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A Equipe do Rob Ford Contratou um Hacker Para Destruir o Vídeo Dele Fumando Crack

Uma fonte anônima abordou a VICE afirmando ter sido contratado pelo diretor de comunicação de Rob Ford, o controverso prefeito de Toronto, para hackear um site. Temos as trocas de e-mail.

Amin Massoudi com Rob Ford. Foto via Sun News.

ATUALIZAÇÃO: Aproximadamente quatro horas depois de esta matéria ter sido publicada, Amin Massoudi forneceu seu comentário por e-mail. Ele negou completamente ter qualquer conhecimento sobre os eventos detalhados na história a seguir e alegou que “a coisa toda é falsa”.

Por razões desconhecidas, Amin também mandou o mesmo e-mail para a rede Global News do Canadá e para o site Maclean's, que o publicou integralmente. Sua mensagem não explicava por que ele não respondeu nossas ligações e mensagens nos últimos quatro dias.

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Mark Towhey, o ex-chefe de equipe do prefeito Ford, também negou, via Twitter, qualquer conhecimento sobre suas implicações nas questões descritas a seguir. Ele também não tinha respondido nossos telefonemas e mensagens nos últimos quatro dias.

Depois de ler e considerar cuidadosamente essas declarações, a VICE mais uma vez entrou em contato com Amin e Mark, oferecendo outra oportunidade de esclarecer as questões levantadas por esta matéria.

Nem o prefeito Rob Ford nem seu irmão, Doug, quiseram comentar a história.

Com informações adicionais de Rocco Castoro.

No final de julho, uma fonte anônima abordou a VICE afirmando ter sido contratado por Amin Massoudi, o diretor de comunicação de Rob Ford, o controverso prefeito de Toronto, para hackear um site.

A fonte – que vamos chamar de “o hacker” – disse que Amin pediu que ele descobrisse a senha de um diretório on-line particular, onde supostamente estaria uma cópia digital da filmagem, agora infame, do prefeito Ford fumando um cachimbo de crack. Ford duvidava publicamente da existência do vídeo até domingo passado.

A VICE teve acesso a um registro de e-mail que, de acordo com o hacker, detalha sua correspondência com Amin entre 18 e 31 de maio deste ano. Quando contatado pela VICE, o hacker confirmou a validade desses e-mails, mostrando as transcrições, mas também disse que a história era mais complicado do que parecia. Ele concordou em falar conosco, contanto que não revelássemos sua identidade, já que isso poderia incriminá-lo.

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Para quem não está por dentro da calamidade intoxicante que é a existência contemporânea de Rob Ford, ontem ele admitiu, sem rodeios, que fumou crack durante uma “bebedeira”. Essa bomba veio logo depois de sua declaração da semana passada ao Chefe de Polícia de Toronto, Bill Blair. Ford confirmou que a fita, que teve sua existência inicialmente divulgada pelo site Gawker e o jornal Toronto Star, realmente existe e que o mostra fumando crack. Domingo passado, o prefeito se desculpou com a cidade de Toronto em seu programa de rádio semanal e pediu que a fita fosse divulgada ao público “imediatamente”.

Depois desses acontecimentos recentes, acreditamos que já era hora de publicar algumas partes do arranjo entre Amin e o hacker.

A correspondência que ele nos mandou destaca as tentativas do hacker, sob as ordens de Amin, de tentar se infiltrar na conta hospedada pelo Bugs3, um serviço gratuito de hospedagem com “espaço ilimitado”. A VICE consegui verificar a existência da conta, que estava registrada com o nome http://goonies.bugs3.com. Quando fomos informados da existência da correspondência, o site ainda estava em funcionamento. Desde então, o site foi tirado do ar.

O subdomínio “goonies” pode se referir a Dixon St. Goonies, nome de uma gangue de rua que foi perseguida e presa numa grande operação contra traficantes e membros de gangue, realizada em Toronto no mês de agosto – uma operação que incluiu uma batida na casa onde a fita do prefeito usando crack foi gravada.

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A correspondência entre o hacker e Amin começou com um e-mail enviando pelo diretor de comunicação, de um endereço oficial da Cidade de Toronto. A primeira mensagem, enviada em 18 de maio de 2013 às 17h05, dois dias depois da história vazar no Gawker, diz:

“Tenho algo que gostaria que você visse. Acho que você sabe o que andam falando por aí. Qual é a melhor maneira de nos falarmos? T disse que você podia nos ajudar novamente.”

