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Tudo que sabemos sobre Sayfullo Saipov, o suspeito do ataque terrorista em Manhattan

O homem de 29 anos que teria matado oito pessoas em Nova York na terça-feira (31), foi descrito como um motorista de caminhão educado, que cozinhava para uma vizinha idosa e a tratava como “sua mãe”.

Matéria originalmente publicada na VICE News .

Sayfullo Habibullaevic Saipov, o homem de 29 anos que supostamente matou oito pessoas e feriu 11 em Nova York na terça-feira (31), foi descrito por ex-vizinhos e amigos como um motorista de caminhão educado, que cozinhava para uma vizinha idosa e a tratava como "sua mãe".

Mas especialistas dizem que Saipov, que veio para os EUA do Uzbequistão sete anos atrás, queria morrer no ataque e "ir para o céu como um mártir".

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O suspeito não conseguiu isso. Depois de sair do carro com um par de armas falsas, ele foi baleado no abdômen pela polícia e levado para o hospital. Ele deve sobreviver.

"Ideologicamente, ele acreditava que essa era a coisa certa a fazer, ele acreditava na causa e que, depois de ser morto, iria para o céu e se tornaria um mártir", disse Haras Rafiq, chefe da think tank contra-extremismo Quilliam.

A polícia encontrou bilhetes escritos à mão em árabe perto do caminhão, indicando aliança do suspeito com o Estado Islâmico. O grupo ainda não assumiu responsabilidade pelo ataque, mas é só uma questão de tempo, segundo Rafiq.

"Esse cara podia estar ideologicamente ligado ao ISIS e eles nem saberem disso", continuou Rafiq.

É isso que sabemos sobre Saipov até agora:

Programa de visto de diversidade

Saipov mudou para os EUA do Uzbequistão em 2010 e conseguiu o green card. Donald Trump tuitou nesta quarta (1º) que o suspeito entrou nos EUA via loteria do Departamento de Estado para pessoas de países com poucos imigrantes nos EUA.

O programa exige que os participantes não tenham antecedentes criminais e tenham o equivalente a um diploma do ensino médio.

Segundo uma licença de casamento registrada em Summit County, Ohio, Saipov se casou com Nozima Odilova, de 19 anos, em 2013. Os dois deram Tashkent, Uzbequistão, como local de nascimento.

Saipov morava num apartamento de dois quartos com a esposa e filhos pequenos em Paterson, uma cidade de 145 mil habitantes em Nova Jersey, segundo a mídia local.

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Enquanto estava em Paterson, Saipov trabalhou como motorista do Uber. A empresa confirmou que o suspeito passou na checagem de antecedentes deles e os registros não mostram reclamações de passageiros. Numa declaração, a empresa disse que estava "horrorizada com essa violência sem sentido".

Saipov mudou para Nova Jersey no meio do ano, tendo morado antes em Tampa, Flórida, onde trabalhava como motorista de caminhão comercial.

Na terça-feira (31), Saipov alugou uma picape da Home Depot em Passaic, perto de Paterson, deixando sua minivan Toyota estacionada perto da loja.

Saipov, que tinha carteira de motorista de caminhão, também morou em Ohio e registrou duas empresas — Sayf Motors Inc. em 2011 e Bright Auto LLC em 2013 — listadas na base de dados do Departamento de Transportes como "transportadoras".

"Me tratava como sua mãe"

Os vizinhos de Saipov na Flórida descreveram um homem simpático que sempre ajudava os outros.

Uma delas o descreveu como um homem de fala mansa que costumava trazer comida caseira para ela, dizendo que queria compartilhar a cozinha de seu país.

"Ele sempre me trazia comida. Eu oferecia dinheiro em troca mas ele dizia que não queria", disse Kyong Eagan ao Daily Beast. "Não consigo acreditar. Ele era tão sincero. Estou chocada. Ele sempre me tratou como sua mãe. Ele era um bom vizinho. Realmente um bom vizinho."

Outros lembram de Saipov morando num apartamento modesto com uma mulher e "dois ou três filhos", além de uma idosa que acreditavam ser a sogra dele.

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Enquanto Saipov era simpático, os vizinhos disseram que as mulheres da família eram frias a ponto de serem rudes. "A maioria das pessoas, quando você diz oi elas dizem oi de volta, mas elas não", disse Melissa Matthews.

Dilfuza Iskahakova, que morava em Cincinnati, Ohio, disse ao Guardian que Saipov ficou com ela por vários meses em 2011, logo depois de chegar do Uzbequistão.

"Ele parecia um cara legal, mas não falava muito", disse Iskhakova. "Ele só ia trabalhar e voltava para casa. Ele trabalhava num armazém."

Kobiljon Matkarov, que conheceu Saipov cinco anos atrás na Flórida, disse ao New York Post que o colega uzbeque era "um cara muito bom, ele é muito amigável… ele é como um irmão mais novo… ele me via como um irmão mais velho".

Matkarov disse que viu o suspeito pela última vez em junho, quando Saipov deu uma carona para sua família até o Aeroporto JFK. Ele disse que não sabia que Saipov tinha qualquer ligação com terrorismo.

Laços com o Estado Islâmico

"Não há evidências sugerindo uma trama maior ou um esquema mais amplo", disse o governador de Nova York Andrew Cuomo na terça (31).

"Ele definitivamente tinha acesso ou contato com pessoas que eram colegas de ideologia, que potencialmente queriam ser jihadistas, ou alguém que colocou a ideia na cabeça dele de que fazendo isso ele estaria apoiando a causa", ele disse.

Haroon Ullah, especialista em terrorismo que trabalhou como consultor do Departamento de Estado em contraterrorismo, concorda. "Em se tratando do ISIS e outros grupos extremistas, as pesquisas mostram que raramente é um 'ataque de lobo solitário'", disse Ullah à VICE. "Os perpetradores e recrutas são abordados e estimulados por dezenas, se não centenas, de colegas diariamente."

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Rafiq disse que é "estranho" que o Estado Islâmico não tenha assumido a responsabilidade ainda, especialmente porque o grupo já publicou atualizações da noite e da manhã desde que o ataque aconteceu. Pode haver várias razões para isso, ele disse.

Primeiro, o Estado Islâmico não tem consciência que o ataque aconteceu. Contrário à opinião pública, o grupo terrorista nem sempre tem conhecimento dos ataques ocorridos em seu nome.

Segundo, depois do ataque recente a Raqqa, o grupo não tem mais a infraestrutura de mídia que tinha para assumir a responsabilidade.

Terceiro, o Estado Islâmico exige que seus seguidores tenham "ijaza" – permissão de um superior – antes de liberarem uma declaração. Isso pode estar atrasando as coisas.

"Eles já postaram declarações sem comando direto antes e as pessoas sofreram as consequências internamente", disse Rafiq.

No entanto, Ullah diz que o Estado Islâmico pode nunca assumir a responsabilidade. "Se isso foi perpetrado ou dirigido pelo ISIS, eles podem nunca assumir a responsabilidade. Mas o que os fãs do ISIS vão fazer é amplificar a notícia, dizendo que o terrorista era um dos seus por ser 'inspirado' pelo grupo, o que permite cortar o cara se eles não gostarem da mensagem."

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