Imagem principal por Shaniqwa Jarvis.
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Yasmin Green: Usamos a tecnologia para resolver problemas geopolíticos, mas o que há de especial na nossa abordagem é de onde tiramos inspiração: diretamente das pessoas que estão na linha de frente de conflitos e opressão. Todos os nossos produtos começam com uma viagem de campo para entender a experiência humana e o papel da tecnologia dentro dela.Você pode falar um pouco sobre o uProxy?
É um dos projetos que estamos desenvolvendo como parte de nosso objetivo geral para acabar com a censura repressiva. É essencialmente um túnel construído através dos firewalls nacionais — as fronteiras invisíveis que os governos erguem — para que essas pessoas possam ter acesso à internet aberta. Há outros proxies por aí, mas o uProxy tem uma característica especial: é um projeto de código aberto, o que significa que qualquer pessoa no mundo pode contribuir com o código, e ele é ponto a ponto, o que significa que você ganha acesso à internet livre diretamente de alguém que conhece, como um amigo ou familiar, o que significa que ela é confiável. O uProxy é descentralizado, então não aparece em nenhum radar. É uma questão de dar acesso à internet aberta com apenas alguns cliques.
Vocês têm alguma população específica em mente?"Tiramos inspiração diretamente das pessoas que estão na linha de frente de conflitos e opressão."
Queremos construir as ferramentas para realizar uma internet que não tenha fronteiras. Hoje são três bilhões de pessoas usando a internet, e os outros três bilhões não virão do mesmo ambiente — eles não vão estar em Palo Alto, na Califórnia, por exemplo. Essas pessoas estarão em lugares onde o conflito e a repressão são severas. Então nossa função é pensar como desenvolver produtos para que esses três bilhões restantes entrem na internet, porque a vida deles está escondida sob conflito e opressão no mundo físico, mas essas ameaças também se manifestam online. Na Jigsaw temos o privilégio de levar essas perspectivas únicas para o desenvolvimento de produtos.
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Já vivi em alguns ambientes repressores, mas ser iraniana deu a esse trabalho um sentido intensamente pessoal, porque já vi o que um governo repressor pode fazer com as pessoas. E isso significa tudo. Essa repressão tem um impacto não só na capacidade de acessar informação, mas acessar cultura, se comunicar e mesmo na subsistência dos cidadãos — então é uma questão muito pessoal para mim.
Como vocês identificam que regiões visar ou que conflitos priorizar?"Acesso à informação é um direito humano fundamental, e todo mundo merece ter esse direito."
Viajamos pelo mundo todo para entender o que está acontecendo em diferentes ambientes, mas a tecnologia não conhece fronteiras, então posso ajudar a desenvolver um produto para um usuário do Irã, e se esse produto for bom, ele vai rodar o mundo. Essa é uma das coisas gratificantes em desenvolver tecnologia: você pode vê-la se espalhar.Onde a Jigsaw se encaixa nos esforços do Google para fechar a brecha digital?
Há muito trabalho em torno de dar acesso ao mundo desconectado. A pergunta que fazemos — que é igualmente importante — é o que acontece quando o acesso estiver lá. As pessoas estarão a salvo? Elas terão acesso a uma internet livre? Ou veremos o mundo offline repressor e perigoso se manifestar online também? Na Jigsaw atuamos numa função complementar, que é dar acesso livre e seguro à internet aberta.Com mais pessoas se conectando, qual a grande mudança que você espera ver?
Acho que vamos ver mudanças profundas em como a internet é usada. Veremos todos esses desafios geopolíticos antigos, como terrorismo, misturados à tecnologia e ao uso da internet, e temos que garantir que nossa resposta a essas coisas incluam a internet; ela precisa estar tanto online como offline.Qual o próximo grande desafio para a liberdade na internet?
Reconhecer que a internet é um direito humano básico. Acesso à informação é um direito humano fundamental, então todo mundo merece ter esse direito. E precisamos trazê-lo até as pessoas.Tradução: Marina SchnoorSiga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.