FYI.

This story is over 5 years old.

quadrinhos

O Que o Investimento da Marvel em Diversidade de Super-heróis Realmente Significa

Isso é inspirado numa vontade honesta de torna esses títulos mais progressivos e representativos ou simplesmente seguindo uma tendência de mercado?

Todas as imagens cortesia da Marvel Comics.

Recentemente a Marvel Comics revelou todos os seus lançamentos para o outono nos EUA. Esses novos quadrinhos, chegando depois que o universo atual da Marvel se autodestruiu, apresentam novas escolhas ousadas. Antes relegados a cenários hipotéticos e narrativas de universo paralelo, mulheres e pessoas de etnias variadas estão tomando o palco no reboot da Marvel. Com mais de 55 edições recomeçando do número um, a Marvel está olhando o mundo à sua volta e fazendo algumas mudanças importantes em lugares como Asgard e a Zona Negativa. Mas isso é inspirado numa vontade honesta de torna esses títulos mais progressivos e representativos ou simplesmente seguindo uma tendência de mercado?

Publicidade

Ano passado a Marvel revelou sua nova Thor mulher no The View, e o chefe de criação Joe Quesada anunciou que o novo Capitão América era negro no The Colbert Report. Desde então, temos visto um impulso forte da Marvel para a diversidade. Das 45 novas capas reveladas, 15 apresentam diretamente protagonistas mulheres ou pessoas não-brancas. O número pode parecer pequeno à primeira vista, mas esse placar nos quadrinhos é uma propaganda da Benetton quando olhamos para a história da mídia. Dos mais de 35 quadrinhos lançados pela Marvel em 1990, apenas um, A Sensacional Mulher-Hulk, apresentava uma protagonista, e só uma série de quatro quadrinhos do Pantera Negra, Black Panther: Panther's Prey, apresentava um protagonista negro. O universo da Marvel está mudando de uma maneira inclusiva inédita. Ms. Marvel é uma jovem muçulmana-americana de Jersey City; Hawkeye e Wolverine são mulheres agora, e os Vingadores têm um time formado só por mulheres.

De todas as mudanças, a mais comentada parece ser a introdução de Miles Morales como Homem-Aranha no principal universo da Marvel. Morales, que é filho de pai negro e mãe porto-riquenha, antes era o Homem-Aranha do universo Ultimate, que era onde a Marvel testava novas ideias sem comprometer seu universo "principal". Mas agora eles estão trazendo um Homem-Aranha negro para o primeiro plano de sua franquia. Como o roteirista da Marvel Brian Michael Bendis explicou para o Daily News de Nova York: "Nossa mensagem tem que ser esse não é o Homem-Aranha com um asterisco, é o verdadeiro Homem-Aranha para crianças e adultos negros e para todo mundo".

Publicidade

Essa, claro, não é a primeira vez que personagens mudam de gênero ou trocam de etnia. Em 2003, antes de toda a pressão cultural de hoje por diversidade, a Marvel fez uma série limitada chamada Truth: Red, White and Black, que apresentava um Capitão América negro. Mas são exceções que provam a regra: mulheres e pessoas não-brancas nunca receberam um espaço justo nos quadrinhos. (Para provar, veja o Tumblr The Hawkeye Initiative, no qual fãs ilustram retratos problemáticos de mulheres nos quadrinhos trocando as heroínas por heróis homens.)

Destaques ou não, de outro sexo ou não, o problema até agora foi o poder de permanência desses heróis. Tivemos um Capitão América negro por pouco mais de um ano, até a Marvel voltar para o Steve Rogers original, loiro de olhos azuis. E mesmo que a DC Comics tenha nos dado um Lanterna Verde negro em 1971, ele frequentemente era ofuscado pelo Hal Jordan. E com essa nova fornada de super-heróis diversos, fico imaginando: eles vão continuar por aqui?

O ímpeto por diversidade sempre esteve ligado a uma consciência da base da pirâmide. Numa entrevista recente para a NPR, Dan DiDio, coeditor da DC, explicou que as tentativas deles com novos personagens vieram depois de meia década de vendas estagnadas.