Apesar de a mensagem ter sido enviada de um endereço de e-mail oficial da Cidade de Toronto, isso não pode ser verificado pela prefeitura. Isso é o resultado direto da promoção de Amin como porta-voz e diretor de comunicação do prefeito, que aconteceu em 27 de maio. No dia 18 de maio, quando esse e-mail foi aparentemente enviado, ele ainda trabalhava para o conselheiro Doug Ford, o irmão de Rob Ford. A seguir, está o que a Cidade de Toronto tem a dizer sobre os e-mails de Amin enviados antes de sua promoção:

“Quanto aos registros de e-mail de Amin Massoudi, saiba que todos os registros anteriores à entrada do senhor Massoudi no escritório do prefeito, em 27 de maio, são considerados registros pessoais do conselheiro [Doug] Ford. Esses registros não estão sob a custódia ou controle da Cidade. Portanto, o acesso não pode ser fornecido.”

Doug Ford não quis comentar o caso com a VICE.

Infelizmente, verificar esse e-mail por meio da prefeitura é a única coisa que poderia provar que a transcrição é legítima, sem qualquer sombra de dúvida. A VICE acredita que a transcrição é real. O hacker disse não ter os cabeçalhos da conversação porque destruiu a conta antes de decidir divulgar essa informação para a VICE.

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Comparamos exaustivamente os e-mails supostamente enviados por Massoudi com notas públicas e comentários do diretor de comunicação no perfil dele no Facebook. Os dois estavam cheios de erros gramaticais, ortografia pobre e uma tendência similar ao abuso de elipses. Desde sexta-feira, Massoudi se recusa a responder mensagens de voz e e-mails da VICE pedindo para ouvir sua versão da história.

Sobre o conteúdo do e-mail, o hacker disse a VICE que o “T” se refere a Mark Towhey, ex-chefe de equipe de Ford, que vem cooperando com a polícia desde que foi demitido em 23 de maio. Na sexta-feira passada, sugiram notícias de que Towhey insinuou uma ligação entre o assassinato de Anthony Smith e a fita do prefeito fumando crack. Os amigos de Smith dizem acreditar que o vídeo estava armazenado no celular dele na época de sua morte. Mark Towhey também se recusou a falar com a VICE.

Durante uma de nossas entrevistas com o hacker em agosto, ele disse que Amin e Ford tinham certeza de que o diretório goonies era o último lugar onde o vídeo existia, já que o telefone usado para filmar o episódio tinha “sumido”. O hacker afirma que Amin confirmou essa informação por meio de uma mensagem de texto para ele.

De acordo com a transcrição recebida pela VICE, imediatamente após o envio do primeiro e-mail do endereço oficial do diretor no @toronto.ca, Amin enviou outra mensagem, informando ao hacker que criaria outra conta de e-mail.

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O e-mail seguinte foi enviado ao hacker de uma conta no Yahoo, que foi excluída depois: “Ei, é o Amin”, ele escreveu – uma apresentação atrapalhada que assustou o hacker:

“Cara… parte do objetivo aqui é manter o segredo, mas fica difícil com você mandando seu primeiro nome no e-mail…

De qualquer maneira, e aí… o que está acontecendo nessa história? É verdade? e se sim… PQP!?”

Essa conversa foi mandada em 19 de maio, três dias depois que o Gawker publicou que John Cook, seu editor-chefe, tinha assistido a um vídeo de Rob Ford fumando o que parecia ser crack juntamente com traficantes condenados.

Amin respondeu rapidamente, primeiro se desculpando por comprometer a situação supostamente secreta:

“Ops… é só deletar, acho.

Bom, como você sabe, não posso confirmar se o vídeo é real ou não, só ouvimos que tem algo flutuando por aí..

o chefão disse que alguém tentou chantageá-lo mês passado, mas disse que era sobre maconha.

Falei com ele novamente esta manhã e ele mencionou um site, ou uma coisa assim, e um vídeo que pode estar nisso.. ele queria saber se você conhece alguém que pode nos ajudar a encontrar isso.

Precisamos de segredo absoluto, mas ele está disposto a pegá-los de jeito. Te conto mais em breve, se você achar que pode nos ajudar”

Quando o hacker respondeu, perguntando, especificamente, que serviço Amin estava procurando, a resposta foi a seguinte:

“Você sabe como deletar algo de um servidor de site? ou conhece alguém que faz isso?

