Ashton Eaton é o que temos mais próximo de um Super-Homem

O decatlo é uma das modalidades mais cabulosas do atletismo. A reunião de 10 provas busca, assim, bem de boa, a perfeição física. Imagine que, para faturar uma medalha, você precisa superar toda a galera que tá ali do seu lado nos 100 metros rasos, salto em distância, arremesso de peso, salto em altura e 400 metros rasos. Cansa, né? Calma que esse é só o primeiro dia. Ainda tem 110 metros com barreiras, lançamento de disco, salto com vara, lançamento de dardo e 1500 metros de corrida pra fechar a conta. Pois é, não é pra qualquer um. A pessoa que assume o topo do pódio no decatlo ganha, além da medalha, o secreto carimbo de "atleta mais completo, embaçado e zica de todo o planeta". O atual dono dessa marca é o americano Ashton Eaton, o Super-Homem do atletismo mundial. Aos 28 anos, ele se prepara para, se tudo der certo, repetir o feito de quebrar os próprios recordes. Em 2012 ele se superou — e quebrou o recorde mundial — em Londres com 9039 pontos (são 13.471 no total, distribuídos de acordo com a prova). Ano passado, voltou a bater a própria marca com 9045 pontos em Pequim. Agora a missão é, acredite se quiser, melhorar nas dez provas. "Adotamos uma abordagem muito estratégica e combinamos vários treinos em dias diferentes", conta Ashton. "Na média fazemos duas sessões por dia. Segunda trabalhamos arrancadas e arremesso de peso. No outro dia pode ser corrida com barreira e salto em distância. Geralmente faço um treino de corrida e trabalho mais uma ou duas modalidades."

Como bom Super-Homem, o atleta mais completo do mundo tem também sua criptonita – aquela modalidade que exige mais do seu corpo e da sua concentração. "Isso está sempre mudando", diz. "Agora estou lutando mais com o salto em altura. Antes era o lançamento de dardo. As coisas são cíclicas. Tem que continuar lutando para alcançar o sucesso em todas as modalidades." Para sua vantagem, os pontos fortes também são cíclicos. Ele sabe que a precisão não vem fácil: é algo a se buscar todos os dias, treino a treino, sempre buscando aprimorá-la."Minha performance agora está melhor nos trechos de corrida. A prova dos 400 metros em 2015, quando quebrei o recorde mundial, foi minha melhor marca, mas, por exemplo, em 2012, quando quebrei o recorde, minha melhor prova foi o salto em distância."

O voo de Ashton Eaton começou em 2011 com uma prata no mundial em Daegu, na Coreia do Sul. No ano seguinte, nas Olimpíadas de Londres, ele estava em primeiro lugar. A cena se repetiu novamente no Mundial de Moscou, em 2013, e no Mundial de Pequim, em 2015. Há pelo menos quatro anos ele sustenta o título de monstrão do decatlo e, agora, chega ao Rio de Janeiro como o homem a ser batido. Ele já tem uma estratégia para lidar com a velha retórica de estar no topo, permanecer no topo e ser devorado pelo topo. "Estou sempre me perguntando se é mais fácil chegar ao topo ou permanecer nele", diz. "Os dois cenários são incrivelmente desafiadores, mas subir até o topo tem menos pressão, porque há menos expectativa em cima de você. A partir do momento que você alcança essa posição, as expectativas aumentam e, portanto, aumenta a pressão."

Tá, mas qual é a treta para ser o melhor do mundo, superar todos os outros atletas de sua modalidade e ainda evoluir? Ashton dá o papo. "Para eu me manter lá em cima, busco as grandes performances, mas mantenho as expectativas baixas. Isso faz com que busque o meu melhor mas não espere que isso aconteça. Esse pensamento me empurra em busca da superação." Com a expectativa lá embaixo e o nível do treino nas estrelas, Ashton Eaton desembarca em breve no Brasil e, mesmo que possa ser superado, uma coisa é certa: está focado para continuar como atleta mais completo, embaçado e zica de todo o planeta.