Terceiro gênero na Índia

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Identidade

Indianas do terceiro gênero falam sobre o significado de liberdade

"Já sofri abusos. No dia que isso parar de acontecer comigo, essa será a liberdade.”

Estávamos esperando nosso táxi no lobby do hotel quando um grupo de kinnars (a comunidade do terceiro gênero da índia) apareceu para se encontrar com Laxmi Narayan Tripathi, a ativista transgênero e dançarina, que deveria estar em nosso hotel.

Elas compunham um alvoroço de cores com suas roupas, pulseiras e batons. Elas vinham diretamente de seu ensaio de dança. O primeiro festival cultural transgênero de Behampur estava programado para o dia seguinte, e essas mulheres estavam participando e organizando várias performances, desde danças folclóricas até desfiles de moda. Tripathi era a convidada principal do evento [ela precisou cancelar sua participação por causa de problemas de saúde].

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Estávamos cobrindo o festival cultural. Por não terem encontrado Tripathi, as mulheres decidiram sair conosco, e recebemos alegremente flores e pacotes de chhena poda, doces tradicionais de Odia. Um punhado de selfies quebrou o gelo e, no dia seguinte, eu e o fotógrafo Viraj fomos ao festival.

Esta foi a primeira vez de Viraj com pessoas que pertencem ao terceiro gênero, ouvindo histórias de resiliência contra a negligência de nosso país em relação aos direitos dos transgêneros. As conversas no jantar giraram em torno de ideias de liberdade – contra o preconceito, e liberdade para ser você mesmo, não importa quem você é, e finalmente a liberdade para amar a si mesmo, incondicionalmente.

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Barsha

Barsha, 25 anos, sabe o que significa ser livre. Ela fugiu da casa de sua família quando tinha somente 15 anos. Ela encontrou sua guru e passou a viver com ela. “Para mim, liberdade significa fazer o que eu quiser fazer, sem outras pessoas me dizendo o que é certo ou errado.”

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Kanima

Kanima, 28 anos, se apresenta em vários eventos como dançarina. É assim que ela ganha a vida. Ela também está aprendendo a se maquiar com suas amigas para se tornar uma maquiadora profissional. “No dia em que eu puder ter uma casa toda minha, com meu dinheiro e ter uma família, esse será o dia em que eu me considerarei totalmente livre e feliz.”

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Meenakshi

Meenakshi, 27 anos, tinha 10 anos quando percebeu que era diferente dos outros garotos da vizinhança. “Eu não tinha ideia do que fazer. Kuch maloom nahi tha (eu não sabia de nada).” Ela fica magoada quando as pessoas falam dela. “As pessoas mein karte hai (fazem comentários sobre sobre mim no mercado). Também já sofri abusos. No dia que isso parar de acontecer comigo, essa será a liberdade.”

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Shanti

Shanti, 53 anos, é uma guru de cerca de 40-50 kinnars. Elas vivem juntas em um local alugado. Shati afirma acreditar que a liberdade será desfrutada quando todo mundo respeitá-las na sociedade, e quando a mente das pessoas mudar a respeito das pessoas do terceiro gênero. “Levará tempo, mas tenho esperança de que acontecerá.”

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Sonali

Sonali tem 24 anos. Sua fonte de renda é pedir esmolas nos trens. Ela estudou somente até o 6º ano e depois abandonou a escola. Ela não conseguia encontrar um emprego. “Tive que apelar para a esmola”, conta. “E além disso, ninguém nos dá emprego.” Para ela, liberdade significa a capacidade de você ser você mesmo, de respeitar e de amar a si mesmo. “A sociedade kuch bhi bolti hai (diz o que ela quiser dizer).” Sonali também deseja terminar seus estudos um dia.

Este artigo foi publicado originalmente na VICE Índia.

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