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Games

Criadores locais nunca estiveram tão otimistas com o futuro dos games no Brasil

Há bons motivos para eles (e nós também) ficarem animados com o que vem por aí.
'Distortions', produzido pela equipe de Thiago Girello. Imagem: Among Giants/Divulgação

A cena de criação de jogos aqui no Brasil não pode mais ser ignorada. Exemplos de sucesso como Chroma Squad, da Behold Studios, e Horizon Chase, da Aquiris, estão aí pra não me deixar mentir. Por isso, trocamos uma ideia com alguns criadores para saber o que nos aguarda daqui para frente.

Thiago Girello, diretor criativo do game Distortions, é realista: "O Brasil já dormiu no ponto várias vezes e todo mundo cansou de ouvir a frase 'Agora vai!', mas a verdade é que nunca foi", desabafou. "Só que agora, pela primeira vez em muitos anos, estou com uma visão otimista do mercado Brasileiro."

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O otimismo de Girello também é compartilhado por todos os outros desenvolvedores com quem conversamos, sem exceção. Mas por quê? Um dos pontos levantados por alguns deles foi que o governo finalmente se deu conta de que games são da hora e está dando uma força pra cena daqui amadurecer.

Acima: Trailer de 'Distortions', que ganhou prêmio de melhor jogo brasileiro no BIG Festival deste ano.

Em 2016, a Ancine realizou um edital exclusivamente para jogos eletrônicos. A agência repetiu a dose esse ano e vai distribuir R$ 10 milhões entre mais de 20 projetos. O mesmo aconteceu com a SPCine, que também realizou um edital para games do estado de São Paulo.

Isso quer dizer que o governo está dando grana para estúdios daqui tornarem seus projetos realidade, algo que já acontece em outros países, como Polônia e Canadá, e que ajudou esses locais a se tornarem uma cena bem forte na criação de games hoje. Foi da Polônia que saiu The Witcher 3, por exemplo, e é no Canadá onde é feito o nosso Fifinha anual.

O próprio Thiago Girello teve o seu game Distortions beneficiado pelo edital da SPCine. Ele lembra que esse tipo de incentivo pelo governo também rolou com a produção de filmes brasileiros, nos anos 90. "Hoje, o mercado de cinema daqui já colhe esses frutos. O mesmo deve acontecer com games", conta.

Thiago Girello no BIG Festival 2017. Foto: Bruno Izidro

Também é bacana notar que os novos games que estão surgindo parecem muito bons, o que justifica a empolgação dos desenvolvedores pro futuro do cenário. E anima a gente, que vai jogá-los.

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Nas palavras de Amora Betanny, artista da MiniBoss: "O futuro [da cena de games] parece promissor, porque a cada ano vemos mais jogos lindos e originais sendo feitos por aqui". Exemplos podem ser vistos nos próprios jogos que ela, junto com o parceiro Pedro "Santo" Medeiros, estão envolvidos atualmente: Celeste e Skytorn.

Acima: Trailer de 'Celeste', que deve sair no Nintendo Switch.

Thais Weiller, da empresa JoyMasher (Oniken e Odallus), também falou que a chegada de gente nova no rolê dos games é o que faz as energias serem renovadas. "Ainda tem muitos jovens querendo entrar [no mercado] e muitos deles com visões únicas", explica Thais. Um bom termômetro para verificar que isso é real foram os jogos expostos no BIG Festival 2017, evento voltado para jogos independentes que rolou no fim de junho, em São Paulo.

Por lá, se destacavam games como o de estratégia 2D de coelhinhos invasores, Fluffy Horde, da Turtle Juice; ou Community Inc, da T4 Interactive, que te coloca para gerenciar trabalhadores de uma vila; ou No Heroes Here, da Mad Mimic, que mistura de desafios de plataforma e tower defense multiplayer; além de Eliosi's Hunt e a sua ação bem feita, dos irmãos Tiago e Daniel Zaidan.

Galera no BIG Festival, que neste ano rolou no Centro Cultural São Paulo. Foto: BIG Festival/Divulgação

Algo que também ficou bem claro dando um rolê pelo BIG Festival foi a diversidade de ideias nos games expostos, o que é ótimo, porque abre possiblidade para coisas mais diferentonas e interessantes aparecendo por aí.

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"[No futuro] vão surgir novas interações nos games que não seja atirar ou destruir, como amar, inventar, questionar", comentou Lucas Molina, que está fazendo Roguemance, em que o jogador conhece paixões e derrota inimigos que representam problemas de relacionamentos, como manipulação, amantes e DRs. Tudo com um visual fofinho em pixels.

Para ele, a grande vantagem de termos mais variedade nos games é que isso atrai gente que nem liga para videogames hoje em dia. "A ideia de 'gamer' vai fazer menos sentido, porque muita gente vai jogar coisas muito diferentes", diz Lucas.

Acima: 'Roguemance', jogo produzido por Lucas Molina.

Em outro papo, dessa vez com a artista Rafaella Ryon (que no momento está produzindo Massive Madness), ela lança a ideia de que a variedade nas produções que estamos vendo agora tem muito a ver com a facilidade de se criar games hoje em dia. "Se expressar na forma de um videogame está mais acessível. Quanto mais acessível é uma mídia, mais se traduz uma identidade, um estilo regional."

Não é à toa que jogos de qualidade, incluindo alguns citados aqui, estão brotando de diferentes regiões do país, como Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia e Amazonas, como é o caso de The Keeper, primeiro jogo do estúdio Ludic, formado por três pessoas de Manaus.

Acima: 'The Keeper', dos manauaras do estúdio Ludic.

O programador do jogo, Joel Hamon, falou que um dos objetivos deles é se firmar como um estúdio e mostrar qual estilo de jogo pretendem criar. "A gente quer também que The Keeper sirva de incentivo para todos que queiram desenvolver e participar do mercado de jogos, assim como alguns jogos e estúdios brasileiros serviram de incentivo para nós", diz.

Ele cita o estúdio Behold e a Thais Weiller como inspiração para eles quererem criar seus próprios games. Behold, Thais e mais figuras como Marcus Venturelli (de Relic Hunters Zero) e a dupla Amora e Santo, que estão já há uma cara nessa vida louca de criar games, hoje se tornaram as maiores referências locais na cena de desenvolvimento.

Isso mostra que o cenário, na real, é um ciclo que se renova e evolui. Quanto mais jogos legais e interessantes aparecem, mas pessoas também vão se empolgar em criar outros jogos, que podem ser ainda mais legais e maneiros.

Claro que ainda há muito o que melhorar e barreiras a quebrar pro cenário de games no Brasil bombar para valer, desde as questões de tributos e impostos (sempre eles), até o preconceito que o próprio jogador brasileiro tem pelos jogos feitos aqui, mas por tudo o que está acontecendo em políticas de incentivos, a empolgação dos desenvolvedores e a qualidade dos games produzidos, parece que finalmente dá pra falar que esse negócio de fazer joguinhos veio mesmo para ficar no Brasil.

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