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Os labirintos da cidade viram picos de skate no vídeo ‘Deambulações’

Inspirado nas performances urbanas de Hélio Oiticica, o diretor Murilo Romão faz do ato de andar de skate uma performance constante.
O skatista Murilo Romão observa São Paulo do alto da ocupa do Ouvidor 63. A cidade é o seu playground. Foto: Ricardo Shinji

Murilo Romão e seus comparsas seguem em busca do desconhecido. Neste novo vídeo dirigido por ele, a ideia era explorar bairros ainda não retratados nos títulos anteriores da produtora Flanantes. A inspiração, segundo ele, veio do conceito de Delírium Ambulatorium, do artista e teórico neoconcretista Hélio Oiticica – isto é: inventar coisas para fazer durante a caminhada –, e da ideia de explorar o labirinto que é a cidade, a boa sensação de se perder para ter o desafio de se achar, e, consequentemente, descobrir picos skatáveis. Enfim, a própria essência do skate de rua levada à máxima expressão.

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Deambulações, termo que dá nome ao vídeo, uma parceria Flanantes e 21 Gramas, eram as caminhadas praticadas pelos surrealistas em busca de sair do lugar-comum, coisa que os skatistas sempre fizeram, só que ludificando o concreto com o carrinho e as possibilidades de manobras. A palavra foi usada para nomear um capítulo do livro Elogio aos Errantes, de Paola Berenstein Jacques, justamente sobre a experiência urbana da alteridade. Tais referências, inclusive, deram origem ao projeto e seus desdobramentos, tendo fundamentado as produções anteriores Flanantes e Situacionistas.

“Não diria que as pistas são melhores do que as ruas para se andar de skate, porque esta é uma opção pessoal”, declara Murilo com base em sua vida de rueiro. “As experiências de alteridade que adquirimos andando nas ruas vai muito além das manobras, é uma adaptação constante. Como já dizia Alexandre Tizil, ‘nenhuma pista vai conseguir reproduzir a sensação de andar na rua’.” A última manobra da parte do próprio Murilo revela o quão fascinante é essa coisa da alteridade no skate de rua. Em cena, ele tenta dar uma determinada manobra e, no improviso pra encaixar, acaba saindo um combo bem cabuloso que nem ele tinha imaginado. “Acabei usando como a última por esse motivo também, era inédita para mim”, exclama o skatista.

A filmagem de sete meses colocou os caras de frente com a realidade das ruas, como na cena em que aparece uma figura emblemática do Centro noturno, o Coringa da Boca do Lixo. “Sempre vejo ele pelo Centro, na região da Luz, cuspindo fogo ou caminhando, sempre maquiado”, conta Murilo Romão. “Essa imagem foi captada lá pelas 11h30, ali no famoso Calzone da Santa Cecília. Juntamos alguns trocados e ele fez esse show pra gente. A mensagem é meio que essa, coisas que acontecem nas ruas sempre, mas só presencia quem de fato está na rua. Conseguimos eternizar com a câmera, mas foi pura sorte.”

Assista:

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