavam mais de 200 casos reportados ao longo dos últimos dois anos em 20 estados norte-americanos.

A maioria dos casos ocorreu entre homens infectados com HIV que tiveram relações sexuais com homens. Uma quantidade pequena ocorreu entre pessoas não infectadas com HIV, incluindo homens e mulheres heterossexuais. Alguns casos resultaram em cegueira. Esse salto nos casos de sífilis ocular levou o CDC a publicar uma orientação a todos os médicos para que fiquem de olho nessa doença.

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Alex de Voux, epidemiologista do departamento de prevenção a DST do CDC, afirma que a sífilis ocular é parte de uma tendência maior de aumento nos casos de sífilis. Nos Estados Unidos, as taxas de sífilis aumentaram abruptamente entre a população na última década. No Brasil, como falamos meses atrás, a situação se tornou uma epidemia. A sífilis é conhecida como "a grande imitadora", porque seus sintomas podem se parecer com várias doenças, como garganta inflamada, dor de cabeça e erupções cutâneas. Ao acrescentar a conjuntivite a essa lista— como o olho vermelho que tínhamos no colégio — a sífilis já encontrou outro jeito de se embrenhar, e ser subdiagnosticada, no corpo.

"Os sinais e sintomas da sífilis ocular podem incluir vermelhidão nos olhos, visão turva e perda de visão", afirma de Voux. "Muitos casos reportados de sífilis ocular resultaram em complicações significativas, incluindo cegueira, por isso a importância de ser testado para sífilis de acordo com as recomendações do CDC e garantir que os testados positivos sejam tratados imediatamente."

Entre as orientações fornecidas aos médicos está prestar uma atenção extra às reclamações nos olhos dos pacientes com risco grande para sífilis (especialmente homens HIV positivos que têm relações com homens), e que todos os pacientes que testam positivo para sífilis sejam examinados para danos aos nervos cranianos, os quais podem ser permanentes.

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Agora, a boa notícia: você, provavelmente, não vai pegar sífilis ocular após uma sessão de bukkake, porque os olhos não são uma fonte usual de infecções sexualmente transmissíveis. A sífilis ocular é um sintoma de infecção, e não está diretamente ligada a levar uma esporrada na córnea.

"A sífilis ocular é uma manifestação da neurossífilis, que é uma infecção do cérebro ou da coluna espinal que costuma ocorrer nas pessoas com sífilis não tratada. Ela pode ocorrer durante qualquer estágio da sífilis, incluindo a primária e a secundária", afirma Brian Katzowitz, especialista em comunicação de saúde do CDC.

A sífilis primária acontece em dez a 90 dias após a infecção, e em geral se manifesta como um cancro onde a bactéria Treponema pallidum entra no corpo — uma ferida indolor na boca, no ânus ou nos genitais. A secundária ocorre quando a bactéria da sífilis se espalha pelo corpo, e costuma aparecer com sintomas de gripe ou uma erupção cutânea. A terciária, ou neurossífilis, é o que acontece quando a infecção permanece não tratada por anos. "Algumas formas de neurossífilis podem ser mortais. Enquanto o tratamento para a infecção da sífilis pode impedir o progresso da sífilis ocular, os danos que ela causa podem ser irreversíveis", afirma Katzowitz.

Basicamente, a cegueira. A sífilis não costuma ser causada por uma esporrada nos olhos, mesmo assim, é melhor você pedir ao seu parceiro apontar o pinto para outro lado quando ele for ejacular. Veja bem, os olhos são uma membrana mucosa, o que os deixa suscetíveis a bactérias e vírus, assim, é possível que a sífilis, a gonorreia e a clamídia entrem no corpo através dos olhos.
E como a gonorreia se prolifera na uretra, um golden shower pode transmitirs aos olhos. Isso é raro, mas não é impossível. O que pode parecer apenas um olho avermelhado, pode levar a todos os tipos de efeitos colaterais, incluindo a "erosão da córnea".

Todo esse papo sobre DSTs entrando pelos olhos é, em grande parte, teórico, porque o CDC não escrutiniza tanto os dados. É possível, mas raro — a grande maioria das doenças ocorre por meio da transmissão sexual através de fluidos corporais. Se alguém disser que teve uma DST nos olhos depois de uma sessão de masturbação que não terminou bem, a verdade pode ser que ele tem medo de admitir que pegou alguma coisa num sexo casual. Outra doença ocular da categoria "improvável, mas possível" é a Phthiriasis palpebrarum — ou piolhos púbicos. Em um estudo de 2017 no Journal of Experimental and Therapeutic Medicine, médicos citaram o caso de uma mulher de 63 anos que reportou coceira e ardência nos dois olhos, o que foi diagnosticado erroneamente como blefarite, uma inflamação comum da pálpebra.

Após a paciente falhar na resposta aos antibióticos e colírio de corticosteroide, os médicos realizaram um exame de lâmpada de fenda (ferramenta comum para exame dos olhos) nas pálpebras, que revelou piolhos e lêndeas nos cílios. Todos os cílios da paciente foram removidos, e os piolhos foram retirados manualmente. Ela ficou bem depois de duas semanas, a não ser pelo visual meio esquisito.

Existe um segmento da população para quem as DSTs oculares são mais do que uma possibilidade teórica: os recém-nascidos. A maioria dos estados norte-americanos dispõe de leis que exigem que os hospitais administrem pomadas antibióticas nos olhos de todos os bebês recém-nascidos. Grávidas com gonorreia não tratada ou clamídia podem transmitir a bactéria para os olhos dos filhos, e somente a pomada antibiótica pode prevenir uma infecção por conjuntivite com potencial para causar cegueira. Apesar das chances baixas de contrair uma DST pelos olhos, não há dúvida de que levar esperma ou urina nos olhos é uma experiência bastante desagradável. Qualquer um que já recebeu porra nos olhos pode afirmar que ela arde pra caralho, e causa uma vermelhidão nos olhos por horas. Seus olhos devem ser lavados imediatamente com água corrente, preferencialmente morna. Lavar o rosto após uma sessão que inclui fluidos corporais voadores é um ritual de pós-sexo bastante importante em geral.

Além disso, a melhor maneira de prevenir as DSTs oculares, como a sífilis causadora de cegueira, é ser aberto e honesto com seu médico sobre sua vida sexual. Isso ajuda os clínicos a avaliar com mais precisão os riscos aos quais você está envolvido, e os ajuda a diagnosticar e tratar as DSTs mais rápido. É quando permitimos que as infecções se alastrem em nosso corpo e nosso ecossistema sexual que elas se espalham, se fortalecem e causam danos permanentes.