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Posso te mandar o endereço para você dar uma olhada e dizer se é possível, estamos procurando opções agora.”

O hacker não tinha certeza se conseguiria fazer o serviço:

“Caramba.. ah, tecnicamente é possível, mas tenho que saber que site é & ver isso… etc. Se não eu, tenho um colega que provavelmente pode ajudar.”

Cerca de uma semana se passou sem nenhuma conversa entre Amin e o hacker. Então, no dia 27 de maio, dois dias depois que o Globe & Mail publicou uma história detalhando o passado de Doug Ford como traficante de médio porte de haxixe em Etobicoke, Ontário, o hacker entrou em contato com Amin com um novo assunto: “Puta Merda!!”, continuando:

“Acabei de voltar & ver as notícias do final de semana.. o que está acontecendo? limpando a casa? caramba.

E a história do império do haxixe no Globe?! hehe… Faz tempo que não fumo um haxixe do bom, tem algum contato?

Tenho um amigo que é bom nesse tipo de coisa vindo pra cá amanhã. Não se preocupe, também não vou dizer nada: )

O Gawker também levantou o $.. qual é o plano agora?"

Nesse ponto, o escândalo já tinha atingido o pico. Uma matéria sobre a história de violência e tráfico na família Ford tinha sido publicada no Globe & Mail, ao mesmo tempo em que o Gawker levantou $200 mil para comprar a fita dos gangsteres de Toronto.

As coisas deviam estar agitadas no escritório do prefeito na época, como o e-mail seguinte de Amin, em 27 de maio, ilustra:

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“Desculpe, foi um dia ocupado, acabei de sair. Sim, isso aqui virou um manicômio.

Eles estão tirando todos os esqueletos do armário, parece. Nunca vi esses caras tão putos.

Como eu disse, não se preocupe com a coisa do Gawker. Se o vídeo vazar, não vai ser desse jeito.”

Amin Massoudi, o diretor de comunicação de Rob Ford, confraternizando com um anônimo numa festa. Imagem do perfil de Amin no Facebook, que foi deletado desde então.

Amin também comentou as afirmações feitas por Ford no dia 24 de maio, descartando a possibilidade de ele ter usado crack e acrescentando que não podia comentar sobre um vídeo “que nunca vi ou que sequer existe”.

“Não tive nada a ver com essa declaração, mas foi uma das piores coisas que já ouvi. E ouço um monte de declarações idiotas na prefeitura.

Império do haxixe parece bom agora.

Preciso que você continue tentando e faça isso, ou consiga quem faça, desde que você ache que pode manter o máximo segredo possível.

Eles dizem que esse pode ser o último lugar onde isso está. Disseram que se você fizer isso, eles te dão a grana do Gawker mais 10%, pra você não ficar tentado a pisar na bola.”

Esse e-mail foi escrito assim que o Gawker conseguiu levantar $200 mil para comprar a fita do gangsteres, graças a uma campanha um tanto equivocada da IndieGoGo. O bônus de $20 mil seria para evitar que o hacker traísse a confiança dos Fords e fosse até a Gawker coletar mais dinheiro. Quanto ao “Crackstarter” do IndieGoGo, o Gawker acabou desistindo de comprar a fita e mandou os $200 mil (menos as taxas de transação do IndieGoGo e do Paypal) para várias instituições de caridade de Toronto.

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O hacker disse que um amigo o ajudou a invadir o site usando todos os log ins e senhas conhecidos no universo, mas insinuou na entrevista que seu amigo não sabia do suposto conteúdo do site.

“Ele armou alguns scripts”, disse o hacker. “E eu deixei isso rodando no meu PC. Demorou uma semana e pouco. Um dia eu acordei e [o log in e a senha] estavam lá.”

Conseguimos verificar a conta comprometida on-line quando o hacker nos abordou; no entanto, por razões legais, não tentamos nos logar. Mas o hacker fez isso, fornecendo screenshots do conteúdo protegido por senha do diretório e disse que baixou dois arquivos de vídeo criptografados no formato GreenForce Player. Para quem não entende muito de criptografia, o formato GFP é tão seguro que seus criadores ofereceram um recompensa – o código fonte do GFP – para quem conseguir decifrá-lo. Até agora, a recompensa nunca foi reclamada.