"Sabemos que nossos personagens foram criados 40, 50, 60, 70 anos atrás", ele diz na entrevista. "O mundo mudou e temos que mudar nossos personagens com ele e diversificar nosso elenco, nossa voz, para realmente poder nos conectar com o maior número possível de leitores."

Publicidade

E aí temos o fato inegável de que esses quadrinhos com diversidade recebem muito mais atenção da imprensa que os quadrinhos comuns. Quando a mulher Thor foi anunciada, váriaspublicaçõesmainstream correram para cobrir a história. De repente, inclusão virou isca de cliques.

Vendo esse impulso pela diversidade – e a cobertura em volta disso – é difícil não se sentir meio cético. Afinal de contas, se a DC pôde matar o Super-Homem por um ano para aumentar as vendas, a Marvel não poderia trazer uma Wolverine mulher por razões similares?

Numa conversa com o A.V. Club, a escritora da Ms. Marvel G. Willow Wilson deu uma visão menos cínica. "Acho que estamos num ponto na história dos quadrinhos onde há uma abertura sem precedentes para a diversidade", ela disse. "E devemos agradecer aos fãs. Falamos muito sobre inclusão de cima para baixo do lado das editoras, mas, na realidade, essa conversa está sendo comandada pelos fãs."

Para a Marvel, esses fãs estão vindo às pencas – ao menos nos EUA. Segundo o Los Angeles Times, a primeira edição com a Thor vendeu mais de 200 mil cópias e Spider-Gwen #1, que pega a antiga namorada do Homem-Aranha e a transforma numa super-heroína, vendeu mais de 250 mil unidades. Ms. Marvel #1, que acompanha a nova heroína adolescente Kamala Khan, foi best-seller do New York Times e indicada para seis Prêmios Eisner.


Assista nosso documentário sobre a elite de guarda-costas mulheres da China:

Publicidade

A grande pergunta é: os produtores de quadrinhos estão progredindo com o tempo ou simplesmente se adaptando ao mercado? Acho que a resposta é: as duas coisas. O que levanta uma segunda pergunta mais complicada: devemos aplaudir a busca de uma empresa pela inclusão quando isso visa aumentar as vendas? E como reconciliamos intenção versus resultado? Porque se a Marvel está ou não bancando o supervilão, agora ela tem mais quadrinhos apresentando personagens diversos que qualquer outra grande editora.

E esses quadrinhos apresentando diversidade são realmente ótimas leituras, na minha opinião. As histórias são mais ricas, as lutas mais interessantes. De Kamala lutando para conciliar sua religião e seu estilo de vida de heroína, a nova Thor socando um cara por "dizer 'feminista' como se fosse um palavrão", parece que podemos parar de nos preocupar se a namorada do cara branco vai ou não ser sequestrada.

Não posso falar das edições e séries que ainda não chegaram às prateleiras, mas pelo que vi em Thor, Ms. Marvel e Spider-Gwen, esses quadrinhos são alguns dos melhores que li em anos. Se queremos que as histórias de super-heróis continuem diversas, qualidade é a chave. Se os quadrinhos são bons, e vendem bem, vamos continuar com a nossa Hawkeye. É pedir demais que os filmes da Marvel, eternamente centrados nos caras brancos, sigam a deixa um dia? Se o número de vendas e a atenção sobre esses títulos inclusivos dão alguma ideia, podemos não estar longe disso.

No momento, há grandes mudanças institucionais acontecendo na Marvel. Eles cometeram alguns erros recentemente, e finalmente se responsabilizaram por eles. A reação cultural é a maior que já vimos na história dos quadrinhos, porque mais pessoas que nunca estão lendo quadrinhos e agora parece que todo mundo pode, finalmente, ler quadrinhos. Quanto mais pressionamos como uma cultura de leitores conscientes, mais mudanças veremos entre escritores, artistas e editoras. Quer continuar com seu elenco diverso de personagens da Marvel? Compre os quadrinhos quando eles fizerem isso direito e grite com eles quando fizerem errado.

Siga o Giaco Furino no Twitter.

Tradução: Marina Schnoor