Elon Musk ilustrado
Elon Musk. Ilustração: Sam Taylor.

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Entretenimento

Todas as merdas que devemos deixar em 2018

Primeira: youtubers falando "galera".

2018 foi um puta ano, né? Aconteceu uma caralhada de coisas. Algumas foram boas, outras ruins, e muitas foram totalmente bizarras. Aqui vai tudo dessa última categoria que deveria ficar em 2018 e nunca ser mencionado de novo.

A FUNÇÃO DE COMPARTILHAMENTO DO WHATSAPP

Quando eu era mais nova, a parte da internet que me deixava mais nervosa era correntes de e-mail. Eu ficava deitada na cama sem conseguir dormir preocupada que uma menina que morreu presa no arame farpado viria puxar meu pé de noite. Eu achava que isso ia parar com o tempo, mas ainda estou recebendo corrente de e-mail. Você, como eu, deve ter parentes mais velhos que recentemente aprenderam a usar a função “compartilhar” do WhatsApp. No meu caso, isso significa que meu celular é inundado por versículos da Bíblia, memes de três anos atrás e fake news “da polícia, repassem”. Mesmo não tendo mais medo de ser morta por uma mina estilo Samara, tenho que aguentar minha mãe e minha tia perguntando por que não parei um minuto para responder as mensagens delas. Então, pelo bem da minha união familiar, se livrem dessa função, por favor.

@nanasbaah

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PENSAMENTO COLETIVO

Todo mundo pensa igual – ou, na verdade, sente que deveria pensar como tudo mundo, principalmente com base no medo. Graças à cultura do cancelamento, todo mundo espera o resto do pessoal formar uma posição “certa” para a última manchete ou Celebridade Que Falou Merda. Eu preferia ver discussões online com base em diferenças reais como nos bons tempos (o Twitter de 2013), em vez de indignação forçada quando a opinião de alguém é um pouquinho diferente da sua. Ficamos preguiçosos de procurar nossas opiniões autônomas, e em vez disso ficamos esperando uma posição desconstruidona emergir.

@hannahrosewens

MEUS INIMIGOS

“Ah, vamos deixar os canudinhos de plástico em 2018!” – não. “Talvez devêssemos deixar a guerra e a fome” – pouco realista, bicho, não. Vamos deixar pra trás todo mundo que vacilou comigo pessoalmente, além de uma listinha de jornalistas e comentaristas irritantes. Vamos deixar para trás o sujeito que me fez perder o depósito de segurança quando me mudei de uma casa em 2015! Morra, cara! E se não morrer sozinho, eu vou te matar! 2019, puto!

@joelgolby

MEMES RUINS

Ficou extremamente evidente no curso de 2018 que os memes são tudo que a gente tem. O meio ambiente está morrendo e o mundo está basicamente batendo palma. Os memes são a única coisa que nos resta. Então por que cargas d'água insistimos em insultar essa nobre forma de comunicação quando somos capazes de fazer muito melhor? Nós do “o namorado dela aqui, seu merda”, nós da foto do Ben Affleck fumando, nós daquele carinha japonês da borboleta. Os memes se tornaram a medida para nós mesmos, e assim que deixarmos eles ascenderem para o nível de “Video killed the radio star”, provamos que somos dignos do meio. Eles podem tirar nossa dignidade, mas não podem tirar nosso Johnny Yes Papa. Eu não vou deixar.

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@hiyalauren

DESCULPAS DE CELEBRIDADES

De toda a polêmica que os famosos criam pra si mesmos – geralmente atacando alguém ou falando de alguma coisa que não exigia a opinião deles – alguém já deu alguma desculpa decente pra qualquer merda na história? Além da Samantha Bee concedendo graciosamente que passou dos limites pelos olhos de algumas pessoas quando chamou a Ivanka Trump de “vadia fraca”, alguém já disse alguma coisa que mereceu um simples “sim, justo”?

A maioria das desculpas públicas vêm de celebridades mulheres que sem querer disseram algo gordofóbico numa entrevista, ou de reincidentes que fazem pouco progresso para “não ofender as pessoas”, então era melhor simplesmente parar de prestar atenção nessa gente imediatamente. Enquanto isso, qualquer pessoa que tem algo realmente importante para falar parece sair relativamente ilesa enquanto todo mundo no Twitter discute sobre o que a Lena Dunham não precisava ter dito dessa vez. Então vamos simplesmente acabar com isso. As únicas pessoas de quem quero ouvir desculpas públicas este ano são operadoras de transporte coletivo, o 1% e da pessoa que me passou clamídia. O resto do pessoal, pare de fazer e falar merda. Silêncio é o mood de 2019.