O hacker foi incapaz de deletar qualquer arquivo de vídeo do site e nunca recebeu a recompensa oferecida por Amin. O conteúdo do segundo vídeo é um mistério, apesar de o chefe de polícia de Toronto confirmar que tem um segundo arquivo digital relevante. As especulações rolando por aí são de que o segundo vídeo se trata de uma sex tape com Rob Ford.

No dia 31 de maio, por e-mail, Amin disse ao Hacker que “o chefão” tinha o link e a informação de log in da conta de armazenamento, conseguida com uma pessoa que “tinha sido pega no oeste”, e estava preocupado que a prisão pudesse “ter um impacto no site”. Esse e-mail foi mandado um dia depois que um homem chamado Hanad Mohamed foi preso em Fort McMurray, Alberta, depois de fugir de Toronto.

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Hanad tinha sido acusado anteriormente do assassinato em primeiro grau de Anthony Smith, mas as autoridades canadenses rebaixaram a acusação para lesão corporal e cumplicidade nos disparos não fatais contra um homem chamado Muhammad Khattak – que aparece junto com Rob Ford em frente à casa onde a fita dele usando crack foi gravada.

Hanad também foi acusado de cumplicidade no homicídio, já que a polícia acredita que ele tirou Nisar Hashimi – o homem de 23 anos que se entregou pelo assassinato e que cumpre, atualmente, nove anos de prisão pela morte de Anthony Smith – da cena do crime. Três semanas depois da prisão de Hanad, no mesmo apartamento onde a polícia o encontrou, outro homem, Hanad Hussein, foi jogado da janela do sexto andar.

De acordo com o hacker, Amin começou a ficar cada vez mais ansioso e passou a pressionar o hacker para terminar o serviço, dizendo que estava considerando outras opções:

“Um amigo me deu alguns outros nomes em quem podemos confiar, então poderemos ter mais pessoas como você trabalhando nisso em breve.

Quem conseguir deletar os arquivos ganha o prêmio. Mas a polícia não sabe do site, então não há pressa.”

Depois que Amin anunciou que tinha organizado uma competição de hackers para destruir a fita do prefeito usando crack, ele pediu ao hacker ajuda para encontrar “uma bola”. Mesmo não tendo certeza sobre que tipo de bola ele estava se referindo, isso, com certeza não tinha nada a ver com bilhar:

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“Quero pedir se você pode conseguir uma bola para mim amanhã, essa é a outra coisa. Me deixe saber se você consegue isso ASAP.”

O hacker então expressou seu desapontamento com Amin.

“Hummm.. você acha que é sábio

A) trazer mais gente para esse trabalho

B) comprar ou me pedir para comprar drogas no meio dessa merda toda

Cara. sem chance. já estou colocando o meu na reta por essa merda, pense

Vou me arriscar que algum repórter do Star esteja espiando você & roube minha foto?”

Com o hacker se preocupando que outras pessoas pudessem comprometer o segredo dessa operação fracassada, Amin escreveu outro e-mail a ele dizendo: “Conheço os outros caras há muito tempo, então posso confiar neles. Eu não disse pra eles que tenho você trabalhando na mesma coisa”.

O hacker respondeu:

“Desde que você conheça esses caras e mantenha meu nome fora da conversa com eles, acho que você pode fazer o que puder. Mas se gastei todo esse tempo e um deles acabar conseguindo… ainda vou querer alguma compensação pelo meu tempo… cara.”

Parece que Amin e o hacker perderam contato assim que ficou claro que ele não era capaz de excluir o vídeo do site, apesar de o hacker dizer que Amin queria que ele “continuasse fazendo coisas desse tipo para ele” no futuro.

Novamente, Amin – o diretor de comunicação do prefeito – não respondeu aos muitos pedidos da VICE para comentar a história. Ele também apagou seu perfil no Facebook. Rob e Doug também ignoraram nossos pedidos para comentar o caso. E Mark Towhey, o ex-chefe de equipe de Rob Ford, também não respondeu nossos pedidos por uma declaração.

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A VICE gostaria que qualquer uma das partes acima mencionadas se manifestasse caso qualquer uma das informações acima estiver incorreta. Vamos atualizar a história de acordo.

Siga o Patrick no Twitter: @patrickmacquire

Siga o Rocco no Twitter: @rocco_castoro

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