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Música

Parteum, Nave, Kamau e DJ Nuts comentam a importância de David Axelrod

Compositor, produtor e arranjador californiano, cuja obra definiu caminhos para o rap mundial a partir dos anos 1990, morreu no último domingo (5) aos 83 anos.

Talvez você não conheça diretamente o trampo do compositor, produtor e arranjador David Axelrod. Mas, se você curte rap, certamente tem gravadas na memória várias passagens de sua música. Axelrod já foi sampleado uma porção de vezes por grandes nomes do rap mundial, e inspirou artistas como DJ Shadow e Wu-Tang Clan com sua pioneira fusão de elementos do jazz, soul, funk e rock. Ele morreu no último domingo (5), aos 83 anos, de causa ainda não revelada. Natural de Los Angeles, Califórnia, suas obras mais clássicas são também as primeiras: os álbuns Songs of Innocence e Songs of Experience, lançados respectivamente em 1968 e 69. Porém, ficou famoso mesmo como produtor e arranjador, áreas em que seu trabalho era mais vasto e apreciado.

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David Axelrod lançou alguns álbuns na década de 1970. No entanto, foi na década de 90 que sua arte ganhou sobrevida, ao ser redescoberto por gente como Lil Wayne, Wu-Tang Clan e DJ Shadow, nomes que o introduziram às novas gerações. Em seu Twitter, DJ Shadow postou sobre quando pediu a Axelrod para remixar a faixa do projeto UNKLE, "Rabbit in Your Headlights": "David poderia ser incrivelmente intimidador, e ele não sofria por isso… mas se ele gostasse e respeitasse você, era o mais amigo mais leal na Terra ".

No Instagram, o DJ e produtor Questlove também prestou condecorações: "Tão triste ouvir sobre a passagem do músico / compositor #DavidAxelrod. Ele estava tão imerso em criatividade e era tão puro com seus arranjos. Ele era hip hop ".

No rap nacional, um de seus admiradores é o diretor e produtor musical Nave. "Acho que para as pessoas da minha geração, que cresceram ouvindo rap sampleado, e depois tiveram interesse na arte do sampling, é quase impossível não reverenciar a obra do Axelrod", diz. "Ele está presente em tantos clássicos do rap que o coloco junto com James Brown em grau de importância pro gênero. Vale lembrar que um dos beats mais emblemáticos da história do rap é um sample dele, a 'The Next Episode', do Dr. Dre. Até a minha mãe conhece aquela guitarra."

O produtor Parteum concorda que o "Sr. David Axelrod era um dos compositores grandiosos da música americana. Compôs pra tanta gente, pra tantas mídias. Fez um trabalho incrível como A&R da Capitol Records, produziu Cannonball Adderley, Lou Rawls…". E chama atenção para suas qualidades técnicas: "Tem o jeito que ele microfonava e gravava baterias para os seus discos, o jeito como a orquestração conversava com a parte rítmica. O hip hop bebeu muito dessa fonte. Sampleando, mas prestando atenção nas texturas que ele criava."

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"O rap baseado em samples sempre bebe de fontes ricas e reapresenta músicas antigas pra novas gerações. Axelrod é uma das fontes essenciais pra todo amante da arte de samplear, como eu sou", assinala o rapper Kamau. "Com certeza foi um mestre que cumpriu seu papel como produtor, arranjador e fonte de inspiração para seus contemporâneos, discípulos e gerações que ainda virão."

E o DJ Nuts declara: "Conheci a música do David com o Brian Cross, de Los Angeles. Ele me mostrou os discos e tal, e mesmo eu sendo especializado em colecionar coisas do Brasil, é desse tipo de coisa que gosto na música norte-americana. Então arrumei alguns LPs do maestro. A primeira impressão foi a mesma de estar escutando o original de muitos raps já ouvidos na vida, e tive o entendimento de que o DJ não é musico, e, sim, pessoas como ele. É uma maravilha ver o seu trabalho sendo reativado por uma nova geração de produtores musicais e apreciadores em geral."

Produtor agraciado com o Grammy por sua atuação na Capitol Records, David Axelrod dirigiu dezenas de grandes discos de jazz, funk e soul nos anos 60 e 70 (de Stan Kenton a Lou Rawls, passando por Electric Prunes a Cannonball Adderley), além de ter forjado um distinto estilo musical ao gravar vários álbuns entre os mais excêntricos da década de 70. Seu estilo, tão inconfundível quanto raro, combinava pesados tambores cavernosos com orquestração barroca e temas à frente de seu tempo, como a preocupação com o meio-ambiente e a ampliação da consciência.

Autodidata em arranjo e produção, Axelrod começou trabalhando como produtor musical de cool jazz para selos como Specialty e Contemporary, e assumiu dois LPs em 1959 – Free for All, de Frank Rosolino; e The Fox, de Harold Land – criando uma resposta mais sólida para o então leve e arejado jazz da Costa Oeste. Em meados dos anos 60, ele se tornou famoso nos círculos de soul e jazz por suas excelentes habilidades de gravação, que podem ser notadas em dois dos melhores álbuns ao vivo da época: Live!, de Lou Rawls, e Mercy, Mercy, Mercy! Live at The Club, de Cannonball Adderley.

Ambos os artistas também contaram com o seu talento no estúdio, e Rawls se beneficiou especialmente, com não menos do que cinco hits entre 1966-67. A Capitol recompensaria um de seus produtores mais bem-sucedidos apenas um ano depois, lançando a estreia solo de Axelrod, Songs of Innocence. Inspirado na poesia visionária e mística de William Blake (assim como o seguinte Songs of Experience), o álbum soou vanguardista para aqueles tempos, combinando um melodramático trabalho de cordas a breakbeats pesados e cheios de eco – geralmente tocados pelo baterista Earl Palmer. Depois de Songs of Experience, Axelrod voltou sua atenção para as preocupações com o destino da Terra em Earth Rot, de 1970.

Quando vários grandes nomes da cena turntable (incluindo DJ Shadow) começaram a samplear os grooves de Axelrod, em meados dos anos 90, a Stateside lançou a retrospectiva 1968 to 1970: An Axelrod Anthology, em 99. Reedições de seus álbuns viriam no ano seguinte e, em 2000, Axelrod voltou ao seu Studio B para o lançamento de uma autointitulada obra pelo selo Mo' Wax. O disco, vagamente baseado em Fausto, de Goethe, tinha originalmente iniciado a produção em 1969. O último álbum a estrelar o nome de David Axelrod foi a compilação The Edge, que saiu em 2005 via Blue Note.