@emmagarland

TRABALHAR NO ESCRITÓRIO

Claro, o trabalho em si precisa acabar para salvar a humanidade e o planeta, mas enquanto isso, alguém pode me dizer qual o objetivo do trabalho presencial? Escritório é só um lugar com iluminação fluorescente e uma máquina de Nespresso. Claro, às vezes você precisa fazer uma reunião para planejar coisas e falar de má vontade com seus colegas, mas você podia fazer isso num café qualquer. No resto do tempo a gente poderia muito bem fazer nosso trabalho remotamente, longe de pessoas que foram aleatoriamente escolhidas para passar a maioria das horas do dia com a gente.

Os leitores que ainda falam cara a cara com pessoas no trabalho podem sentir que vão perder alguma coisa. Eles obviamente não têm Slack, que é o equivalente da interação real no trabalho do que o MSN era para falar com garotas na vida real na minha adolescência. Se vamos nos comunicar eletronicamente mesmo, podemos perfeitamente fazer isso do sofá de casa – além disso, não ter que pegar transporte para o trabalho significa que você tem mais tempo para ficar com seus amigos de verdade.

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É sempre a mesma coisa. Acordo um dia realmente comprometida em ser vegan e em menos de um segundo nas redes sociais eu vejo o PETA mandando um “discriminação contra animais é tão ruim quanto racismo e homofobia”, e imediatamente estou pronta pra pedir um X-Tudo com ovo. Nunca entendi por que organizações como essa acham que vão convencer alguém a se juntar à sua causa com esse tipo de conversinha (fracamente sem graça, o que é pior). É muito escroto e condescendente e, no final das contas, mina todo o vegetarianismo fazendo a gente parecer um bando de cuzões palestrinhas e desinformados, quando a gente só quer que o dia acabe logo e talvez, tipo, comer umas batatas fritas. E eles fazem essas merdas umas três vezes por ano! Até mais! E sempre é um tiro no pé! Pro lixo, PETA. Vai se foder.

@hiyalauren

YOUTUBERS FALANDO "GALERA"

Nem preciso explicar.

@joelgolby

O PODER QUE 'FORTNITE: BATTLE ROYALE' TEM NA MINHA VIDA

Fortnite Battle Royale é um videogame feito pra moleques de 12 anos que jogo com um foco e dedicação que você esperaria de um atleta olímpico ou um monge que fez voto de silêncio. Além disso, sou muito ruim de Fortnite e não acredito quantas horas de pura merda da minha vida eu coloquei nessa parada. Meu priminho ganha umas duas partidas por semana e me manda mensagem sempre que acontece, e eu ainda não tenho as reações rápidas o suficiente para construir uma rampa decente na metade do tempo. Sinto que Fortnite definiu 2018. A sétima temporada da quase história do jogo já começou, e mais uma vez o mapa deles mudou, e isso vai continuar em 2019, mas não vai parecer tanto a onda sísmica que foi ano passado; o jogo vai virar um barulho de fundo na indústria multimilionáriA dos downloads grátis – mas caramba, eu ainda quero minhas horas perdidas de volta. Quero todo o espaço que isso ocupa no meu cérebro de volta! Quero que o Explore do meu Instagram pare de só ter clipes de gente rodopiando! Eu queria não saber o que é um Lucky Landing, ou quem é o Ninja, ou o que significa uma lhama no contexto do jogo! Eu queria ter lido algum livro ano passado!

@joelgolby

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"GHOSTING"

Menos no sentido do ato em si – porque apesar de não ser a coisa mais legal de se fazer, às vezes é a única alternativa, a menos que você curta dizer pras pessoas que espera nunca mais ter que interagir com elas de novo –, mas na reação negativa a isso.

Ano passado, todo mundo ficou putasso com o fato de dar um perdido, o tal “ghosting”. Aplicativos de encontros começaram uma ofensiva contra a prática, avisando se você demora mais de alguns dias para responder. A reação das pessoas ao ghosting tem sido uma loucura. No começo do ano passado, deram o perdido numa mulher, e em vez de só mandar um texto de passagem e esquecer o assunto como todo mundo faz, ela mandou um currículo verbal pro cara e exigiu outro encontro.

