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Por que as taxas de suicídio entre jovens seguem crescendo no Brasil?

Ao lado de especialistas de saúde, pessoas que tiveram pensamentos suicidas na adolescência tentam entender e conter o alto índice de autocídio infanto-juvenil pelo país.
Anastácia Ottoni, 28 anos, afirma em seu livro que pensava em tirar a própria vida na adolescência

Werther é apaixonado por Charlotte, que está prometida em casamento para Albert. Desiludido, o rapaz decide tirar a própria vida. É assim, em apenas duas frases, que pode ser descrito o romance Os Sofrimentos do Jovem Werther, escrito por Johann Wolfgang Goethe e publicado em 1774. Reza a lenda que, por ocasião de seu lançamento, o livro teria desencadeado uma onda de suicídios juvenis na Alemanha. Mito ou realidade, o personagem-título inspirou, dois séculos depois, a criação do termo "Efeito Werther". Segundo o sociólogo americano David Phillips, que cunhou a expressão, a divulgação pela mídia de um caso de suicídio pode induzir jovens emocionalmente vulneráveis a seguir o exemplo. É por essa razão que a imprensa (quase) nunca toca no assunto.

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Mas os tempos estão mudando. Desde que o Netflix disponibilizou a série 13 Reasons Why, baseada no livro homônimo de Jay Asher, suicídio juvenil deixou de ser tabu no Brasil. E já não era sem tempo. Dados do Mapa da Violência, do Ministério da Saúde, revelam que, entre 2002 e 2012, as taxas de suicídio entre crianças e pré-adolescentes entre 10 e 14 anos subiram 40%. Na faixa dos 15 aos 19, o aumento foi de 33,5%.

"Crianças e adolescentes não estão entre os que mais cometem suicídio no Brasil. A faixa etária que concentra os maiores índices vai dos 19 aos 45. Mas as taxas de suicídio infanto-juvenil são as que mais cresceram nos últimos 10 anos", dá o alerta o psiquiatra Neury José Botega, do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mas por que os nossos jovens estão se matando cada vez mais? "É uma combinação de fatores, que engloba desorganização familiar, sentimento de abandono, quadro de depressão e consumo de drogas", enumera o especialista.

Para quem ainda não sabe do que se trata a série do Netflix, 13 Reasons Why conta a história de Hannah Baker (Katherine Langford), uma estudante de 17 anos que decide se matar após sofrer bullying na escola. No catálogo do serviço de streaming desde 31 de março, a série coleciona polêmicas. Lá fora, chegou a ser proibida por autoridades no Canadá e na Nova Zelândia. Por aqui, dividiu opiniões. Por um lado, o Centro de Valorização da Vida (CVV) registrou um aumento de 170% no número de visitas diárias ao site, passando de 2,5 mil em março para 6,7 mil em abril, e de 445% no total de e-mails recebidos, saltando de 55 para 300 no mesmo período. Por outro, o Ministério Público da Paraíba (MPPB) recomendou boicote à série. "Crianças e adolescentes não deveriam assistir, por conter cenas muito impactantes", justificou a promotora Soraya Escorel.

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