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Tecnologia

​Snowden no FutureFest: Espionagem Não Impedirá o Próximo Ataque Terrorista

Programas de espionagem atendem a um propósito, mas não se trata de segurança pública.
Crédito: autora do texto

Programas de espionagem atendem a um propósito, mas não se trata de segurança pública.

Pode ser uma surpresa, mas Edward Snowden defendeu a espionagem como algo necessário; ele só quer que ela seja uma vigilância real – não que seja feita contra todos nós.

Em uma entrevista transmitida no FutureFest em Londres, Snowden disse que é importante notar que "alguns destes programas servem a determinados propósitos, então temos que ver onde traçar seus limites".

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E essencial para isso é compreender o real propósito da vigilância em massa: os alvos não são terroristas e ela nunca impediu um ataque. Os terroristas do caso Charlie Hebdo, do Parlamento Canadense e dos tiroteios na Austrália todos eram conhecidos de seus governos, mencionou. "Eles não vão impedir os próximos ataques também", disse. "Porque não são programas de segurança pública. São programas de espionagem."

Porém, ele notou que "são extremamente valiosos em termos de espionagem". A espionagem tem benefícios, disse, dando aos governos informações sobre tudo desde negociações de comércio à exércitos estrangeiros. "Algumas destas informações são valiosas e você gostaria de tê-las em mãos… Mas isso precisa ser debatido em público", declarou.

Enquanto isso, Snowden chamou a atenção do governo para que pare de tentar "dar uma de esperto" ao se referir a vigilância como "coleta em massa" – como feito pelo Comitê de Inteligência e Segurança do Reino Unido em relatório da semana passada sobre o assunto.

"Mas a pergunta que nós sociedade temos que nos fazer é, nossos direitos coletivos valem uma pequena vantagem em nossa habilidade de espionar?", adicionou Snowden.

É possível debater o tema quer o governo queira ou não – e aqui no Reino Unido, o secretário de Relações Exteriores Phillip Hammond disse que o debate "não deve ter permissão para seguir indefinidamente".

Snowden destacou que a vigilância em massa é "um dos poucos pontos no debate político global no qual temos uma escolha". Se você não quer viver em um inferno distópico onde governos do mundo todo podem ver tudo que você diz ou faz, há algo que você pode fazer a respeito: usar criptografia de ponta-a-ponta.

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"Acho que é mais provável que não, na verdade", disse, "que a parte técnica do argumento vencerá, porque é muito mais fácil, penso eu, proteger as comunicações enquanto elas estão em trânsito do que forçar uma legislação em cada país do mundo para dizer que você não pode fazer isso".

COMPORTAMENTO IRRACIONAL

Snowden também foi questionado sobre o apoio do Wikileaks enquanto buscava asilo. Ele elogiou a organização por seu suporte – o grupo ajudou-o a negociar a permissão para que viajasse ao Equador, por mais que Snowden não tenha chego ao país – mas disse não ter nenhuma crítica contra outras organizações de imprensa que não se ofereceram para ajudar, dizendo que certamente se envolver não era um ato dos mais racionais.

"Às vezes esse compromisso irracional com um ideal é do que a sociedade precisa para sobreviver", declarou, mencionando que sua própria decisão de abrir mão de "uma vida maravilhosa" em um emprego bem pago no "paraíso" que é o Havaí certamente se qualificaria como comportamento irracional.

A entrevista com Snowden foi tão popular no FutureFest que o streaming do Hangout no Google foi exibido em todas as telas disponíveis, com gente sentando no chão para assistir. Aplausos ecoaram pelos salões lotados após a última pergunta – "E como você está lidando com tudo isso?" – e sua resposta. "Bizarramente, não penso mais no futuro", disse. "Antes disso tudo acontecer, eu tinha uma perspectiva muito mais voltada para o que viria à frente" comentou, referindo-se à férias, aposentadoria e o que mais aconteceria em sua vida. "Uma das coisas inesperadamente libertadoras de se tornar um fugitivo global é não se preocupar tanto com o amanhã, e sim com o hoje. E inesperadamente, gosto muito disso."

Tradução: Thiago "Índio" Silva