O que quero dizer: se você se dá a esse trabalho ou faz papel de admin depois de cada encontro, fica claro por que te deram um perdido em primeiro lugar.

@nanasbaah

ELON MUSK

O Elon Musk teve um ano e tanto em 2018. Ele mandou um carro para o espaço. Ele vendeu 20 mil lança-chamas da marca dele. Ele fez as ações da própria companhia despencarem depois de dizer que ia privatizar a Tesla por $420 a ação numa tentativa de fazer a namorada dele, que é a Grimes, rir. Ele chamou um mergulhador herói da caverna da Tailândia de pedófilo, tuitou sobre vender “meias com bolsos para protetor labial e cartões” enquanto supostamente estava doidão de ácido, com a Azealia Banks presa em algum lugar da casa dele, e fingiu que não sabia o que era maconha, depois deu um pega num beck gordo no programa do Joe Rogan usando uma camiseta do Occupy.

2018 foi, acima de tudo, o ano de gente inacreditavelmente rica se safando desse tipo de coisa. E mesmo não dizendo que ver alguém com uma rede de $22,1 bilhões tuitando sobre shortinho de madrugada não me deu um certo prazer, esse cara é louco. Ele é um episódio do Workholics que ganhou consciência. Um post cheio de votos negativos no r/AWLIAS. Um homem com uma visão de vendedor de carro usado e todo o dinheiro do mundo, sendo elevado e destruído por seu próprio culto à personalidade. Pelo bem dele, não podemos deixar isso continuar além de janeiro.

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@emmagarland

MÚSICOS QUE ENCORAJAM TATUAGENS TOSCAS DOS FÃS

Uma coisa mais de nicho, mas não menos importante que as outras. E só passar pela página no Twitter de qualquer banda e você vai ver um monte de retuítes para fãs adolescentes sem noção compartilhando suas novas tattoos. Essa criançada inocente aparece num estúdio qualquer que nem pede identidade e tatua alguma letra besta ou logo tosco de banda, com as linhas sangrando e cores vazando pra todo lado. Tem artista que até tuíta: “Gente! Alguém aí tem tatuagem com as nossas músicas? Poste aqui que vamos compartilhar! Significa muito pra gente!” Dois anos depois, descobrem que a banda estava pedindo nudes pra meninas menores de idade ou foi filmada falando algo homofóbico, e esses moleques acabam com uma homenagem permanente para um pedófilo ou homofóbico.

Respeito adultos com tatuagens feias. Tenho tatuagens de adolescente que te dariam um aneurisma de vergonha alheia, então sei do que estou falando. Elas te dão personalidade, de certa maneira. Mas de outra: é uma puta vergonha. Sei lá que frase motivacional, um dano parcial ao meu corpo razoavelmente legalzinho, péssimas decisões. Uma cagada mesmo. Músicos ruins, por favor, parem de encorajar seus fãs a fazer tatuagens feias.

@hannahrosewens

LISTAS TIPO ESTA

2016 foi o primeiro ano que lembro do presente ser referido como um tipo de piada interna. O pessoal dizia “isso é tão 2016” quando outra celebridade morria, ou “vai se foder 2016” quando elegeram o Donald Trump. Tinha um monte de posts nas redes sociais do final de 2015 querendo “deixar este ano escroto pra trás”.

Essa é uma nostalgia meio irônica de uma realidade mais benigna recente a que vamos voltar rapidamente. Afinal de contas, o David Bowie ainda estava vivo em 2015. Mas isso é um fatalismo perigoso.

Não teve nenhum ano da história recente onde tudo não estava uma merda – onde você não tinha que desperdiçar sua vida num trabalho sem noção para ter acesso a necessidades básicas. Se você quer um ano em que as coisas eram menos ruins no geral para algumas pessoas, seria 2007, antes da crise financeira, quando as imobiliárias enfiavam menos a faca e os políticos não tinha degradado tanto a rede de segurança social. E mesmo esse relativo conforto era construído num sistema que explorava todo mundo e já estava tombando pro lado do abismo.

Essa ideia de que a gente pode deixar coisas em 2018 é muito 2016. Nossa realidade podre se reproduz num ciclo que precisa ser quebrado por ação pensada, não por um desejo de começo de ano novo.

@simonchilds13

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