A 28 Dias do Evento, o Dia Internacional Contra a Copa de SP

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A 28 Dias do Evento, o Dia Internacional Contra a Copa de SP

Os protestos aconteceram simultaneamente no intitulado Dia Internacional Contra a Copa e compõem uma nova articulação dos comitês populares de cada cidade, que decidiram dialogar entre si e orquestrar em conjunto.

Vinte e oito dias antes do grande evento futebolístico da FIFA começar oficialmente, uma organização horizontal e apartidária denominada Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP) agendou uma mobilização nacional nas principais cidades do país. Os protestos aconteceram simultaneamente no intitulado Dia Internacional Contra a Copa e compõem uma nova articulação dos comitês populares de cada cidade, que decidiram dialogar entre si e orquestrar em conjunto. Salvador, Rio de Janeiro, Brasília, Vitória, Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza e São Paulo, a cidade que receberá a festa de abertura da Fifa, somavam 15 mil confirmados nas redes sociais. Sob o lema “Copa Sem Povo, Tô na Rua de Novo” o comitê listara oito reivindicações na descrição, entre elas a “criação de campanhas de combate à exploração sexual e ao tráfico de pessoas”, o “fim da violência estatal e a higienização das ruas do centro da cidade” e a “não instalação dos tribunais de exceção da FIFA”.

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Fui às ruas paulistanas munida de uma câmera e certa dose de otimismo para acompanhar o grande ato que, saindo da Praça do Ciclista na Avenida Paulista, rumaria em direção ao Estádio do Pacaembu. A concentração estava agendada para às 17h, mas desde cedo outros grupos já tinham se manifestado por suas devidas causas. O MTST, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, interditou a região próxima à Arena Corinthians com mais de dois mil participantes, entre outras áreas importantes das zonas Leste e Sul, em torno das oito horas da manhã. Outro grupo pequeno de manifestantes saiu de Interlagos em direção à Ponte do Socorro, na Zona Sul, em torno do mesmo horário. Desvinculados da questão da Copa, professores da rede pública de ensino também foram às ruas, saindo da Secretaria Municipal de Educação em torno das 15h, rumo à Prefeitura, um dos maiores protestos registrados do dia 15, mesmo que paralelo, contando com cerca de cinco mil manifestantes.

A concentração durou pouco mais de uma hora, deixando a Praça do Ciclista com cartazes e faixas depois que uma pequena apresentação teatral envolvendo futebol tivesse finalizada. Um projetor apontado para o prédio do bar Riviera, levado pelo Greenpeace, passava mensagens e reivindicações. Encontrei alguns conhecidos, entre eles, um cinegrafista da Vice US, dois integrantes dos Advogados Ativistas e alguns jornalistas. Todos estavam esperando uma passeata pacífica, sem muito estresse. Vi poucas pessoas devidamente preparadas para um eventual conflito, com capacetes ou coletes. Eu mesma nem de tênis estava.

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Logo, um grupo de feministas passou correndo e assumiu a dianteira, de braços entrelaçados como numa trança. Foram elas que guiaram as quase duas mil pessoas ali presentes pela Avenida Consolação, até que, na altura do cruzamento com a Rua Maceió, o clima pacífico que predominava se dissipou. Um grupo de encapuzados mascarados começou a investir pelo lado direito, passando pela calçada batendo nos portões fechados de algumas lojas. Nesse momento, a polícia, que acompanhava silenciosamente a passeata pelas laterais, organizada em fila indiana, achou que deveria intervir. Bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha foram distribuídas às cegas em todas as direções. Em alguns segundos, eu já não reconhecia mais aquele cenário. Pessoas corriam e latas de lixo eram queimadas formando barricadas contra a polícia.

Enquanto eu alternava entre correr e fotografar manifestantes depredando uma loja de automóveis, a tropa de choque já se posicionava na parte de baixo para recepcionar as pessoas que ainda desciam a avenida. No sentido oposto, um cordão de policiais militares descia marchando. Os poucos manifestantes que restavam naquela região corriam para as travessas e ruas paralelas, perseguidos pela força tática. Mesmo assim, o cordão de policiais, novamente organizado em fila indiana, continuava a descer a Consolação. Para mim, não ficou claro quem foram os responsáveis pela interrupção da passeata. Tudo aconteceu muito rápido e a polícia estava prontamente disposta, com carros e tropas de choque aguardando ordens, a agir com truculência para dissipar o ato. Alguns manifestantes foram detidos enquanto subiam a rua Augusta, acusados de portar coquetéis molotov. Outro grupo, que havia seguido em direção ao Estádio do Pacaembu, foi recebido por um ônibus do choque. Vinte e sete pessoas foram detidas e ao menos oito delas foram encaminhadas à delegacia de polícia.

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