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Chadwick Boseman transformou as vidas de crianças negras nas favelas do Brasil

Jovens negros lotaram os cinemas para assistir ‘Pantera Negra’ e se viram em Wakanda.
Brazil Favelas Chadwick Boseman
AFP via Getty Images.

Jackson Duarte, 7 anos, foi assistir Pantera Negra no cinema com a mãe duas vezes. O filme, estrelado pelo falecido Chadwick Boseman, mudou Duarte, que mora num subúrbio do Rio, para sempre.

“Somos sujos” e “Não quero ser negro”, era algumas das coisas que Jackson costumava dizer, os pais dele contaram a VICE News.

Pantera Negra acabou com isso”, disse o pai do garoto, Alan Duarte, nascido e criado no Complexo do Alemão. “O filme o ajudou a ter uma referência de sua cor, de sua raça, e ver a força disso.”

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Por isso Duarte, como muitos outros moradores das favelas do Brasil — bairro vibrantes mas estigmatizados de classe trabalhadora de maioria negra nas periferias das maiores cidades do país — viu um paralelo em Wakanda.

Jackson e seu pai logo começaram a cruzar os punhos fechados ao estilo de Wakanda depois de cada “toca aqui”.

A morte de Boseman, 43 anos, semana passada deixou muitos brasileiros abalados. Para as favelas de todo o país, o lançamento de Pantera Negra marcou uma guinada de representação cultural.

Quando o filme foi lançado em 2018, líderes e organizadores das comunidades agiram imediatamente, fazendo financiamento coletivo para pagar os ingressos e passagem de ônibus para os cinemas. Para as crianças das favelas, muitas que nunca tinham visto um filme na tela grande, essa foi uma chance de ver um herói que parecia com elas. Rene Silva, fundadora do jornal comunitário Voz das Comunidades, organizou uma sessão para 300 crianças, projetando o filme no alto da favela Vila Cruzeiro.

Nas favelas da zona leste de São Paulo, a Biblioteca Comunitária Assata Shakur realizou sessões locais com outras atividades de arte para crianças. Ver um elenco quase totalmente negro fez as crianças “se sentirem representadas”, disse a auxiliar da biblioteca Maria Vitória Esquivel, 18 anos. “Elas faziam comentários como ‘Ele tem o cabelo igual ao meu’, e ‘Quero ser o Pantera Negra’. Essas reações só fortaleceram nosso desejo de continuar trabalhando com representações positivas.”

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E não foi apenas para as crianças. O filme encantou uma geração de jovens adultos por todas as periferias do Brasil.

“É mais que apenas um filme”, disse Anna Verena, artista e designer gráfica de 22 anos de Feira de Santana, uma das poucas cidades do interior do nordeste com salas de cinema comerciais. Os espectadores vieram de várias partes da Bahia, planejando viagens de um dia inteiro para assistir o filme.

“Foi a primeira vez que vi tantas pessoas negras sonhando com um universo de ficção, e tendo um universo com o qual se identificar”, ela disse.

“Foi uma coisa que nunca senti na vida”, disse Ivana Dorali, jornalista de 34 anos de Salvador. “É transformador, se ver num papel de heroísmo, de liderança. Isso muda nossa visão sobre nós mesmos, sobre quem você é e o que é capaz de fazer.”

Mesmo depois da morte de Boseman, disse Alan Duarte, o legado do Pantera Negra dele continua vivo.

“Para as crianças das favelas e periferias, ele nos deu argumentos, nos deu força para lutar contra o racismo no resto da cidade, dizendo que somos super-heróis. Que somos Wakanda.”

Imagem do topo: Um homem passa de bicicleta por um mural em homenagem ao falecido ator americano Chadwick Boseman na Lapa, Rio de Janeiro, 02 de setembro de 2020. Foto por Mauro Pimentel /AFP via Getty Images.

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